Valor Econômico
Decisão inédita e tardia de Biden da corrida à Casa Branca joga a disputa eleitoral americana em terreno absolutamente desconhecido
O presidente
dos EUA, Joe Biden, desistiu neste domingo (21) de uma
candidatura à reeleição que não deveria nem ter começado. As duas questões
vitais para os democratas agora são: quem será o candidato presidencial e se
terá chances de derrotar o republicano
Donald Trump. Isso só ficará mais claro nas próximas semanas. A
decisão inédita e tardia de Biden joga a disputa eleitoral americana em terreno
absolutamente desconhecido.
O Partido Democrata falhou em aceitar sem oposição a disposição de Biden de, aos 81 anos, concorrer à reeleição. A questão principal não é se Biden conseguiria ganhar de Trump, como vinha sendo o argumento de muitos democratas que pediam um novo candidato. O mais importante era que o presidente muito possivelmente não teria condições físicas, e talvez nem mentais, de governar a maior potência global por mais quatro anos.
Presidir os EUA é um dos trabalhos mais
árduos do mundo. E a saúde de Biden iria apenas piorar com o tempo. Desde o ano
passado, pesquisas indicavam que a maioria dos americanos achava o presidente
velho demais para isso.
Quem será agora o nome democrata na cédula
eleitoral? A
candidata natural seria a vice-presidente Kamala Harris. Ela
tem o apoio de Biden, mas não decolou politicamente nos últimos quatro anos.
Foi um dos vice-presidentes mais apagados da história recente dos EUA. Além
disso, é mulher, negra, filha de imigrantes do sul da Ásia, esquerdista e da
Califórnia. Sua taxa de aprovação vem sendo sistematicamente pior que a de
Biden. Ou seja, sob qualquer ponto de vista político, Kamala seria uma
candidata muito arriscada, especialmente numa eleição que os democratas
descrevem como vital para o futuro da democracia nos EUA.
Nos últimos dias começou a vazar na mídia
americana a ideia de um miniprocesso seletivo interno. Isso claramente visa
retirar Kamala da disputa. Não há um procedimento definido para o caso de um
candidato presidencial se retirar às vésperas da convenção partidária. Isso
nunca aconteceu. Essa miniprimária, cujas regras ainda teriam de ser definidas,
daria uma desculpa digna para o partido tirar Kamala do caminho.
Para colocar quem? Nada leva a crer que os
democratas não previam a possibilidade de o presidente desistir. Chama a
atenção que o primeiro debate presidencial, que implodia a candidatura Biden,
ter sido antecipado em relação ao calendário normal nos EUA. Além disso, a
convenção partidária democrata, que normalmente também ocorre em julho, foi
marcada desta vez para agosto. Tudo isso sugere que o partido queria testar
Biden o quanto antes e ter tempo para eventualmente substituí-lo. Nesse caso, o
partido já deve ter feito pesquisas e avaliações internas sobre os nomes mais
adequados. Segundo a mídia americana, despontam como possíveis candidatos os
governadores Gretchen
Whitmer (Michigan), Gavin Newsom (Califórnia), Andy Beshear (Kentucky), J.B.
Pritzker (Illinois) e Josh Shapiro (Pensilvânia).
E quais são as chances de um desses derrotar
Trump? É difícil avaliar ainda, pois os nomes tiveram muito menos visibilidade
nacional até agora do que o ex-presidente republicano. A troca de candidato de
certo modo zera a campanha presidencial. E pode energizar a base democrata.
Segundo a média das pesquisas do
agregador Five
Thirty Eight, Trump estava ontem 3,2 pontos à frente de Biden
(antes do fatídico debate a diferença era 0,7 ponto).
As poucas pesquisas feitas nas últimas
semanas com candidatos democratas alternativos colocam Trump à frente de todos.
Kamala se sai um pouco melhor, mas isso é compreensível, diante da pouca
projeção nacional dos governadores. O mais importante é quem tem mais margem
para crescer, já que haverá menos de três meses entre a convenção democrata e
as eleições.
Muito dependerá de como será o processo de
escolha do novo candidato. Se for disputado, porém ordeiro, o partido poderá
dar uma demonstração de democracia interna e largar bem na curta campanha
eleitoral até as eleições de novembro. Se ocorrer uma guerra civil entre os
democratas pela candidatura, isso deverá favorecer Trump.
Como nenhum presidente no cargo desistiu da
candidatura num momento tão tardio da disputa eleitoral, o passado talvez não
ilumine muito o que pode acontecer nos próximos meses. Os casos mais similares
foram os dos democratas Harry
Truman (em 1952) e Lyndon Johnson (em 1968). Ambos eram
presidentes e desistiram de disputar a reeleição. Mas a desistência deles
ocorreu no início daqueles anos, no começo das primárias (as prévias
partidárias), após eles perceberam que poderiam sair derrotados. Biden desiste
depois de vencer as primárias e ter a candidatura democrata nas mãos. Nos dois
casos anteriores, os democratas perderam a eleição presidencial.
Mas em nenhuma dessas eleições havia um
adversário como Donald Trump. A maioria dos americanos, segundo pesquisas,
também não gostaria que Trump fosse candidato. Ele e Biden formavam a dupla de
candidatos mais rejeitada desde que há pesquisas nos EUA.
Isso significa que, após passar meses como
pedra, atacando “Sleepy
Joe” (Joe, o soneca), como costuma se referir a Biden,
Trump agora poderá virar vidraça. Um candidato democrata com pouca rejeição
poderá atacar os pontos fracos do republicano, inclusive a sua elevada idade,
78 anos.
Para os EUA, e o resto do mundo também, a
troca do candidato democrata fará bem. Será empolgante assistir a uma campanha
eleitoral baseada em ideias e propostas, e não focada principalmente nos
tropeços e gafes de um candidato. A história decidirá se Biden foi um
presidente bom ou ruim, mas ele certamente era o candidato errado. Restará
saber se a troca terá ocorrido tarde demais para salvar os democratas.
Tanta torcida pelo Partido democrata Pra no final terem que remendar uma narrativa com o Trump como um vitorioso nas eleições de norte-americanas
ResponderExcluirDeus não salvou a vida do trampo e à toa Sua vitória será a vitória do povo americano e das democracias livres ocidentais
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