O Globo
Desistência de Joe Biden secou o favoritismo
de Donald Trump
A desistência de Joe Biden secou
o favoritismo de Donald Trump.
Na hora da Convenção Democrata destinada a oficializar o nome de Kamala Harris,
o resultado da eleição nos Estados
Unidos torna-se imprevisível. Hoje, há apenas uma certeza: no
dia seguinte, um dos dois grandes partidos americanos ingressará em crise
profunda — e terá de se reinventar.
Em tempos normais, a derrota faz parte do jogo. Os Estados Unidos, porém, atravessam tempos anormais. Um triunfo de Trump, afirmam os democratas, representaria um catastrófico golpe no equilíbrio de poderes que sustenta a democracia americana. O Partido Democrata não tem o direito de perder.
A vitória democrata seria, em tese, o
desfecho lógico. Nos Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial, os dois
partidos sempre governaram por mais de um mandato, com as solitárias exceções
do democrata Jimmy Carter (1977-1981) e do próprio Trump (2017-2021). Perder
para este último, figura que nunca atingiu aprovação popular de 50% e tentou
reverter o veredito das urnas em 2020, configuraria um atestado de falência
política.
Uma hipotética derrota democrata derivaria da
reedição do desmoronamento da “Muralha Azul”, composta pelos estados
pós-industriais de Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, que destruiu as
esperanças de Hillary Clinton em 2016. O atual Cinturão da Ferrugem, bastião
historicamente democrata do movimento sindical, voltou a ser azul em 2020,
alçando Biden à Casa Branca. Um segundo fracasso na região confirmaria a
acusação republicana de que os democratas converteram-se no “partido das
elites”.
A responsabilidade é dos democratas. A partir
de sua ala esquerda, o partido coloriu-se com os tons da política identitária.
No lugar do povo, escolheu dirigir-se a “minorias” de raça, gênero ou
orientação sexual. Há pouco, no rastro dos protestos contra o assassinato de
George Floyd, expoentes democratas ecoaram o lema de desfinanciar a polícia,
uma bandeira radical do Black Lives Matter que fornece vasta munição à campanha
republicana.
Pesquisas extensivas atestam a falência da
estratégia identitária emanada da militância acadêmica. A rejeição
disseminou-se não só na classe trabalhadora branca, mas também entre os
hispânicos e em parcelas crescentes do eleitorado negro. Se Trump vencer, os
democratas precisarão jogar fora a pesada bagagem ideológica e reaprender a
falar a língua franca da cidadania.
Na alternativa da derrota, o Partido
Republicano enfrentará um dilema diferente. Ao longo de oito anos, Trump
destruiu o antigo partido moderado e conservador, substituindo-o por uma
máquina política nacional-populista que contesta as instituições democráticas.
A seleção de J.D. Vance para o posto de vice
concluiu um percurso de expurgos, desaguando na subordinação dos republicanos
às fantasias de um líder incontestável. O conservadorismo solar e
internacionalista de Ronald Reagan cedeu ao reacionarismo sombrio e
isolacionista de Trump. O partido transformou-se num culto, borrando os limites
que separavam a direita tradicional da extrema direita.
As plataformas de democratas e republicanos
coincidem no neonacionalismo econômico, embora divirjam nos mecanismos
destinados a proteger a indústria dos Estados Unidos da concorrência global.
Configurou-se, também, forte consenso bipartidário sobre a rivalidade com a
China, redefinida como inimigo estratégico.
Mas o “partido de Trump” distingue-se, em
política externa, pelo desprezo à aliança com as democracias europeias e, na
política doméstica, pela hostilidade aos direitos civis e aos contrapesos que
limitam o poder presidencial. Num novo mandato, Trump promete, de um lado,
inflacionar as prerrogativas da Casa Branca e, de outro, ceder às legislaturas
estaduais o arbítrio sobre o aborto, as uniões homoafetivas e o exercício do
direito de voto.
Se a insurreição reacionária fracassar nas
urnas, a “era Trump” terá chegado ao fim, deixando pelo caminho os destroços de
um partido que renegou seu passado. Então os republicanos precisarão reler os
livros antigos e adquirir a coragem para repudiar o líder que os arruinou. Não
é pouco o que estará em jogo no quinto dia de novembro.
"Não é pouco o que estará em jogo no quinto dia de novembro." Não só para a América...
ResponderExcluirkkkkkkkk! O colunista metido a futurólogo considera "imprevisível" o resultado. Realmente está cada vez mais incompetente e medroso. Mas vai poder dizer que acertou em mais uma análise ou "previsão"...
ResponderExcluirQuero ver qual colunista vai falar do programa econômica da Kamila, que basicamente fala em congelamento de preços pra acabar com a inflação....
ResponderExcluirO terceiro anônimo acima realmente não sabe do que está falando. Nem o colunista falou tamanha besteira!
ResponderExcluirJesus!
ResponderExcluirAnonimo chamando os outros de medroso é fascinante! MAM
ResponderExcluirTodo anônimo é um poltrão; mas, aqui, o da direita também é analfabeto. O nome dela é Kamala. MAM
ResponderExcluirO anônimo à direita, além de poltrão, é mentiroso, pois nem Demetrio escreveu, nem Harris falou em congelamentos. . MAM
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