Folha de S. Paulo
Derrotada na eleição, ultradireita do Reino
Unido tenta tirar proveito de um espetáculo de racismo
A extrema
direita foi às ruas no Reino Unido para propagar uma onda de
ódio contra imigrantes. O bando espalhou medo e fúria, mas não fez muito
sucesso. Depois de invadir abrigos, incendiar carros e agredir policiais, a
turma despertou grandes atos antirracistas que, na prática, frearam os ataques.
A maioria da população condenou a violência.
Mesmo assim, os políticos que usam a xenofobia como língua corrente não acharam que era o caso de voltar para a toca. O desprezível Nigel Farage tentou convencer o público de que repudia a violência, mas aproveitou para dizer que os protestos exigiam uma iniciativa urgente para conter a imigração.
A ação política da extrema direita é uma aula
do jogo baixo que é possível fazer para contaminar o debate público. Partido
anti-imigração por natureza, o Reform UK
de Farage foi derrotado na última eleição do Reino Unido e
ficou com 1% das cadeiras do Parlamento. A legenda, no entanto, tenta explorar
os ataques para fazer valer suas preferências.
A manipulação de rancores não é uma tarefa
difícil quando ocorre num ambiente inflamável. No Reino Unido, grupos
extremistas estimularam a
perseguição a imigrantes depois que informações falsas nas
redes deram conta de que um imigrante em situação ilegal teria sido o
responsável por assassinar três crianças na cidade de Southport.
A ultradireita conhece bem esse território.
Ainda que 85% da população tenha rejeitado protestos violentos, 42% dos britânicos disseram ao YouGov que as
manifestações que ocorreram de forma pacífica eram justificadas —ainda que
tenham sido convocadas por radicais, a partir de um estopim xenofóbico e
mentiroso.
A violência pode até ser condenada, mas o
espetáculo que ela produz é capaz de ampliar o alcance de um assunto e até
amplificar a adesão à retórica de grupos que, em tempos de calmaria, são vistos
como radicais. Em certos casos, com alguma boa vontade coletiva, essa mudança é
suficiente para que mais gente passe a considerá-los normais.
Pois é.
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