Valor Econômico
Quanto mais durar a disputa pelo comando do Congresso, mais desgaste os achados de Dino, CGU e TCU provocarão sobre seu colégio eleitoral
A reviravolta na disputa pela presidência da
Câmara, com a desistência do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), segundo
nome no comando da Mesa, é só um aperitivo. O que está em jogo é o comando
daquela que se tornou a maior unidade orçamentária da República. A
instabilidade é filha desse gigantismo.
A sucessão das mesas diretoras costuma ter
início quando a eleição municipal termina. Os partidos contam os exércitos
conquistados para a batalha das eleições legislativas dali a dois anos, olham
para o tamanho em que ficou o chefe do Executivo do outro lado da praça, e
fazem os acertos que resultam nas mesas diretoras.
A antecipação da sucessão foi antes uma demonstração de fragilidade do que de força do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ao fazê-lo, esperava se valer do poder, que se esvai a cada dia, sobre a pauta de votações. A abdicação de Pereira em favor do correligionário Hugo Motta (PB) está longe de ser hostil a Lira, mas desarranja o jogo.
A exposição ao sol por cinco meses não mina
apenas nomes como o do deputado Elmar Nascimento (União-PB), o preferido de
Lira. Qualquer nome lançado ao estrelato tem um encontro marcado com o
desgaste. Não seria diferente com Hugo Motta.
Aos 34 anos, o deputado está no quarto
mandato. Cursava medicina na Universidade Católica de Brasília quando estreou
na Câmara. Terceira geração de sua família na política, tem currículo e
prontuário para o cargo, além de trato mais cordato do que os dois presidentes
da Casa de quem esteve mais próximo, Lira e Eduardo Cunha.
Pereira abdicou da candidatura a seu favor
porque não foi capaz de demover Gilberto Kassab, presidente do PSD, de lançar o
deputado Antonio Brito (BA), seu correligionário. Como esta era uma condição
para o apoio de Lira, declinou da candidatura e lançou Motta, nome mais
palatável para o presidente da Câmara porque tem mais trânsito na Casa do que
Nascimento e, ao contrário deste, não tem veto do governo.
Não é porque o presidente da mesa diretora e
o vice agora têm o mesmo candidato que a coisa está resolvida. A Pereira foi
exigido que demovesse Kassab. A Hugo Motta a porta foi escancarada. O rol de
cicatrizes avança para o entorno do governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas. Marcos Pereira, presidente do seu partido, e Kassab, secretário
todo-poderoso de seu governo, viraram este round em pé de guerra.
Motta já esteve com o presidente da República
e com o ex. A ambos fez juras de independência, inclusive de seu legado como
presidente da CPI da Petrobras, voto pela cassação de Dilma Rousseff e
abstenção na de Cunha.
Kassab resistiu a pedidos tanto do presidente
quanto do governador paulista para que retirasse a candidatura de Brito. Seja
porque tem a esperança de conseguir o apoio do União a seu candidato, seja
porque ainda espera atrair o Palácio do Planalto. A presença do líder do PL,
Altineu Côrtes (RJ), na reunião em que Elmar foi comunicado por Lira da opção
por Motta, não deixou dúvidas da adesão do PL ao novo candidato.
A candidatura Brito sempre foi uma peça de
Kassab no equilíbrio de forças entre Câmara e Senado. O fim do mandato de
Rodrigo Pacheco (MG) na mesa vai tirar o PSD, maior bancada do Senado, da
presidência da Casa. Por outro lado, o ocaso de Elmar Nascimento retira das
costas do presidente da CCJ do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o incômodo
de justificar a postulação de seu partido ao comando de ambas as Casas. Resta a
Kassab continuar a jogar com o União para preservar os espaços de ambos os
partidos.
É improvável que o Senado se mantenha
blindado à reviravolta da Câmara. Numa única tarde, Pacheco marcou a sabatina
de Gabriel Galípolo, indicado à presidência do Banco Central, e Alcolumbre
resistiu à inclusão da PEC da autonomia administrativa do BC, a que o governo
se opõe, na pauta da CCJ.
Os longos cinco meses até a sucessão das
mesas aumentarão o poder de pressão dos parlamentares que compõem seu colégio
eleitoral sobre os atuais presidentes das mesas. Para um presidente da
República que encararia um Congresso com a faca nos dentes depois de uma
eleição municipal em que não há grandes expectativas em relação ao desempenho
do PT, a reviravolta pode não ser uma má notícia. A eleição de Hugo Motta, no
mínimo, é um cenário menos ruim para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do
que a escolha de Elmar Nascimento.
Nenhum movimento, porém, impactará tanto os
interesses do Executivo nesse jogo quanto aqueles do ministro do Supremo
Tribunal Federal, Flávio Dino. Na lista encomendada por Dino à
Controladoria-Geral da União com os municípios mais beneficiados, por habitante,
com emendas parlamentares, aqueles do Amapá pontificam.
Do Tribunal de Contas da União, o ministro
recebeu a lista de processos que lá tramitam e os repassou à Procuradoria-Geral
da República. Lá pontifica não apenas o desvio do kit-robótica em Alagoas, que
foi arquivado mas pode ser reaberto, quando processos de aliados do presidente
da Câmara.
O acordo dos Três Poderes em torno das
emendas será avalizado por Pacheco e Lira e restará aos sucessores
administrá-lo. Quanto mais alongada a campanha sucessória nas mesas diretoras
do Congresso, porém, mais desgaste os achados de Dino, CGU e TCU arriscam
provocar sobre seu colégio eleitoral.
Muito bom! Será que vão incomodar de novo o Anão Lira com o seu brinquedinho de kit-robótica superfaturado? Tomara...
ResponderExcluirLendo e tentando entender essa barafunda,rs.
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