Valor Econômico
Pesquisas feitas por fundação do PT já captavam a receptividade do eleitorado ao discurso proferido por Pablo Marçal, mas pouca gente deu importância
A fora a decisão de Alexandre de Moraes de
tirar o X-Twitter do ar, as conversas sobre política nas últimas semanas giram
sobre um só personagem: Pablo Marçal.
Muito se tem falado de seus métodos (os
legítimos e os ilegais) comerciais, de seu marketing digital aplicado à
campanha eleitoral e de seu discurso teológico coach (como caracterizou a
cientista política Ana Carolina Evangelista), mas pouco ainda se discute sobre
o seu potencial eleitorado.
E o mais interessante é que os eleitores que
aderem em velocidade estonteante a Marçal hoje (não só em São Paulo, mas no
Brasil todo) já vêm sendo mapeados há anos pelo PT - embora ninguém tenha dado
a importância devida a esse fenômeno.
Nas eleições municipais de 2016, o então
prefeito, Fernando Haddad, mesmo apoiado por Lula e Dilma Rousseff, foi
derrotado por João Doria no primeiro turno, com menos de um terço dos votos
válidos (53,3% a 16,7%). O tucano venceu em todas as regiões da cidade, com a
exceção de Parelheiros e Grajaú, em que a maioria dos eleitores preferiu Marta
Suplicy (então no MDB).
Perplexo por ter perdido por larga margem até nos bairros mais pobres da cidade, onde tradicionalmente era muito bem votado, o PT resolveu investigar as causas do desempenho tão ruim. Especialistas contratados pela Fundação Perseu Abramo realizaram então uma série de entrevistas qualitativas entre novembro de 2016 e janeiro de 2017 para entender o que pensava o morador dessas regiões.
A pesquisa “Percepções e Valores Políticos
nas Periferias de São Paulo” revelou um eleitor muito diferente do estereótipo
utilizado nas análises políticas.
Para o PT e a esquerda em geral, a conclusão
mais surpreendente dizia respeito às visões do residente da periferia
paulistana a respeito de sua classe social e do próprio Estado.
Cito textualmente algumas das constatações da
pesquisa: “No imaginário da população não há luta de classes; o ‘inimigo’ é, em
grande medida, o próprio Estado ineficaz e incompetente”, e não o patrão
explorador.
Aliás, “trabalhador e patrão são diferentes,
mas não existe no discurso [desses eleitores] relação de exploração: um precisa
do outro, estão no mesmo barco”. E assim “todos são ‘vítimas’ do Estado que
cobra impostos excessivos, impõe entraves burocráticos, gerencia mal o
crescimento econômico e acaba por limitar ou ‘sufocar’ a atividade das
empresas”.
Longe de terem sido abduzidos pela ideologia
neoliberal, a pesquisa do PT aponta para um certo “liberalismo popular” bem
recebido na periferia da capital econômica do país: uma população que havia
progredido economicamente com o Plano Real e as políticas sociais dos governos
Lula e Dilma, que tinha “forte desejo por visibilidade e valorização pessoal” e
que acreditava no trabalho e no esforço como instrumento de ascensão social.
Para os pesquisadores da Fundação Perseu
Abramo, o PT precisaria compreender melhor esse fenômeno, pois as entrevistas
apontavam que esse eleitorado “tem a igualdade de oportunidades como ponto de
partida e a defesa do mérito como linha de chegada”, “trata o mercado como
instituição mais crível que o Estado”, e “reconhece a importância de um Estado
eficaz em reverter impostos em serviços de qualidade e em reduzir
desigualdades”.
Boa parte desse descrédito em relação ao
Estado vinha de uma forte desconfiança com a política institucional, vista como
“suja” e “cheia de gente mau caráter”. Para os entrevistados, a solução
passaria pela ascensão de “gente do bem e a fim de trabalhar” e de parcerias do
poder público com empresas.
Muitos desacreditaram os resultados dessa
pesquisa, apontando problemas metodológicos (amostra muito pequena) ou vieses
ligados ao timing da pesquisa - em meio a uma crise política (a Lava Jato) e
logo após a vitória de Doria, que exacerbava esses valores pró-mercado na sua
propaganda política.
No entanto, entre setembro e outubro de 2021
a Fundação Perseu Abramo foi a campo para entrevistar eleitores não
identificados com Lula e nem com Bolsonaro nas cinco regiões do país
(“Percepções e Valores da População Brasileira não Polarizada”). E os resultados
foram muito similares.
O cidadão que se destaca nessa nova pesquisa
é “fortemente alinhado ao valor do trabalho e convicto da necessidade de
batalhar para vencer na vida”. Nesse caso, “trabalhador” é visto como adjetivo
(sinônimo de lutador, esforçado, empenhado) e não substantivo (posição numa
sociedade de classes).
Para esse público, “o padrão de consumo é o
que dita a percepção de classe”. Ou seja, o mundo não é dividido entre patrões
e empregados, mas entre ricos, classe média e pobres. Nesse contexto, há uma
crença de que “a ascensão social e econômica é possível e que pessoas mais
pobres podem ser ricas um dia” - desde que sejam “batalhadores, fortes e
persistentes”.
E nessa batalha para “ser alguém na vida”,
dois núcleos sociais proveem os valores e são espaço de acolhimento: a família
e a igreja.
Pablo Marçal tornou-se milionário vendendo a
ilusão da prosperidade a esse público. O grande desafio que a política
tradicional tem é evitar que ele converta esses seguidores em votos - e isso
não é um problema só de São Paulo.
Excelente artigo.
ResponderExcluirProblema de São Paulo não é ter um empresário de sucesso que administra várias empresas bilionárias que têm noção de formação de profissional e administração
ResponderExcluirO que vocês fingem não ver , O perigo para São Paulo está no candidato bolos que tem todos os adjetivos ruins Mentiroso, comunista cínico, invasor de propriedade privada, é a favor das drogas e do aborto,? agora cometeu um crime que ele deveria ser punido legalmente, que é deturpar o hino nacional nosso símbolo maior, introduzindo linguagem neutra coisa mais ridícula e assim vocês estão deixando esse canalha continuar numa campanha de teatro, fingindo ser um bom moço
Boa
ExcluirKkkkkk
ExcluirAnônimo, sai dessa.
Excelente artigo!
ResponderExcluirMarçal é um maluco total.
ResponderExcluirMarçal picareta
ResponderExcluir