Folha de S. Paulo
Acuado pelo Congresso, Lula se escora em
decisões do Supremo para atuar
Foi preciso uma decisão do
Supremo Tribunal Federal para que, escorado nela, o presidente
da República dissesse o que pensa do avanço do Congresso
Nacional sobre o Orçamento da União. "Uma
loucura" , assentou corretamente, pois é realmente
despropositado o fato de as emendas parlamentares representarem quase 24% do
bolo orçamentário.
Mas é também fora de esquadro a demora do Lula presidente em constatar o que o candidato do PT já havia externado na campanha, quando apontou o absurdo da sistemática no manejo daqueles recursos. À época prometeu dar um jeito na desordem, mediante tratativas com o Parlamento.
Na prática, em um ano e meio de governo Lula
fez vista grossa à continuidade da metodologia repaginada do orçamento secreto
vetado pelo STF em
2022. Compreende-se a razão: desvantagem na correlação de forças entre
Executivo e Legislativo.
Não se justifica, porém, tal inércia num
político tido como um ás no exercício do convencimento e autoproclamado como o
mais experiente dos governantes, à exceção de Dom Pedro 2º e Getúlio Vargas.
A única explicação é que o presidente tem
medo de um Parlamento diante do qual suas celebradas qualidades de articulador
são insuficientes.
Não é o único a pisar em ovos. Em recente
entrevista, o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas,
qualificou os abusos como um "descuido" do Congresso. Ali não há
distração. Há, sim, foco total nos interesses de suas altezas.
O uso do Supremo como muro de arrimo ocorreu
também no caso da desoneração das folhas de pagamento, quando o Planalto se
escorou em liminar do ministro Cristiano
Zanin para obter um trunfo na mesa de negociações com os
congressistas.
O STF também procura amenizar os efeitos de suas decisões, defendendo negociação em torno da exigência de nitidez no trato das emendas. É de se perguntar como poderia o conceito de transparência abrigar o sentido de meio-termo.
Pois é.
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