Folha de S. Paulo
Reviravolta em sucessão na Câmara abre
caminho para preservar arranjo entre os dois lados
No início do mandato, Lula andava
por aí dizendo que, para sobreviver no Congresso, precisaria conversar "com
quem não gosta da gente". Lá pelas tantas, o presidente chamou o
centrão ao Palácio da Alvorada para um desses papos e entregou
ao grupo de Arthur Lira um
par de ministérios e o comando da Caixa.
Seria exagero dizer que o governo passou a ter vida fácil depois do acerto. Os termos da relação, porém, se tornaram um pouco mais previsíveis. Lula reconhece a bizarra situação em que o presidente da Câmara se recusa a conversar com o ministro responsável pela articulação política, mas procura navegar dentro dos limites do poder do centrão.
A reviravolta na corrida pela sucessão de
Lira pode renovar
esse pacto de convivência. A entrada de um novo favorito na disputa
pelo comando da Câmara, com a articulação do governo e do centrão, abre caminho
para preservar o arranjo entre os dois lados.
Num encontro recente, Lula apresentou a Lira
mais do que uma resistência discreta à candidatura de Elmar Nascimento à chefia
da Câmara. O governo jamais escondeu que tinha horror ao nome do deputado, que
carrega um histórico de oposição feroz ao PT e figurava como o
preferido de Lira. O petista quis deixar claro que a escolha não seria recebida
apenas com antipatia.
Ainda que estivesse decidido a evitar
acusações de interferência na disputa, Lula exerceu, na prática, uma
prerrogativa de veto. Em princípio, Lira não era obrigado a aceitar nenhuma
interdição, mas entendeu que a candidatura de Elmar jamais seria consensual e
poderia criar uma fratura que beneficiaria seus adversários.
A desistência
de Marcos Pereira, presidente do Republicanos,
abriu caminho para o lançamento do nome de Hugo Motta, que sempre foi o plano B
de Lira. O jovem deputado cresceu na Câmara sob as asas de Eduardo Cunha e
votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, mas o governo parece enxergar
esses episódios como pecados menores.
Se a
articulação vingar, Motta será o representante de um consórcio que
já tem negócios com o governo. Lula veria no comando da Câmara um deputado
menos hostil, enquanto Lira preservaria influência nessa relação.
Correção: Seria MENTIRA dizer que o governo passou a ter vida fácil depois do acerto.
ResponderExcluirO EXAGERO também está correto,rs.
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