Valor Econômico
Momento das denúncias é mais eloquente do que o conteúdo até aqui divulgado
A reportagem de Glenn Greenwald e Fabio
Serapião sobre o uso que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de
Moraes fez do poder de polícia do Tribunal Superior Eleitoral quando o presidia
trouxe à tona personagens e diálogos de um enredo conhecido, de métodos
controversos, mas lícitos.
Já se sabia que esses diálogos existiam desde
que Eduardo Tagliaferro, ex-perito criminal do TSE, foi preso por agressão à
mulher em maio, em São Paulo. Frustrado na expectativa de ser ajudado por
ministro que já foi secretário de Segurança paulista, Tagliaferro também foi
demitido um mês antes de Moraes deixar a presidência do TSE.
O momento em que o arsenal do ex-perito vem à
tona é mais eloquente do que o conteúdo até aqui divulgado. Menos de 24 horas
depois, deu-se nova exibição da mediocridade histriônica de Pablo Marçal, no
debate de “O Estado de S.Paulo” com candidatos à prefeitura da capital.
Marçal está a negócios na disputa. Com os cortes dos ataques, tem multiplicado seus seguidores nas redes, que se iniciaram com o marketing da pilantragem (“aprenda inglês dormindo”) e se firmaram em comunidades de extrema direita afeitas a armas e a discurso de ódio contra mulheres. Além de investir nos negócios que duplicaram seu patrimônio em um ano, mantém mobilizada a comunidade bolsonarista raiz.
Apesar de o ex-presidente apoiar formalmente
outro candidato, o prefeito Ricardo Nunes, é Marçal quem atiça sua base para
que possa ser mobilizada em momentos como este, de ofensiva contra o alvo
número 1 do bolsonarismo. A nacionalização da campanha é diferente daquela
imaginada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marçal não teria como fazer tão bons negócios
nem prestar serviços ao bolsonarismo se uma legislação efetiva contra notícias
falsas já tivesse sido aprovada. A extrema direita no Congresso pressiona
contra sua aprovação e o Centrão cede a seus caprichos porque deles faz uso.
Moraes milita por esta lei, mas inexiste meio
de campo capaz de negociar sua aprovação em troca da conclusão dos três
inquéritos que dirige, das “fake news”, milícias digitais e tentativa de golpe,
e que lhe proporcionam concentração de poder inaudita.
O primeiro, também chamado de inquérito do
“fim do mundo”, já tem cinco anos. A prorrogação tem sido justificada pelo
fracasso em institucionalizar o combate às notícias falsas com uma lei. Na
presença do inquérito e na ausência da lei, surge Marçal.
Enquanto o candidato do PRTB aloprava no
debate, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado derrubava trecho de
decreto presidencial que proibia a instalação de clubes de tiro a menos de um
quilômetro de escolas - outra demonstração de força do bolsonarismo do momento.
Moraes não parecia desconhecer seus excessos.
O recuo dos últimos meses ganhou tração com a soltura do ex-diretor geral da
Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e do ex-assessor de Bolsonaro
Felipe Martins. Não adiantou. Até porque a roda não parou de girar.
A reportagem já estava no ar quando o
ministro autorizou o bloqueio das redes sociais do senador Marcos do Val
(Podemos-ES) e de sua conta bancária. O senador fez publicações contra delegado
da Polícia Federal executor de ordens emanadas do inquérito do 8 de Janeiro. Do
Val ainda publicou vídeos de crianças criticando o delegado. As crianças são
filhas do blogueiro Oswaldo Eustáquio, que moram em Brasília. O blogueiro, que
está foragido na Espanha, teve prisão determinada por Moraes.
Na manhã desta quarta-feira, Do Val lançou-se
candidato à presidência do Senado tendo por bandeira o impeachment de Moraes,
que acabou de ganhar outro pedido, do senador Eduardo Girão (PL-CE). O
bolsonarismo não tem os 54 votos para isso, nesta legislatura. A candidatura,
nesse clima de acirramento com o STF, é água no moinho favorito, o do senador
Davi Alcolumbre (União-AP).
Para conter as pretensões bolsonaristas à
mesa, o presidente da CCJ do Senado se enche de argumentos para arrancar mais
concessões do Executivo aos seus feudos. Se Alcolumbre e o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pretendiam se valer da investida contra Moraes
para conter a ação do STF contra a opacidade das emendas parlamentares, o
ministro Flávio Dino resolveu dobrar a aposta. A Corte que começa a votar nesta
sexta a decisão liminar de Dino contra as “emendas Pix” foi surpreendida nesta
quarta com outra decisão do ministro suspendendo todas as emendas impositivas.
Também na sexta-feira finda o prazo para o
procurador-geral da República, Paulo Gonet, decidir se vai denunciar Bolsonaro
pela muamba das joias sauditas. A primeira pressão sobre a PGR veio da
dobradinha Centrão/bolsonarismo no TCU que a equiparou ao relógio doado a Lula
pelo governo francês. A reportagem da “Folha de S.Paulo” redobra a pressão.
E, finalmente, a ofensiva sobre Moraes se dá
numa conjuntura de faxina no Judiciário contra a venda de sentenças envolvendo
juízes, desembargadores e até ministros de tribunais superiores, em processos
que arrolam próceres do crime organizado. Pelo menos um integrante do STJ já
recebeu memorandos em defesa de traficantes das mãos de advogados que foram
levados a seu gabinete por parlamentares.
As operações acontecem em momento de acirrada
divisão do STF. A trinca formada por Moraes, Dino e Gilmar Mendes enfrenta
Nunes Marques, nomeado por Bolsonaro, na indicação para as vagas de tribunais.
Em abril, Nunes Marques mandou tirar a tornozeleira eletrônica de Rogério
Andrade, acusado de chefiar a organização criminosa do jogo do bicho no Rio.
Dois pontos :
ResponderExcluir• Briga de cachorro grande.
Nosso atual congresso parece ser um dos piores da História.
• Sobre as chamadas " fake news " e a necessidade de uma regulamentação específica sobre o tema, sugiro a leitura do artigo " Estamos desinformando sobre a desinformação? " , de Olavo Amaral, no Nexo.
" Exterminar todas as mentiras do mundo é impossível. Entrar na guerrilha de informação nas redes sociais com uma gritaria de vozes independentes tampouco funciona – podemos falar o quanto quisermos, mas as pessoas ainda vão escolher em quem acreditar. E a ideia de que conseguiremos “treinar as pessoas para distinguir ciência de pseudociência” pode dar certo em questões como o formato do planeta Terra. Mas para qualquer coisa mais complexa, é praticamente impossível para o cidadão médio “formar sua própria opinião” de forma consistente – não só por falta de formação, mas por falta de tempo e paciência. Eu mesmo só acredito que o aquecimento global é antropogênico porque me contaram, e porque o consenso parece vir de instituições nas quais eu aprendi a confiar. Posso ter faculdade e doutorado nas costas, mas avaliar evidência em algo fora da minha área de expertise com um emprego em tempo integral e três crianças pra criar é simplesmente impensável. "
😏😏😏
Tagliaferro - perito criminal ou perito criminoso?
ResponderExcluirO Pantanal pegando fogo, Brasília pegando fogo, o Congresso em polvorosa contra o ministro Dino... Só os criminosos continuam se dando bem por aqui!
ResponderExcluirUma barafunda criminal,herança do bolsonarismo,que só piorou o que já era ruim,rs..
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