Folha de S. Paulo
Concorrência interna vai determinar se o
próximo presidente da Câmara continuará montado num rolo compressor
O poder de Arthur Lira se
sustenta em dois números graúdos. O primeiro é a fortuna de R$ 30 bilhões em
emendas destinadas aos deputados, valor que ele ajudou a inflar como presidente
da Câmara. A segunda cifra é a bancada de 300 a 350 parlamentares que atuam de
maneira coordenada, sob grande influência do líder do centrão.
A mudança de comando na Câmara, em fevereiro de 2025, envolve o controle dos dois ativos. O grupo vencedor vai trabalhar para preservar o cofre das emendas e gerenciar a distribuição do dinheiro. Já a liderança do bloco atravessa um momento delicado.
A reviravolta produzida por Lira ao trocar o
candidato à própria sucessão provocou um racha entre os
partidos que dão as cartas na Câmara. O efeito imediato é a divisão desse
centrão expandido. De um lado, o núcleo do bloco (PP, PL e Republicanos)
se uniu rapidamente em torno do nome de Hugo Motta. De outro, ficaram o União Brasil,
de Elmar Nascimento, e o PSD, de Antonio
Brito.
A concorrência interna pôs em risco a unidade
do grupo e sugeriu uma certa contestação à chefia de Lira. O presidente da
Câmara preparava o apoio à candidatura de Elmar, mas farejou um risco de
derrota e decidiu abraçar Hugo Motta. O deputado do União Brasil se sentiu
traído e buscou uma aliança com o PSD.
A briga ganhou ares de autofagia. Com
vencedores e vencidos, o centrão terminaria a eleição com um pedaço a menos.
Mesmo que Lira conseguisse liquidar a fatura e levar Motta à presidência da
Câmara, estaria à frente de um grupo menos coeso.
Isso é o que dizem os rancores de hoje.
Cardeais do centrão que costuraram a entrada de Motta no jogo apostam que, cedo
ou tarde, o grupo estará unido novamente. A fratura, afinal, reduz o poder de
barganha dos dois lados, e este é um prejuízo que não vale o orgulho dos
derrotados.
O desenrolar da disputa vai determinar se o
próximo presidente da Câmara continuará montado num rolo compressor capaz de
determinar o que é votado e aprovado no plenário. O governo chegou a sonhar com
uma ruptura capaz de
destronar Lira e reduzir o tamanho do poder do centrão, mas
pode estar diante de uma miragem.
Será?
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