O Globo
Em meio a onda de calor e poluição,
emergência é tratada como tema menor no eixo Rio-SP
Está difícil respirar nas maiores cidades do
país. Em pleno inverno, o Rio registrou três dias seguidos de temperaturas
acima dos 40°C. Em São Paulo, o calor se somou à poluição. A capital paulista
teve a pior qualidade do ar entre 120 metrópoles monitoradas em todo o mundo.
A canícula fora de época testa a resistência
dos cariocas. No início da semana, a cidade já havia se espantado ao ver o sol
alaranjado. O fenômeno foi causado pela mistura de calor extremo, falta de
chuvas e fumaça causada por queimadas.
Os paulistanos, que adoram listas, passaram a encabeçar o ranking internacional de poluição divulgado pelo site suíço IQAir. Médicos pediram para a população evitar a exposição ao sol e o esforço físico ao ar livre. No interior do estado, cidades anunciaram racionamento de água.
A crise climática que ameaça a Amazônia e o
Pantanal chegou de vez aos grandes centros urbanos. Apesar do sufoco, o assunto
parece inexistir nas eleições municipais. A maioria dos candidatos trata a
emergência como um assunto menor, a ser tangenciado em debates e peças de
propaganda.
No Rio, o tema pouco aparece no horário
eleitoral. O prefeito Eduardo Paes dedica a maior parte do tempo a exaltar
feitos e siglas de sua gestão. O delegado Alexandre Ramagem investe numa
campanha sensacionalista sobre segurança pública, atribuição dos governo
estadual.
Em São Paulo, Pablo Marçal trata os alertas
da ciência como “militância com o clima”. O prefeito Ricardo Nunes não
verbaliza o mesmo discurso negacionista, mas sua administração já protagonizou
um vexame público na área.
Em junho de 2023, a prefeitura escalou o
secretário executivo de Mudanças Climáticas para um debate na OAB. Diante de
uma plateia incrédula, Antonio Fernando Pinheiro Pedro declarou que “o planeta
não será salvo por nós”. “Ninguém salva o planeta Terra. Geralmente ele se
salva sozinho”, disse, para constrangimento geral.
A fala viralizou na internet, e Nunes demitiu
o secretário no mês seguinte. Mas o episódio serviu para ilustrar o desdém com
que a emergência é tratada nos municípios — a começar pelo mais populoso da
América Latina.
O choro de Datena
José Luiz Datena foi às lágrimas na
sexta-feira, em entrevista à Folha de S.Paulo e ao portal UOL. “Para mim acabou
a política”, lamuriou-se. “Eu tentei ajudar as pessoas a votar em mim. Até
agora não consegui, o que eu posso fazer?”.
O choro antecipou o fim de uma campanha que
não começou. Lançado pelo
PSDB, o apresentador penou para convencer aliados e adversários de
que seria candidato para valer. Depois viu o histriônico Pablo Marçal roubar o
papel de outsider na disputa pela prefeitura.
O fiasco de Datena deve sepultar um velho
mito das eleições paulistanas: a ideia de que ele seria um candidato imbatível
a qualquer cargo público. Em queda livre no Datafolha, o neotucano agora
aparece em quinto lugar, com míseros 6%.
Eu pensava que a cidade do México fosse mais populosa que São Paulo,não é.
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