Folha de S. Paulo
Nova biografia de rei macedônio recorre a
fontes orientais e à arqueologia
Você sabe que vive tempos interessantes
quando até o passado se torna incerto. Avanços no campo da arqueologia, da
antropologia e até da linguística vêm fazendo com que a história,
particularmente a de períodos mais antigos, passe por uma pequena revolução. O
best seller "O Despertar de Tudo", de David Graeber e David Wengrow, é talvez o melhor exemplo disso, mas nem de
longe um caso isolado.
Esse movimento de ampliação das fontes de pesquisa afeta até biografias. Acaba de sair "Alexander at the End of the World", de Rachel Kousser.
A vida de Alexandre,
o Grande, fascina terráqueos há 24 séculos. Inúmeras biografias do
rei macedônio já foram escritas. O que distingue a de Kousser de outras é que,
embora a autora não dispense as fontes gregas e romanas clássicas, como Arriano
e Plutarco, recorre também a escritos orientais (em acádio e aramaico), além de
achados arqueológicos.
Outro traço distintivo da biografia de
Kousser é que a autora se centra nos sete últimos anos da vida de Alexandre, da
destruição de Persépolis em 330 a.C. até 323 a.C., um período ao qual biógrafos
anteriores não deram tanta atenção.
Uma das teses de Kousser é que o poder
transformou Alexandre. Não que ele tenha um dia deixado de ser o general
impetuoso, megalomaníaco e que combinava gestos de misericórdia com lances de
crueldade. Mas, à medida que foi avançando para o Leste e passando por
batalhas, insurreições e motins, percebeu que a única forma de administrar um
império tão vasto era recorrer a um exército e a uma burocracia multiculturais,
no que se tornou uma das primeiras experiências do mundo com a globalização.
Kousser é cuidadosa. Alerta-nos para não
confundir o multiculturalismo atual com o de Alexandre, que era essencialmente
instrumental e sem elucubrações filosóficas. Vale notar que os sucessos do
general foram efêmeros. O império se desmilinguiu logo depois que ele morreu.
Artigo curto e direto.
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