Folha de S. Paulo
Presidente opta por abordagem conservadora e
exibe ambições modestas no palco em Nova York
Lula não
tentou esconder a frustração com o palco em que pisava. O presidente brasileiro
abriu seu discurso
na Assembleia-Geral da ONU manifestando
um desencanto amargo com o "alcance limitado" das discussões em Nova
York. Voltou ao ponto, quase no
final, para dizer que a entidade estava "esvaziada e
paralisada".
O petista costuma usar essas críticas como combustível para cobranças pela reforma de organismos globais. Desta vez, as declarações soaram como o lamento de um comentarista de política internacional, com ambições bem mais modestas do que um chefe de governo interessado em influenciar a agenda de líderes mundiais.
O presidente brasileiro optou por uma
abordagem conservadora na sede das Nações Unidas. Tratou das guerras da Ucrânia
e no Oriente Médio de maneira relativamente discreta, quase como observador.
Com ares de reprise, apertou alguns de seus botões favoritos na política
externa, como o pleito por mudanças no Conselho de Segurança e a condenação do
embargo econômico a Cuba.
A postura de Lula também foi mais tímida do
que a habitual nos trechos
sobre o meio ambiente. Com o crédito abalado pela resposta
insuficiente do governo nesta temporada de queimadas, o presidente teve que
pagar um pedágio ao dizer que "não terceiriza responsabilidades" e
diluiu seus compromissos contra o desmatamento em meio a antigos apelos por uma
ação global contra a crise do clima.
O binômio clima-desigualdade, aliás, provou
ser o pilar mais confiável de Lula nesta etapa de sua carreira internacional.
Num momento em que o governo se vê obrigado a reconhecer a influência reduzida
na solução de conflitos armados, o presidente brasileiro aproveitou para dizer
que o dinheiro da guerra poderia ser usado para combater a fome.
A desigualdade também foi o ponto de partida
para que Lula apresentasse algumas das poucas novidades de seu discurso. Ao
citar uma nova "década perdida" na América Latina, ele se referiu à
ascensão de "falsos patriotas", "isolacionistas" e
"experiências ultraliberais". Em outro trecho, mencionou o controle
concentrado do ecossistema digital nas mãos de poucas empresas de tecnologia.
Muito bom!
ResponderExcluirClaro e direto.
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