Valor Econômico
Distribuição de fundo eleitoral até o momento revela objetivos e estratégias de cada partido
Nas eleições municipais, cada partido traça
sua estratégia em relação às alianças que vai formar, às cidades que serão
priorizadas e ao tipo de cargos que deseja enfatizar. Afinal, em alguns locais
pode ser mais vantajoso eleger uma bancada maior de vereadores, enquanto em
determinados Estados a meta pode ser vencer uma grande quantidade de
prefeituras.
Como as campanhas no Brasil atualmente são financiadas em sua maioria por recursos públicos, acompanhar a prestação de contas eleitorais nos permite um raio-x sobre onde e em quem os partidos estão apostando seu dinheiro na disputa deste ano.
Faltando duas semanas para o primeiro turno,
os partidos já informaram à Justiça Eleitoral a distribuição de 57% do fundão
para seus candidatos. E mesmo que o ritmo de publicização dos gastos seja
diferenciado, já é possível identificar padrões na alocação do financiamento
público entre os candidatos a prefeitos e vereadores Brasil afora.
Os campeões de aplicação de recursos em
candidatos a prefeitos entre as maiores legendas até agora são PDT (76,6%) e
PSB (70,3%). Trata-se de dois partidos de tradição regional, mas que vivem
momentos diferentes.
Enquanto o PDT busca reforçar sua base no
Ceará (família Gomes), Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (herança brizolista),
o PSB se aproveita da eleição praticamente ganha de João Campos no Recife para
ampliar sua visibilidade em âmbito nacional, principalmente com a candidatura
de Tabata Amaral em São Paulo (que sozinha absorveu até agora 15% do fundão do
partido) e de Luciano Ducci em Curitiba (7,9% do total).
Valendo-se da máxima de que o número de
prefeituras conquistadas é garantia de uma boa bancada na Câmara dos Deputados
daqui a dois anos, as siglas de centro-direita também dedicam uma porção maior
de recursos às campanhas a prefeito. É o caso do PSDB (distribuindo 70,1% do
fundão para tentar reconquistar terreno, principalmente depois da debandada de
prefeitos em seu berço eleitoral, o Estado de São Paulo), PP (com 61,9%
destinados a postulantes ao cargo de prefeito), MDB (61,4%) e PSD (60,5%).
Situação interessante é a do PL, de Jair
Bolsonaro. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, chegou a anunciar uma
meta de conquistar mais de mil prefeituras neste ano. No entanto, o partido só
utilizou até agora 47,7% do fundão nas campanhas para prefeito, índice inferior
até mesmo ao PT do presidente Lula (53,6%), que vem sendo criticado pelo baixo
interesse no pleito municipal.
Essa ênfase menor dada às candidaturas
próprias para o cargo de prefeito por parte dos dois partidos que polarizam o
país atualmente é apenas um dos indícios de que PT e PL têm uma tática
diferente. As agremiações de Jair Bolsonaro e de Lula estão entre os que mais
recursos estão investindo em candidaturas encabeçadas por partidos aliados (com
respectivamente 18,3% e 11,1% de seus quinhões do fundão), o que evidencia que
estão cultivando parcerias visando 2026.
Em relação ao porte dos municípios, os
partidos do Centrão estão mais uma vez honrando a tradição de pulverizar seus
recursos em municípios médios e pequenos. O PP destinou até agora 32,4% do seu
fundo eleitoral para municípios com menos de 20 mil eleitores. Nesse quesito,
ele é seguido por MDB (30,8%), Republicanos (27,9%) e PSD (26,7%) - todos
dedicando uma boa proporção para as menores cidades.
No extremo oposto, a esquerda concentra sua
energia nas capitais e municípios maiores, onde há possibilidade de realização
de segundo turno. O caso mais emblemático é do Psol, que aposta muitas fichas
na eleição de Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo. Muito em função
desse objetivo, a legenda até agora direcionou 88,3% do fundo eleitoral para
cidades com mais de 200 mil eleitores (sendo 20% do total só em Boulos).
A estratégia de prestigiar os grandes centros
também é enfatizada por Rede (62,3% do total enviado para municípios com chance
de segundo turno), PCdoB (61,6%), PDT (60,8%), PT (58,2%) e PSB (56,6%).
Os partidos de esquerda também se notabilizam
pelo destaque dado às candidaturas femininas. Entre as agremiações mais
relevantes, Psol, PCdoB, Rede e PT estão até o momento aplicando as maiores
proporções em candidatas, com percentuais entre 43,1% e 47,7%, respectivamente.
A média geral dos recursos devotados a mulheres está elevada (38,2%), mas
Cidadania (16,9%), PP (25,1%) e PSDB (25,2%) estão entre os que menos têm
prestigiado candidaturas femininas até o momento.
No que se refere a cor e raça, as siglas
pequenas estão entre as que mais têm prestigiado candidaturas de pardos e
pretos - a liderança até agora cabe ao Mobiliza (antigo PMN), com 70,8% da sua
cota do fundo eleitoral destinada afiliados que se autodeclaram negros. A nota
decepcionante fica com PDT (com 29,6%), Novo (32,4%) e PL (32,9%), as legendas
que menos têm prestigiado a diversidade racial em sua estratégia eleitoral
neste ano.
Como dizem os informes de bancos,
rentabilidade passada não é garantia de ganhos no futuro. A ver como a
aplicação de quase R$ 5 bilhões do fundão vai render para cada partido no ciclo
2024-2026.
Enfim,uma gastança sem fim!
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