O Globo
Campanhas de adversários de Pablo Marçal
passaram a operar sem aparelhos, revendo estratégias minuto a minuto
Pablo Marçal continua embaralhando o jogo e distribuindo as cartas na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Recentemente, escrevi neste espaço a respeito da chegada “pé na porta” do ex-coach à campanha paulistana e de como, a despeito da recorrência dos candidatos antipolítica em sucessivas eleições, a aparição causou perplexidade nos adversários. Não deu outra: menos de dez dias depois, o candidato do PRTB ascendeu à liderança na pesquisa Datafolha, em tríplice empate com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB). E agora?
Ninguém sabe, a verdade é essa. As campanhas
adversárias às do influenciador passaram a operar sem aparelhos, revendo
estratégias minuto a minuto e se fiando em postulados que vigoraram por muito
tempo nos manuais de marketing político, mas que, francamente, terão de ser
testados de novo para se mostrar válidos em 2024.
Afinal, a primeira decisão reativa a Marçal —
três oponentes esvaziarem um debate — foi bem-sucedida? Vai se manter de agora
em diante, dada a indefinição quanto às duas vagas no segundo turno? A
princípio, as campanhas de Nunes e Boulos tendem a manter a ideia de não
comparecer a debates considerados de pouca audiência, que rendam mais
repercussão nas redes de Marçal, com os recortes que ele produz, do que na
exibição integral nos canais dos promotores. Mantida essa avaliação,
sobreviveriam os debates das grandes emissoras de TV aberta, e, mesmo assim,
talvez não todos. Só o debate da TV Globo, que encerra a campanha, está 100%
garantido.
E o horário eleitoral? Ainda terá o peso de
sempre para definir favoritos e provocar reviravoltas nas pesquisas? Esse é um
dos grandes testes desta eleição. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018,
essa importância já vem sendo relativizada. Marçal dobrou a aposta: seu partido
nem representação no Congresso tem.
E sua escalada no Datafolha foi de 7 pontos
na pesquisa estimulada e também na espontânea. Quanto disso foi provocado pelo
debate da Band em si (e, portanto, da mídia tradicional) e quanto se deveu ao
tipo de impulsionamento que ele obtém nas redes sociais, expediente que tem
gerado questionamentos na Justiça e pode, no limite, custar o registro de sua
candidatura?
A esperança da equipe de comunicação dos
demais candidatos é que pesquisas apontando a TV como meio mais influente para
definir votos ainda estejam válidas e não tenham caducado na velocidade das
redes sociais. Nesse aspecto, Nunes tem o maior tempo no horário eleitoral e,
como é o mais ameaçado pela ascensão de Marçal, deverá usar parte desse arsenal
para tentar desconstruí-lo.
Isso, por si só, já é a quebra de um axioma
das campanhas raiz: quem é incumbente tem de mostrar o que fez, e não apostar
em ataques aos adversários. Quando a água começa a subir, as máximas têm de ser
relativizadas.
Outro pilar das análises políticas abalado
pelo tumulto da largada em São Paulo é o peso dos padrinhos para definição de
votos. Nesse aspecto, o surgimento de um novo candidato antissistema não parece
ser um trunfo para Jair Bolsonaro, que pretende fazer dessas eleições
municipais um tira-teima entre ele e Lula.
Isso porque Marçal chegou fazendo a rapa nos
votos do ex-presidente sem precisar de seu aval. Pelo contrário: os últimos
dias foram marcados pela subida de tom dos ataques da família Bolsonaro ao
influenciador. E por quê? Certamente não é por amor a Nunes, com quem o
ex-capitão nunca escondeu a indisposição. Parece ser, antes, a percepção de que
até ele e o seu clã podem ter subestimado a chance de surgir um novo fenômeno
que supere a influência bolsonarista antes mesmo de ele apontar o candidato a
presidente em 2026.
São muitas as fórmulas em xeque numa disputa
que, mais que nunca, assumiu dimensão nacional.
Pois é,surgiu um novo Bolsonaro.
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