segunda-feira, 22 de julho de 2024

Humberto Saccomandi - Desistência de Biden dará novo ânimo à eleição nos EUA e pode ameaçar Trump

Valor Econômico

Decisão inédita e tardia de Biden da corrida à Casa Branca joga a disputa eleitoral americana em terreno absolutamente desconhecido

presidente dos EUA, Joe Biden, desistiu neste domingo (21) de uma candidatura à reeleição que não deveria nem ter começado. As duas questões vitais para os democratas agora são: quem será o candidato presidencial e se terá chances de derrotar o republicano Donald Trump. Isso só ficará mais claro nas próximas semanas. A decisão inédita e tardia de Biden joga a disputa eleitoral americana em terreno absolutamente desconhecido.

O Partido Democrata falhou em aceitar sem oposição a disposição de Biden de, aos 81 anos, concorrer à reeleição. A questão principal não é se Biden conseguiria ganhar de Trump, como vinha sendo o argumento de muitos democratas que pediam um novo candidato. O mais importante era que o presidente muito possivelmente não teria condições físicas, e talvez nem mentais, de governar a maior potência global por mais quatro anos.

Presidir os EUA é um dos trabalhos mais árduos do mundo. E a saúde de Biden iria apenas piorar com o tempo. Desde o ano passado, pesquisas indicavam que a maioria dos americanos achava o presidente velho demais para isso.

Quem será agora o nome democrata na cédula eleitoral? A candidata natural seria a vice-presidente Kamala Harris. Ela tem o apoio de Biden, mas não decolou politicamente nos últimos quatro anos. Foi um dos vice-presidentes mais apagados da história recente dos EUA. Além disso, é mulher, negra, filha de imigrantes do sul da Ásia, esquerdista e da Califórnia. Sua taxa de aprovação vem sendo sistematicamente pior que a de Biden. Ou seja, sob qualquer ponto de vista político, Kamala seria uma candidata muito arriscada, especialmente numa eleição que os democratas descrevem como vital para o futuro da democracia nos EUA.

Nos últimos dias começou a vazar na mídia americana a ideia de um miniprocesso seletivo interno. Isso claramente visa retirar Kamala da disputa. Não há um procedimento definido para o caso de um candidato presidencial se retirar às vésperas da convenção partidária. Isso nunca aconteceu. Essa miniprimária, cujas regras ainda teriam de ser definidas, daria uma desculpa digna para o partido tirar Kamala do caminho.

Para colocar quem? Nada leva a crer que os democratas não previam a possibilidade de o presidente desistir. Chama a atenção que o primeiro debate presidencial, que implodia a candidatura Biden, ter sido antecipado em relação ao calendário normal nos EUA. Além disso, a convenção partidária democrata, que normalmente também ocorre em julho, foi marcada desta vez para agosto. Tudo isso sugere que o partido queria testar Biden o quanto antes e ter tempo para eventualmente substituí-lo. Nesse caso, o partido já deve ter feito pesquisas e avaliações internas sobre os nomes mais adequados. Segundo a mídia americana, despontam como possíveis candidatos os governadores Gretchen Whitmer (Michigan), Gavin Newsom (Califórnia), Andy Beshear (Kentucky), J.B. Pritzker (Illinois) e Josh Shapiro (Pensilvânia).

E quais são as chances de um desses derrotar Trump? É difícil avaliar ainda, pois os nomes tiveram muito menos visibilidade nacional até agora do que o ex-presidente republicano. A troca de candidato de certo modo zera a campanha presidencial. E pode energizar a base democrata.

Segundo a média das pesquisas do agregador Five Thirty Eight, Trump estava ontem 3,2 pontos à frente de Biden (antes do fatídico debate a diferença era 0,7 ponto).

As poucas pesquisas feitas nas últimas semanas com candidatos democratas alternativos colocam Trump à frente de todos. Kamala se sai um pouco melhor, mas isso é compreensível, diante da pouca projeção nacional dos governadores. O mais importante é quem tem mais margem para crescer, já que haverá menos de três meses entre a convenção democrata e as eleições.

Muito dependerá de como será o processo de escolha do novo candidato. Se for disputado, porém ordeiro, o partido poderá dar uma demonstração de democracia interna e largar bem na curta campanha eleitoral até as eleições de novembro. Se ocorrer uma guerra civil entre os democratas pela candidatura, isso deverá favorecer Trump.

Como nenhum presidente no cargo desistiu da candidatura num momento tão tardio da disputa eleitoral, o passado talvez não ilumine muito o que pode acontecer nos próximos meses. Os casos mais similares foram os dos democratas Harry Truman (em 1952) e Lyndon Johnson (em 1968). Ambos eram presidentes e desistiram de disputar a reeleição. Mas a desistência deles ocorreu no início daqueles anos, no começo das primárias (as prévias partidárias), após eles perceberam que poderiam sair derrotados. Biden desiste depois de vencer as primárias e ter a candidatura democrata nas mãos. Nos dois casos anteriores, os democratas perderam a eleição presidencial.

Mas em nenhuma dessas eleições havia um adversário como Donald Trump. A maioria dos americanos, segundo pesquisas, também não gostaria que Trump fosse candidato. Ele e Biden formavam a dupla de candidatos mais rejeitada desde que há pesquisas nos EUA.

Isso significa que, após passar meses como pedra, atacando “Sleepy Joe” (Joe, o soneca), como costuma se referir a Biden, Trump agora poderá virar vidraça. Um candidato democrata com pouca rejeição poderá atacar os pontos fracos do republicano, inclusive a sua elevada idade, 78 anos.

Para os EUA, e o resto do mundo também, a troca do candidato democrata fará bem. Será empolgante assistir a uma campanha eleitoral baseada em ideias e propostas, e não focada principalmente nos tropeços e gafes de um candidato. A história decidirá se Biden foi um presidente bom ou ruim, mas ele certamente era o candidato errado. Restará saber se a troca terá ocorrido tarde demais para salvar os democratas.

 

2 comentários:

  1. Tanta torcida pelo Partido democrata Pra no final terem que remendar uma narrativa com o Trump como um vitorioso nas eleições de norte-americanas

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  2. Deus não salvou a vida do trampo e à toa Sua vitória será a vitória do povo americano e das democracias livres ocidentais

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