sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Vera Magalhães - Eleição de SP vira teste de fórmulas

O Globo

Campanhas de adversários de Pablo Marçal passaram a operar sem aparelhos, revendo estratégias minuto a minuto

Pablo Marçal continua embaralhando o jogo e distribuindo as cartas na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Recentemente, escrevi neste espaço a respeito da chegada “pé na porta” do ex-coach à campanha paulistana e de como, a despeito da recorrência dos candidatos antipolítica em sucessivas eleições, a aparição causou perplexidade nos adversários. Não deu outra: menos de dez dias depois, o candidato do PRTB ascendeu à liderança na pesquisa Datafolha, em tríplice empate com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). E agora?

Ninguém sabe, a verdade é essa. As campanhas adversárias às do influenciador passaram a operar sem aparelhos, revendo estratégias minuto a minuto e se fiando em postulados que vigoraram por muito tempo nos manuais de marketing político, mas que, francamente, terão de ser testados de novo para se mostrar válidos em 2024.

Afinal, a primeira decisão reativa a Marçal — três oponentes esvaziarem um debate — foi bem-sucedida? Vai se manter de agora em diante, dada a indefinição quanto às duas vagas no segundo turno? A princípio, as campanhas de Nunes e Boulos tendem a manter a ideia de não comparecer a debates considerados de pouca audiência, que rendam mais repercussão nas redes de Marçal, com os recortes que ele produz, do que na exibição integral nos canais dos promotores. Mantida essa avaliação, sobreviveriam os debates das grandes emissoras de TV aberta, e, mesmo assim, talvez não todos. Só o debate da TV Globo, que encerra a campanha, está 100% garantido.

E o horário eleitoral? Ainda terá o peso de sempre para definir favoritos e provocar reviravoltas nas pesquisas? Esse é um dos grandes testes desta eleição. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, essa importância já vem sendo relativizada. Marçal dobrou a aposta: seu partido nem representação no Congresso tem.

E sua escalada no Datafolha foi de 7 pontos na pesquisa estimulada e também na espontânea. Quanto disso foi provocado pelo debate da Band em si (e, portanto, da mídia tradicional) e quanto se deveu ao tipo de impulsionamento que ele obtém nas redes sociais, expediente que tem gerado questionamentos na Justiça e pode, no limite, custar o registro de sua candidatura?

A esperança da equipe de comunicação dos demais candidatos é que pesquisas apontando a TV como meio mais influente para definir votos ainda estejam válidas e não tenham caducado na velocidade das redes sociais. Nesse aspecto, Nunes tem o maior tempo no horário eleitoral e, como é o mais ameaçado pela ascensão de Marçal, deverá usar parte desse arsenal para tentar desconstruí-lo.

Isso, por si só, já é a quebra de um axioma das campanhas raiz: quem é incumbente tem de mostrar o que fez, e não apostar em ataques aos adversários. Quando a água começa a subir, as máximas têm de ser relativizadas.

Outro pilar das análises políticas abalado pelo tumulto da largada em São Paulo é o peso dos padrinhos para definição de votos. Nesse aspecto, o surgimento de um novo candidato antissistema não parece ser um trunfo para Jair Bolsonaro, que pretende fazer dessas eleições municipais um tira-teima entre ele e Lula. 

Isso porque Marçal chegou fazendo a rapa nos votos do ex-presidente sem precisar de seu aval. Pelo contrário: os últimos dias foram marcados pela subida de tom dos ataques da família Bolsonaro ao influenciador. E por quê? Certamente não é por amor a Nunes, com quem o ex-capitão nunca escondeu a indisposição. Parece ser, antes, a percepção de que até ele e o seu clã podem ter subestimado a chance de surgir um novo fenômeno que supere a influência bolsonarista antes mesmo de ele apontar o candidato a presidente em 2026.

São muitas as fórmulas em xeque numa disputa que, mais que nunca, assumiu dimensão nacional.

 

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