Folha de S. Paulo
Estudo acadêmico sugere que polarização
começa com erro de avaliação sobre posições prevalentes entre os adversários
E se a polarização política tiver origem num grande mal-entendido? Essa é a hipótese de um interessante artigo de Victoria Parker e colaboradores que circula como preprint e me foi enviado por um leitor (obrigado, Alexandre!). O título é "The Ties that Blind" ("Vínculos que Cegam"). É um artigo relativamente longo que combina os resultados de cinco estudos que avaliaram posições de democratas e republicanos nos EUA.
Resumindo bastante, os autores mostram que os
dois lados superestimam muito o grau de extremismo prevalente entre seus
adversários e isso tem consequências. Para os conservadores, democratas seriam
essencialmente um bando de "snowflakes" preguiçosos que quer acabar
com a liberdade de expressão e tirar as verbas da polícia. Já os progressistas
veem os republicanos como racistas que pretendem pôr um fim à imigração e
reduzir os gastos em educação.
As posições mais radicais são sustentadas
apenas por uma minoria em ambos os grupos. Democratas e republicanos estão
perfeitamente cientes disso quando avaliam o seu lado, mas erram grosseiramente
em suas estimativas quando aplicadas aos oponentes. Por ver os adversários como
portadores de falhas morais, militantes de cada um dos lados preferem não ter
nenhum vínculo com os do outro, o que tende a perpetuar o mal-entendido
original.
E fica ainda pior. Por julgar que os
adversários, "gente do mal", se vale de táticas antiéticas, que não
podem ficar sem resposta, os militantes tornam-se mais tolerantes em relação a
passos antiéticos de seu próprio grupo, além de silenciar sobre suas
divergências com os extremistas de sua facção, o que só eleva o nível de
radicalização.
Algo parecido pode valer para o Brasil.
Tivemos um
vislumbre disso estes dias com a pesquisa Datafolha que
mostrou que a maioria dos evangélicos paulistanos, embora vote em
Bolsonaro, mantém
posições bem menos radicais do que as do bolsonarismo raiz.
Já passou da hora de Lula e Bolsonaro marcarem um encontro e selarem a paz,ajudaria muito suavizar a tão aclamada polarização.
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