Folha de S. Paulo
Deve ser tarde para grandes mudanças, mas
eleitor fiel ainda pode dar ao ex-coach uma chegada firme
Pablo Marçal chega
aos dias finais de campanha numa crise de identidade. Entre um lance e outro do
jogo sujo que catapultou sua candidatura, o influenciador usa uma voz mansa
para confundir o eleitor. "Eu não quero lacrar, mas é minha única
saída", declarou, menos de 24 horas após ser expulso de um
debate. "Eu não sou esse idiota."
A estagnação nas pesquisas parece ter provocado um curto-circuito na campanha de Marçal. O candidato admite que ainda é dependente da baixaria que o projetou para o primeiro pelotão da disputa, mas também se vê obrigado a ensaiar gestos de suavização para estancar a disparada de seu índice de rejeição. Nenhuma das duas táticas deu muito resultado nas últimas semanas.
O comportamento errático leva Marçal a uma
ambiguidade constrangedora. O influenciador não pode confessar aos apoiadores
que cometeu um erro, mas precisa fazer ajustes no
tom da campanha. Diz que a atuação como bufão foi um movimento
calculado, correndo o risco de perder a autenticidade. Oscila entre os papéis
de vítima indefesa do sistema e corajoso vingador do povo.
Marçal explora essa ambivalência para
calibrar a aposta final de sua campanha, baseada num apelo populista tão baixo
quanto explícito. A expressão "revolta popular" apareceu repetidas
vezes em sua entrevista à TV Globo nesta quarta-feira (25). Dias antes, ele
usava as mesmas palavras para declarar guerra a quem chamava de bandidos.
"Chegou a nossa hora de tomar o Brasil de volta", sentenciou.
Há notas de desespero na mensagem do
candidato. "Aqui é uma alma gritando para outra", vociferou, em
transmissão nas redes sociais, ao lançar a surrada carta do pânico
moral: "Nossos filhos estão na escola sendo erotizados. Isso é comum para
você?", perguntou.
A retórica é direcionada a dois segmentos
cobiçados pelo influenciador em sua busca por um fôlego final: paulistanos de
baixa renda (menos decididos de seus votos) e eleitores
evangélicos. Talvez seja tarde para grandes mudanças, mas Marçal não
está fora do jogo. Seu eleitorado se mostra fiel o suficiente para sugerir que
ele pode ser um candidato com uma chegada firme.
Eu penso que Ricardo Nunes será reeleito.
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