O Globo
Episódios nebulosos têm provocado ‘déjà- vu’
em quem acompanhou de perto escândalos das últimas gestões petistas
A ideia foi imortalizada no primeiro
governo Lula,
por sua pertinência e autoria: deveria ser criado um Ministério do “Vai dar
Merda”. A proposta vinha de Chico
Buarque, entusiasta da chegada do PT ao
poder, temeroso do desgaste que os tropeços poderiam causar ao projeto de
esquerda. Passados 18 meses de seu terceiro mandato, Lula deveria pensar
seriamente na sugestão.
Nos últimos meses, uma série de episódios nebulosos tem provocado déjà-vu em quem acompanhou de perto os escândalos das últimas gestões petistas. Primeiro, foram as acusações contra o ministro Juscelino Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Trata-se de um clássico do patrimonialismo nacional: quando era deputado, ele destinou emendas para construir estradas no Maranhão que beneficiaram propriedades suas e de sua família.
No celular do empreiteiro responsável pela
obra, a Polícia
Federal identificou uma troca de mensagens em que Juscelino pede ao
empresário que realize depósitos para terceiros, e este responde com os
comprovantes dos repasses. Numa conversa paralela, o empreiteiro diz que o
valor seria descontado da obra de pavimentação. Apesar dos indícios, Lula optou
por não demitir o aliado.
O caso de Juscelino é apenas o mais avançado.
Em meio à tragédia do Rio Grande do
Sul, o governo decidiu importar 263 mil toneladas de arroz. O leilão foi
vencido por empresas que faziam de tudo, menos trabalhar com o cereal — eram de
locação de veículos, produção de queijos e polpas de fruta. As vendas seriam
parcialmente intermediadas por companhias de um ex-assessor do secretário de
Política Agrícola do governo federal. Foi preciso o escândalo dominar as redes
sociais para o Planalto cancelar a
Não foi a única movimentação nebulosa
envolvendo a tragédia gaúcha. No último domingo, o colunista do GLOBO Lauro
Jardim revelou que um grão-petista, o ex-presidente da Câmara Marco
Maia, tem visitado prefeituras sugerindo a contratação de certas empresas para
tocar obras emergenciais. Ele integra a equipe de Paulo Pimenta na
Secretaria de Reconstrução do RS. Maia foi alvo de delações na Operação
Lava-Jato, e seu processo foi arquivado por falta de provas.
O grupo dos reabilitados da Lava-Jato que
voltaram a flanar em Brasília é
grande. Os irmãos Joesley e Wesley
Batista, que de investigados se converteram em bombásticos delatores, estão
com tudo. Semanas atrás, chamaram a atenção por um lance intrigante.
Arremataram, por R$ 4,7 bilhões, 12 usinas térmicas da Eletrobras na
região amazônica. Elas estavam à venda havia um ano, mas não despertavam
interesse de nenhum grupo. O motivo: a principal cliente delas é a
distribuidora Amazonas Energia, que está inadimplente, com dívida acumulada de
R$ 9 bilhões. O mercado só compreendeu a decisão dois dias depois, quando o
governo editou uma Medida Provisória para socorrer a Amazonas Energia, cobrindo
os pagamentos que ela deveria fazer às usinas recém-compradas pelos Batistas.
Os custos da operação serão pagos por todos os consumidores.
Até mesmo a Secretaria de Comunicação da
Presidência, que deveria trabalhar para melhorar a imagem do governo, passou a
desgastá-la. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União identificou
indícios de “graves irregularidades” na licitação que contratou quatro empresas
de assessoria e gestão de redes sociais. O resultado do pregão, com gastos de
até R$ 197,7 milhões, era conhecido antes da abertura dos envelopes.
Os seguidos escândalos que atingiram os
governos Lula e Dilma foram o principal motor do antipetismo que viceja no
país. Ainda que Lula evite o tema, passar a impressão de que há preocupação com
o combate à corrupção é importante para um pedaço do eleitorado que o apoiou em
2022 e foi determinante para derrotar Bolsonaro. A onda recente de casos
heterodoxos mostra que, se nada for feito, o governo terá apostado mais na
sorte que na sensatez para não ser atingido por um grave escândalo. Depois, não
adianta culpar o juiz.
*Paulo Celso Pereira é editor executivo do
GLOBO
Não adianta tapar o sol com a peneira, o Lula é assim e o PT Nunca não foi diferente Condenados na lava jato hoje estão no governo , fazem pose de gente honesta e preocupada com o país, pura lorota a prática é outra
ResponderExcluirO jornalista está preocupado coitado, os escândalos estão só começando e muitos ainda estão por ser descobertos
O Lula com seu instinto de jararaca está novamente com a chave do cofre do Brasil na mão , querer honestidade dele é igual querer que a cobra seja mansa não venenosa