Folha de S. Paulo
Legalização do jogo é bem-vinda, mas Brasil
foi rápido demais ao liberar publicidade de bets
Sempre defendi a legalização das drogas,
mas não gostaria de ver o horário nobre da TV tomado por comerciais de cocaína.
O dilema das autoridades quando regulam produtos potencialmente
viciantes é encontrar um balanço razoável entre a liberdade
individual e a saúde pública.
A Lei Seca adotada nos EUA nos anos 1920 e 1930 do século passado e a chamada guerra às drogas ainda em vigor na maior parte do mundo nos ensinaram que a proibição não é a resposta. O veto ao consumo não resolve o problema do abuso e constitui uma limitação injustificável à agência humana. Afinal, é possível beber e usar drogas de forma não patológica.
Daí não decorre que precisemos aceitar todo e
qualquer estímulo adicional a essas atividades, que já exploram um lado frágil
da arquitetura de nossos cérebros. O desafio é permitir o uso sem patrocinar
uma explosão no consumo e, por conseguinte, no universo das pessoas que
experimentam problemas e dependência.
O jogo foi liberado no Brasil, medida que por
coerência aplaudo, mas deixaram a publicidade das casas de aposta correr solta.
Isso explica ao menos parte dos resultados,
que vão se tornando mensuráveis. Reportagem da Folha mostrou que os brasileiros
perderam R$ 23,9 bilhões entre junho de 2023 e o mesmo mês
deste ano e que cerca de um terço dos
apostadores habituais está endividado. O público que faz bets é
predominantemente jovem (46% têm entre 19 e 29 anos) e a procura por tratamento
para a ludomania explodiu.
Acho que ignoramos o princípio da cautela.
Antes de liberar a publicidade, deveríamos ter tateado o terreno. A possibilidade
de restrição da propaganda de produtos nocivos à saúde está
prevista na Constituição (art. 220), é aplicada regularmente em relação ao
fumo, ao álcool e a remédios e não penso que isso fira mortalmente o princípio
da liberdade de expressão. Defender uma ideia é diferente de incitar a uma
conduta.
Ainda está em tempo de mudar.
" Sempre defendi a legalização das drogas, mas não gostaria de ver o horário nobre da TV tomado por comerciais de cocaína. "
ResponderExcluir😅😅😅
Concordo com ele.
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