Folha de S. Paulo
Projeto 2025 indica um eventual segundo mandato ainda mais centralizador
Após a decisão do presidente Joe Biden de abandonar a
corrida presidencial, anunciada em 21 de julho, todos os olhos se
voltaram para Kamala Harris.
Por um momento, o republicano Donald Trump foi
deixado de lado. Mesmo a poderosa imagem do ex-presidente levantando-se
após quase ser morto em um atentado cedeu espaço aos discursos,
aos sorrisos e à aparente vitalidade da vice-presidente e atual candidata
democrata.
Biden era alvo fácil, e sua desistência desorganizou a estratégia trumpista. Trump está perdido em seus ataques contra Kamala, ora acusando-a de manipular sua ascendência negra para ganhar votos, ora sugerindo que ela irá banir o consumo de canudos plásticos e carne vermelha (!). Suas declarações, claro, oscilam entre o preconceito aberto, a caricatura desonesta e a mentira absoluta.
Mas há um lado particularmente preocupante na
ofensiva republicana. Trump e seus aliados têm sido cada vez mais enfáticos na
promessa de um projeto abertamente autoritário, caso sejam eleitos. Eles querem
consolidar na cabeça do eleitor republicano a ideia de que somente uma ditadura
será capaz de neutralizar a "ameaça
woke", que ameaça Deus, a nação americana e a família
tradicional.
Vejamos, por exemplo, o que Trump disse em um
comício na Flórida, semanas atrás, promovido pela Turning Point Action
—associação cristã ultraconservadora conhecida, entre outras coisas, por manter
uma lista de professores "esquerdistas" em universidades
norte-americanas: "Cristãos, saiam e votem! Somente desta vez (...) depois
consertaremos isso. Vocês não terão mais que votar, meus lindos cristãos".
Mesmo quem faça uma leitura generosa da fala de Trump deverá admitir que
"não ter mais que votar" deixa pouco espaço para interpretação. Ou
ele está presumindo que as instituições estarão dominadas a ponto de assegurar
vitórias sucessivas aos republicanos, ou está sugerindo que não haverá mais
eleições.
Em ambos os casos, fica claro que sua
plataforma nacionalista-cristã, fenômeno sobre o qual já
escrevi nesta Folha ("Bolsonarismo e Talibã são
expressões do fenômeno do nacionalismo religioso", 24/8/21) não comporta a
diversidade ou a competição eleitoral.
Uma reforma profunda do Estado está na base
do chamado
Projeto 2025. Encabeçado pela Heritage Foundation, organização
alinhada às alas mais radicais do Partido
Republicano, o documento de 922 páginas propõe o desmantelamento
das carreiras da burocracia federal, a substituição de servidores por figuras leais a Trump e a
imposição unilateral de políticas orientadas por valores cristãos.
Digo unilateral porque um dos fundamentos
jurídicos do Projeto 2025 é a chamada "teoria do Executivo unitário",
doutrina controversa que defende o controle absoluto do presidente sobre o
funcionamento do serviço público e a implementação de leis. A tese é
minoritária e polêmica, mas ganhou força nos círculos mais próximos de Trump,
que defendem um segundo mandato muito mais centralizador que o primeiro.
E embora a campanha republicana tenha buscado
se distanciar do documento, o envolvimento de assessores diretos do
ex-presidente em sua formulação indica que se trata, sim, de uma espécie de
manual de instruções para um próximo governo —e que está disponível na internet
para quem quiser se aventurar.
Por algum tempo, os democratas tentaram usar
o Projeto 2025 para atacar a candidatura trumpista, mas sem sucesso. Afinal, é
muito difícil trabalhar no plano abstrato da "ameaça à democracia"
para angariar eleitores ou tirar votos do adversário. Kamala e seu candidato
a vice, Tim Walz, entenderam que é mais eficiente chamar Trump e
seus amigos de "esquisitos" ("weird") do que de
"autoritários".
Talvez os democratas estejam certos. Mas não
podemos perder de vista que temos um esquisitão com chances reais de voltar à
Casa Branca no ano que vem. Um esquisitão que já falou em
"banho de sangue" caso perca as eleições. Um esquisitão
que, caso ganhe, não terá medo de usar todos os recursos disponíveis para
permanecer no poder de uma vez por todas —e cujos próximos passos servirão de
inspiração para projetos igualmente tresloucados no nosso canto do mundo.
Comprar Bolsonaro ao Taliba e dizer que Trump vai dar um banho de sangue , a lá maduro, se perder eleição e má fé demais
ResponderExcluirA esquerda jornalística está apelando Isso significa que estão com medo e usando sempre mentira como propaganda
Senhor jornalista , você é uma vergonha pra sua classe
Depois de perder a eleição e iniciar o cumprimento das penas, o CRIMINOSO CONDENADO Trump vai voltar a ser apenas o que sempre foi, um BANDIDO mentiroso.
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