Correio Braziliense
Joe Biden, aos 81 anos, após perder o debate
com Trump, resiste às pressões para desistir da reeleição. Repete o roteiro dos
que não querem se retirar antes de o sol se pôr
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva completa hoje 546 dias de governo, 34 dias a menos do que o período em que esteve preso em Curitiba. São, portanto, 78 semanas, quase 18 meses e pouco menos do que um ano e meio de poder. Ao contrário de seus governos anteriores, divide o protagonismo político da nação com um Congresso conservador, que muitas vezes lhe dá uma invertida; um ex-presidente capaz de lhe fazer oposição de massas, o que antes era uma quase exclusividade do petismo; e governadores adversários — em São Paulo, Tarcísio de Freitas (PR); Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil); e Paraná, Ratinho Jr. (PSD).
A menos de 100 dias das eleições municipais,
que se caracterizam por fortes disputas locais, o que se vê é uma tendência de
polarização nas grandes cidades, protagonizada por Jair Bolsonaro, que está
inelegível e precisa manter seu poder de influência elegendo o maior número
possível de prefeitos aliados. Ao contrário, Lula pisa em ovos para não
confrontar interesses locais de aliados poderosos, o que significa abrir mão de
candidaturas petistas em muitas cidades, algumas de muita projeção nacional,
como São Paulo — onde apoia Guilherme Boulos (PSol) — e Rio de Janeiro — vai de
Eduardo Paes (PSD), o atual prefeito, que busca a reeleição. Se no âmbito
nacional a polarização o beneficia, nas eleições municipais o atrapalha.
Será inevitável um balanço geral do ambiente
político após as eleições e um ajuste de rota do governo, talvez até uma mexida
forte na equipe ministerial, o que Lula tenta evitar —, mesmo em casos como o
do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), indiciado pela
Polícia Federal (PF) por suspeita de desvio de verbas de emendas do Orçamento
da União.
Quando Lula decidir se disputará ou não a
reeleição, lá pelos mil dias de governo, um dos fatores que pesarão na balança
será o resultado das eleições presidenciais dos Estados Unidos. Não por acaso,
já manifestou apoio incondicional à reeleição do presidente Joe Biden.
As eleições americanas são para Lula o que os
manuais de planejamento estratégico chamam de externalidade, uma variável que
não depende do seu governo. Se Biden for reeleito, será positiva (oportunidade)
e o assessor especial para relações internacionais Celso Amorim poderá
continuar flertando com o antiamericanismo. Porém, será negativa (ameaça) caso
Donald Trump continue favorito e vença a eleição, porque seu apoio ao candidato
de Bolsonaro será inequívoco e ostensivo. A águia americana tem asas longas e voa
longe, mas seu rumo dependerá desse resultado.
O debate eleitoral entre Biden e Trump
mostrou que as eleições americanas representam uma ameaça para o governo Lula.
O atual presidente dos EUA, que isolou o líder russo Vladmir Putin em
praticamente todo o Ocidente e tenta conter o avanço da China na economia
global, era um homem acuado, hesitante, com falhas de raciocínio e frases
desconexas ou incompletas.
Mesmo com todas as mentiras de Trump, seu
desempenho deixou em pânico os democratas e acendeu uma luz amarela nas
chancelarias de seus aliados. Além disso, as pesquisas dão resiliente vantagem
para Trump. Lula precisa considerar esse cenário.
Fortuna e virtude
O The New York Times, em editorial, traduziu
as preocupações do establishment norte-americano: “Para servir este país, o
presidente Biden deveria deixar a corrida”. Aos 81 anos, porém, ele não jogou a
toalha e resistiu às pressões para abandonar a reeleição. Repete o roteiro dos
que não querem se retirar antes de o sol se pôr: “Sei que não sou mais um
jovem. Não caminho com tanta facilidade, não falo com tanta fluidez, não debato
tão bem quanto antes, mas sei o que sei: como dizer a verdade”, disse no dia seguinte,
na Carolina do Norte. “Dou a vocês minha palavra. Não voltaria a me candidatar
se não acreditasse, com todo o meu coração e minha alma, que posso fazer esse
trabalho”, completou.
Trump, com 78 anos, é apenas três anos mais
jovem, mas aparenta muito vigor físico e rapidez de raciocínio, ainda que minta
muito, tenha ideias estapafúrdias e agenda reacionária.
“Aquele que não sabe adaptar-se às realidades
do mundo sucumbe infalivelmente aos perigos que não soube evitar. Aquele que
não prevê a consequência dos seus atos não pode conservar os favores do
século”, diz o Grão Vizir para sua filha, a princesa Sherazade, em “O pescador
e o gênio”, do clássico da literatura árabe As mil e uma noites. A obra anônima
reúne contos populares do Oriente Médio e do Sul da Ásia, entre os quais as
histórias de Aladim e a lâmpada mágica e de Ali Baba e os 40 ladrões.
Uma vez por mês, num domingo à noite, o
ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, reúne um grupo de políticos de
diversas tendências para jantar em sua casa, entre os quais velhas raposas do
Congresso. Nessas reuniões, discute-se conjuntura e se fazem diagnósticos, que
dias depois começam a circular em conversas com outros políticos e jornalistas.
No último encontro, chegou-se a quatro
conclusões: o governo Lula lida com um Congresso rico e poderoso, que inverteu
a relação de dependência com o Executivo; seu ministério é um arquipélago
político, no qual cada ministro cuida do seu quintal; a narrativa do governo
está descolada das redes sociais, que hoje formam a opinião política da
sociedade; e o cenário internacional carrega incertezas econômicas e políticas
com as quais Lula não está sabendo lidar.
Como aquele príncipe que já não pode contar
com muita fortuna diante da mudança de conjuntura, Lula dependerá muito mais
das próprias virtudes para manter-se no poder. A propósito, O Príncipe, de
Nicolau Maquiavel, clássico dos clássicos da política e publicado em 1532, está
entre os livros mais vendidos da semana. Trata, fundamentalmente, de como
chegar, exercer e manter o poder. Vale a pena a edição comentada por Napoleão
Bonaparte e Cristina da Suécia.
"A águia americana tem asas longas e voa longe"! É certamente o mais temível e terrível PREDADOR do nosso Planeta!
ResponderExcluir"O ministério de Lula é um arquipélago político, no qual cada ministro cuida do seu quintal"! Uma maneira interessante e relativamente correta de ver o governo Lula 3. Mas que também diminui a influência/responsabilidade do PT neste governo, que seria quase restrita no máximo aos ministérios que o partido comanda!
ResponderExcluirO avanço da direita no mundo afora reflete o cansaço do povo das mentiras e autoritarismo dos governos de esquerda.
ResponderExcluirA pandemia deixou isso muito claro e acelerou a rejeição que hoje vivemos como foi observada nas recentes eleições do parlamento Europeu , onde a direita teve um avanço espetacular e a esquerda murchou Trump ganhará nos Estados Unidos e o Supremo Tribunal Federal que já está sob investigação do Congresso Americano irá sofrer grandes pressões e sanções por sua atuação na censura e ataques as liberdades do povo brasileiro Suspensão de visto americanos, negócios com empresas americanas e o bloqueio dos seus bens e ativos americanos é um golpe fatal aos magistrados e todos os envolvidos, que pode e será executado pela administração Trump
O reflexo imediato já é o recuo e autocrítica de alguns magistrados , como no caso do Edson Faccin e o ex-presidente do STF o ministro Fux
Maquiavel ainda soa atual,incrível!
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