Folha de S. Paulo
Há 'uso indevido' de isenção tributária,
disse o ministro em fevereiro e agora
Fernando
Haddad disse nesta semana que empresas estão pagando menos impostos
por meio do "uso indevido" de créditos
do PIS/Cofins. Esses créditos são imposto pago ou presumidamente pago a
mais e que as empresas podem receber de volta ou abater do pagamento de outros
tributos.
O assunto ficou meio esquecido porque a medida
provisória que pretendia limitar o uso desses créditos foi recusada pelo Senado,
entre outros motivos porque houve revolta de empresas, o que deu no tumulto
sabido.
Quando tentou acabar de vez com os benefícios
tributários para o setor de eventos (Perse), no início do ano, o
ministro da Fazenda também falou em "irregularidades".
Se há rolo da ordem de dezenas de bilhões de reais, é preciso fazer um estardalhaço com isso. Como o próprio governo diz, trata-se também de fraude contra a concorrência, de esteio de atividade criminosa, de motivo indevido para aumento de carta tributária sobre empresa honesta etc.
Daria até para apostar que há fraudes,
malandragens de planejamento tributário e interpretações erradas da lei etc.
Quando toma posse, muito governo (federal,
estadual, municipal) diz que vai arrumar dinheiro relevante combatendo rolos e
"renegociando contratos". Jamais rende grande coisa. Ou as fraudes
não são tão grandes, ou é difícil de prová-las, ou de ganhar os casos na
Justiça.
Seja como for, seria preciso apresentar um
balanço disso tudo, por justiça e para entendermos a possibilidade de
recuperação de dinheiros.
O Perse é o Programa Emergencial de Retomada
do Setor de Eventos, criado na epidemia para socorrer empresas de turismo,
cultura, feiras, esporte etc. As firmas pagariam menos imposto, por certo
tempo, prazo que em 2023 já se alongava demais.
No final de 2023, o governo deu cabo do
programa, por medida provisória. Teve de recuar, dada a revolta de empresas e
parlamentares. Em versão menor, o Perse foi renovado pelo Congresso em abril.
Em fevereiro, Haddad dissera que as
irregularidades talvez explicassem por que a conta do Perse teria ficado tão
maior e pesada para o governo. Empresas teriam fingido ser do setor de eventos
a fim de receber o benefício; haveria lavagem de dinheiro. Além do mais, houve
enorme controvérsia entre governo e setores beneficiados sobre o custo do
Perse.
Houve investigações. A Receita mandou
comunicados com orientação para a autorregularização das empresas. Mas não foi
divulgado o balanço do caso. Quanto custou, enfim, o Perse? Quanto do custo era
rolo?
No caso das compensações do PIS/Cofins, o
ministro chegou a falar de "fraude", na terça (11), mas em seguida
atenuou a acusação: "Estou chamando de fraude, mas poderia estar chamando
não necessariamente de fraude, mas de uso indevido da compensação" (isto
é, declarar créditos ilegítimos, não reconhecidos pela Receita). Tudo bem.
Haddad disse também, entretanto, que o
"uso indevido" teria tirado até R$ 25 bilhões da receita do governo.
Não ficou muito claro em quanto tempo teria sido acumulada tamanha perda, se em
um ano ou mais. É dinheiro grosso.
O ministro não pode sair por aí quebrando o
sigilo fiscal de empresas, claro. Menos ainda pode acusar alguém fora do
protocolo. Disse, porém, que apresentaria a parlamentares dados sobre o crédito
do PIS/Cofins. Logo, já pode publicar algum balanço mais organizado dessas
contas.
Na parte que restou da medida provisória do
PIS/Cofins, determina-se que as empresas declarem quanto recebem de benefícios
tributários. Bom. O governo tem dado mais publicidade sobre quem leva o quê.
Fica assim menos difícil de saber de privilégios e ineficiências das isenções
de impostos. Mas conviria que o ministro deixasse claro se há roubança e outros
rolos nos impostos. E de quanto.
Sei.
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