O Globo
Petistas alegam que as agências reguladoras
retiram dos ministérios e secretarias os poderes de gestão
Não é de hoje que o PT não gosta de
autarquias autônomas como o Banco Central. Ao herdar o governo dos tucanos, não
se deu bem com os dirigentes de agências reguladoras nomeados pelo governo
anterior. A ideia de órgãos reguladores autônomos é consequência da
privatização de estatais implementada pelos governos tucanos que criaram o
Plano Real, hoje festejado como o ponto de partida do que poderia ter sido uma
gestão modernizadora do Estado brasileiro, inconclusa até hoje.
Ter agências independentes dos governos foi a base da defesa dos cidadãos diante de um novo cenário que se abria com o Estado abrindo mão de administrar setores como a telefonia para passar essa tarefa ao setor privado, mas sob a supervisão de órgãos governamentais independentes. Terem comandos com mandatos desvinculados do governo é a premissa básica para o funcionamento desses órgãos, e a autonomia do Banco Central (BC) foi um desses avanços alcançados só recentemente, no governo Bolsonaro.
Desde o início, os governos petistas não se
acostumaram a essa independência, alegando que as agências reguladoras
retiravam dos ministérios e secretarias os poderes de gestão, limitando suas
ações. Foram comuns as pressões do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci,
para nomear diretores desses organismos, e vários dirigentes pediram para sair
antes mesmo do término de seus mandatos devido a essas pressões. Hoje, as
agências reguladoras nos governos petistas sofrem forte influência política, o
que debilita suas funções independentes.
Os ataques do presidente Lula ao presidente
do BC, Roberto Campos Neto, fazem parte desse comportamento petista de
considerar que a gestão independente não pode ser tão independente assim.
Quando se lembra que o primeiro presidente do BC, ainda não independente, foi
Henrique Meirelles, surpreendentemente indicado na época, é preciso ressaltar
que Lula passou o governo todo estimulando as críticas do vice-presidente José
Alencar aos juros altos do BC e chegou a armar para tirar Meirelles do banco,
convidando o economista petista Luiz Gonzaga Belluzzo para seu lugar.
A mudança só não aconteceu porque o Brasil
ganhou o grau de investimento das agências internacionais de risco, começando
pela Standard & Poor’s (S&P) e Fitch em 2008 e Moody’s em 2009. Tudo se
acabaria em 2015, com o cancelamento do aval das agências em meio à crise
econômica desencadeada no governo Dilma.
Nas críticas que faz ao presidente do BC, o
presidente Lula inclui comentários que retiram antecipadamente de seu escolhido
para substituir Roberto Campos Neto a autonomia necessária. Embora, na prática,
o fato de o novo presidente do BC ter mandato fixo retire do governo boa parte
de seu poder de pressão. Quando Lula diz que vai escolher um presidente que
conheça “o Brasil real”, e que trabalhe para o crescimento do país, está
tutelando seu escolhido, até agora, mais provavelmente, Gabriel Galípolo, indicado
pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a diretoria do banco.
Se não quiser ser mais um Alexandre Tombini,
criticado por ter sido um fiel seguidor da política econômica governista, o
sucessor de Roberto Campos Neto terá um espaço maior, pois naquela ocasião o
Banco Central ainda não era independente, nem tinha mandato fixo. Mas, do jeito
que o presidente Lula trata a presidência do BC, como se fosse um apêndice do
governo, o próximo presidente já entrará sob suspeita de ser submisso ao
Palácio do Planalto.
Ao sair de férias inesperadamente, depois de
ter viajado para a Europa para participar de seminários em Lisboa e Genebra, o
presidente do BC indicou Galípolo para substituí-lo, numa jogada política em
meio a uma crise cambial. O dólar chegou a R$ 5,70 devido às críticas de Lula e
começou a cair quando o presidente reafirmou seu compromisso com o equilíbrio
fiscal. Nada indica, porém, que essa guerra cambial retórica chegou ao fim, e
Galípolo estará à frente do BC nas próximas semanas, quando estará em jogo a
possibilidade de aumento dos juros se o mercado cambial continuar pressionando
a inflação.
Merval se mervaindo todo.
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