Valor Econômico
Fixar em 22 semanas de gestação o limite para a realização legal do aborto não leva em conta nossas peculiaridades sociais e antropológicas
A eventual aprovação pela Câmara dos
Deputados do PL 1904/2024, que define como homicídio o aborto praticado em
vítima de estupro após 22 meses de gestação, mesmo sendo ela vulnerável, poderá
introduzir na legislação penal brasileira o subentendido e a aberração de que
em determinados tipos de violência, como o estupro, a culpa é da vítima que a
sofre.
Grandes manifestações de rua, majoritariamente de mulheres, ocorreram nestes dias em cidades, como São Paulo (na avenida Paulista, superando multidões de ajuntamentos ali comuns), Natal e Porto Alegre. Os milhares de participantes manifestavam-se contra a aprovação do regime de urgência para o encaminhamento do projeto de lei.
Mesmo sendo as vítimas do abuso, como são
aqui, em 75% dos casos, pessoas vulneráveis, geralmente menores de idade e até
menores de 14 anos, poderão ficar sujeitas, se condenadas, a pena mais longa
que a de seus estupradores.
O regime de urgência dispensa etapas na
tramitação do projeto, acelerando sua votação. Ou seja, o presidente da Câmara
tem pressa em viabilizar a aprovação do projeto. Ainda que na consulta feita
através do site oficial da casa mais de 1 milhão de pessoas já tenham votado,
88% contra a aprovação do projeto.
Qual seria o interesse de Arthur Lira na
aprovação do que os manifestantes das ruas entendem ser iniquidade e violência?
Segundo levantamento do UOL, o projeto é de autoria do deputado Sóstenes
Cavalcante (PL-RJ), pastor pentecostal e seguidor das orientações políticas do
também pastor pentecostal Silas Malafaia. Este último foi e ainda é influente
nas concepções políticas de Jair Bolsonaro. Lira teria prometido colocar o tema
do aborto em discussão no plenário se tivesse o apoio da bancada evangélica à
sua reeleição na presidência da Câmara em 2023.
No projeto, o autor e os signatários mostram
que não conhecem o Brasil que supostamente representam. Fixar em 22 semanas de
gestação o limite para a realização legal do aborto não leva em conta nossas
peculiaridades sociais e antropológicas.
O crime de estupro pode ocorrer em regiões
remotas e pobres, sem vigilância social generalizada contra o incesto, comum no
estupro de vulneráveis, e sem assistência médica apropriada à realização do
aborto legal. Só 4% dos municípios brasileiros têm o serviço apropriado ao
cumprimento da lei.
Um caso ocorrido há alguns anos no interior
do Brasil, que repercutiu nos jornais, foi o de um pai viúvo que tomou a filha
mais velha como esposa e teve vários filhos e filhas com ela. Quando a neta
mais velha dessa relação chegou à adolescência, substituiu a filha por ela e a
engravidou. Gerou uma parentela estranha: era avô de seu próprio filho e acabou
bisavô de outro filho.
Por muitos anos, os vizinhos entenderam que
aquilo era normal, um direito de pai. O caso só foi detectado quando os agentes
de saúde chegaram ao lugarejo pela primeira vez e descobriram os estupros e a
incestuosidade da estrutura familiar daquele grupo.
A repressiva pauta dos costumes da extrema
direita e do bolsonarismo mobiliza nas manifestações destes dias a consciência
profunda de quem vê nela uma conspiração contra a condição humana, um projeto
de aniquilação do direito de mulheres e crianças à liberdade e ao respeito.
Significativamente, o protesto feminino e
popular indicou com muita clareza que os participantes enxergam não só a
iniquidade em si do projeto de lei condenado, mas as conexões criminosas que
ele revela nos vários âmbitos da realidade.
Não só na saúde da mulher e da criança, mas
principalmente na podridão da política, na decadência da fé que há nas
motivações materialistas e pós-modernas da multiplicação de igrejas e seitas
fundamentalistas e na decadência das igrejas protestantes tradicionais que
também as assumiram como indicação da realização nelas dos valores da parábola
dos talentos.
A facção minoritária do fundamentalismo
católico converge para o alinhamento com os evangélicos no apoio à manipulação
política da falsa questão dos costumes.
A Igreja Católica e vários grupos divergentes
nas igrejas protestantes e evangélicas convergem num ponto significativo: o
inimigo da fé é a alienação social, a corrosão e mistificação da necessidade de
esperança e da certeza de libertação na superação das adversidades que
minimizam a condição humana e a fé como instrumento de uma práxis libertadora.
O pecado social é um pecado político.
O ser humano enganado e instrumento
involuntário de sua própria enganação desta era é induzido por pastores e
políticos, da seita dos pescadores em águas turvas, a crer no inferno e se
tornar instrumento de satanás, no falso pressuposto de que Cristo veio para
aterrorizar e não para libertar.
Esse assunto só veio a público porque o STF legislando indevidamente, decidiu que seria possível retirar uma criança do ventre às cinco meses aos 22 semanas ou seja cinco meses e meio Momento em que a criança já pode nascer e viver , para isso teria que se dar uma injeção de cloreto de potássio no coração da criancinha para matá-la posteriormente retirando a. com um parto natimorto
ResponderExcluirImportante frisar que a legislação já garante o direito de aborto até essa data
Em cima dessa polêmica a CNBB , entidade máxima da Igreja Católica brasileira , decidiu em carta aberta ao povo se manifestar a favor da PL contra o aborto Após 22 semanas que está tramitando no Conselho Federal e definiu o lema:
“A mãe e a criança devem viver e terem vida em abundância “
Não é verdade. A legislação atual não estipula prazo nenhum para o aborto legal. Só esse PL insano é que quer impor limite de tempo.
ExcluirO segundo comentarista tem razão, o primeiro mentiu várias vezes no início do seu comentário! A legislação não estipula qualquer prazo para a interrupção legal de gestação, nos 3 casos estabelecidos HÁ DÉCADAS: risco de a mãe morrer, anencefalia e gravidez decorrente de estupro.
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