quinta-feira, 4 de julho de 2024

Míriam Leitão - Brasil ameaçado por fogo e água

O Globo

Ministra Marina Silva conta que as ações preventivas começaram em abril no Pantanal e diz que, sem isso, a situação atual seria muito pior

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que os municípios no Pantanal que mais desmataram foram os que mais tiveram focos de incêndio. E metade foi no município de Corumbá (MS). Ela conta que o governo agiu com prevenção, do contrário o que estaria acontecendo na região seria “incomparavelmente maior”. Falou que hoje mais de 500 pessoas estão no comando das operações, a maioria na linha do fogo. E voltou a dizer que a Polícia Federal identificou os 18 pontos nos quais a tragédia se iniciou e que contra os responsáveis haverá “aquilo que a lei prevê”.

O Brasil vive a revolta dos elementos. A água que inundou o Rio Grande do Sul fez falta ao Pantanal. O fogo se espalhou antes do período natural de seca pelo bioma. A água já está secando no Rio Solimões. Por excesso ou por escassez, a água vai nos castigando como resultado do que temos causado ao meio ambiente. Ontem entrevistei a ministra Marina Silva num dia agitado em Brasília em que ela esteve em dois lançamentos do Plano Safra, e muitas reuniões sobre as emergências climáticas do Brasil.

—A gente tem que entender que a natureza é sempre mais forte que nós — alertou a ministra no meio da análise das crises.

Marina Silva tem sido criticada porque supostamente não teria realizado ações preventivas contra os incêndios no Pantanal. Ela diz que as medidas foram tomadas, sim. O que houve é que a estação de seca, que deveria ser em agosto e setembro, já está acontecendo.

— Por que não antecipou? Antecipamos sim. Em abril, nós decretamos emergência de fogo e já estávamos com equipes mobilizadas. No ano passado, fizemos o primeiro planejamento para o combate ao fogo no Pantanal. Fizemos acordo com os governos estaduais e articulamos com o Corpo de Bombeiros e com a Defesa Civil. Se não houvesse esse trabalho prévio, o que estaria acontecendo hoje seria incomparavelmente maior. A melhor forma de prevenir é não atear fogo, porque ele sempre pode sair do controle. Estamos conseguindo com toda a mobilização que fizemos, e articulados com os governadores, controlar progressivamente o fogo.

Ela repetiu que os incêndios foram causados pela ação humana. Perguntei se desta vez haverá prisão dos responsáveis e não apenas uma multa.

— Haverá aquilo que a lei prevê, porque não podemos inventar uma lei. Não podemos criar algo para punir além do que a legislação prevê. O esforço que se está fazendo é, sim, para ter punição severa. Serão punidos severamente na forma da lei. Todos têm que ficar sabendo que estamos com um sistema de vigilância altamente eficiente, tanto que identificamos.

Sobre a Amazônia, a ministra do Meio Ambiente informou que o Rio Solimões está com um nível baixo de água, indicando o segundo ano de seca. Estão sendo estudadas formas de agir preventivamente inclusive em medidas de socorro à população que poderá ter necessidade de ajuda em água e alimentos.

—O que estamos antecipando hoje não tem ainda cobertura legal. Por que eu vou estocar alimento quando ainda não tem a emergência instalada? Como vou estocar remédio, oxigênio, água potável, como é o caso da Amazônia, onde o rio Solimões já está secando com muita velocidade?

É por isso que no plano que ela preparou, e está agora na Casa Civil, a proposta é de criar uma figura jurídica nova que permita em casos de crise agir antecipadamente, e ter emergência permanente em municípios mais vulneráveis.

Sobre o Rio Grande do Sul, a ministra deu um dado importante. O Brasil tem um déficit de APPs ( áreas de preservação permanente), nas encostas e nas margens dos rios, de 10 milhões de hectares. Desse total, 700 mil hectares são nas terras gaúchas. E isso é parte do problema. Ela dimensionou o prejuízo do estado em R$ 80 bilhões. Mas alertou que o Rio Grande do Sul não pode reconstruir “do mesmo jeito”.

A ministra alertou que o Cerrado está sofrendo com um processo de perda de água. Os principais rios já perderam 19 mil metros cúbicos por segundo. Tem baixa também no lençol freático.

—No ano passado, o prejuízo em função desse retardo do regime de chuvas foi de cerca de 80 milhões de toneladas de grãos. Não é inteligente fazer a destruição da floresta. O homem legisla dizendo que pode desmatar 80% do Cerrado, mas a natureza não assimila.

Os sustos de 2024 têm nos alertado a levar a outro patamar a nossa proteção do meio ambiente e a prevenção contra os eventos extremos.

 

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