Folha de S. Paulo
Se a oposição venezuelana ganhar, toma posse?
Se tomar posse, poderá governar?
Criaturas do naipe autoritário de Donald Trump e Nicolás
Maduro só respeitam quem os enfrenta; tratam com desdém os que
os adulam.
O americano não fazia a menor questão de dar moral a Jair Bolsonaro quando ambos eram presidentes. O venezuelano fez questão de menosprezar o apreço que Luiz Inácio da Silva sempre lhe devotou ao receitar chá de camomila a quem, como Lula, tenha se assustado com as referências a "banho de sangue" e "guerra civil" em caso de derrota neste domingo (28).
Não satisfeito, ainda avalizou a
versão bolsonarista de que a eleição no Brasil foi fraudada, ao
levantar suspeita sobre a lisura do nosso sistema de votação.
Em boa hora, o Tribunal Superior Eleitoral
reagiu à mentirosa ilação do ditador ao cancelar o
envio a Caracas de dois técnicos para observar de perto a
ignomínia liberticida que, a distância, se pode perfeitamente observar.
O presidente Lula não escalou a provocação.
Foi criticado, cobrado aqui e ali por uma reação. Mas, desta vez, ao contrário
de outras ocasiões em que se submeteu a situações constrangedoras para dar
respaldo ao, agora se vê, "mui amigo", agiu com prudência.
A despeito dos vícios impostos ao processo
eleitoral, o resultado é dado como imprevisível, pois agora a oposição se
organizou e resistiu às pesadas restrições. Resistência que não puderam exercer
os milhões de cidadãos refugiados pelo mundo e impedidos de votar. Se fugiram
da miséria e da opressão, por óbvio na urna não dariam guarida ao opressor.
De nada adiantariam condenações nesta altura
dos acontecimentos; melhor mesmo esperar o que será do amanhã para se
posicionar. Queira o bom senso, contudo, que se for materializada uma vitória
fraudulenta de Maduro, o governo brasileiro não insista na fantasia de que a
eleição prova a existência de uma democracia consolidada na Venezuela,
pois aí sim ter-se-á escancarado de vez a ditadura.
Verdade.
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