segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Bruno Carazza - Prioridades, parcerias e apostas do fundão

Valor Econômico

Distribuição de fundo eleitoral até o momento revela objetivos e estratégias de cada partido

Nas eleições municipais, cada partido traça sua estratégia em relação às alianças que vai formar, às cidades que serão priorizadas e ao tipo de cargos que deseja enfatizar. Afinal, em alguns locais pode ser mais vantajoso eleger uma bancada maior de vereadores, enquanto em determinados Estados a meta pode ser vencer uma grande quantidade de prefeituras.

Como as campanhas no Brasil atualmente são financiadas em sua maioria por recursos públicos, acompanhar a prestação de contas eleitorais nos permite um raio-x sobre onde e em quem os partidos estão apostando seu dinheiro na disputa deste ano.

Faltando duas semanas para o primeiro turno, os partidos já informaram à Justiça Eleitoral a distribuição de 57% do fundão para seus candidatos. E mesmo que o ritmo de publicização dos gastos seja diferenciado, já é possível identificar padrões na alocação do financiamento público entre os candidatos a prefeitos e vereadores Brasil afora.

Os campeões de aplicação de recursos em candidatos a prefeitos entre as maiores legendas até agora são PDT (76,6%) e PSB (70,3%). Trata-se de dois partidos de tradição regional, mas que vivem momentos diferentes.

Enquanto o PDT busca reforçar sua base no Ceará (família Gomes), Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (herança brizolista), o PSB se aproveita da eleição praticamente ganha de João Campos no Recife para ampliar sua visibilidade em âmbito nacional, principalmente com a candidatura de Tabata Amaral em São Paulo (que sozinha absorveu até agora 15% do fundão do partido) e de Luciano Ducci em Curitiba (7,9% do total).

Valendo-se da máxima de que o número de prefeituras conquistadas é garantia de uma boa bancada na Câmara dos Deputados daqui a dois anos, as siglas de centro-direita também dedicam uma porção maior de recursos às campanhas a prefeito. É o caso do PSDB (distribuindo 70,1% do fundão para tentar reconquistar terreno, principalmente depois da debandada de prefeitos em seu berço eleitoral, o Estado de São Paulo), PP (com 61,9% destinados a postulantes ao cargo de prefeito), MDB (61,4%) e PSD (60,5%).

Situação interessante é a do PL, de Jair Bolsonaro. O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, chegou a anunciar uma meta de conquistar mais de mil prefeituras neste ano. No entanto, o partido só utilizou até agora 47,7% do fundão nas campanhas para prefeito, índice inferior até mesmo ao PT do presidente Lula (53,6%), que vem sendo criticado pelo baixo interesse no pleito municipal.

Essa ênfase menor dada às candidaturas próprias para o cargo de prefeito por parte dos dois partidos que polarizam o país atualmente é apenas um dos indícios de que PT e PL têm uma tática diferente. As agremiações de Jair Bolsonaro e de Lula estão entre os que mais recursos estão investindo em candidaturas encabeçadas por partidos aliados (com respectivamente 18,3% e 11,1% de seus quinhões do fundão), o que evidencia que estão cultivando parcerias visando 2026.

Em relação ao porte dos municípios, os partidos do Centrão estão mais uma vez honrando a tradição de pulverizar seus recursos em municípios médios e pequenos. O PP destinou até agora 32,4% do seu fundo eleitoral para municípios com menos de 20 mil eleitores. Nesse quesito, ele é seguido por MDB (30,8%), Republicanos (27,9%) e PSD (26,7%) - todos dedicando uma boa proporção para as menores cidades.

No extremo oposto, a esquerda concentra sua energia nas capitais e municípios maiores, onde há possibilidade de realização de segundo turno. O caso mais emblemático é do Psol, que aposta muitas fichas na eleição de Guilherme Boulos para a Prefeitura de São Paulo. Muito em função desse objetivo, a legenda até agora direcionou 88,3% do fundo eleitoral para cidades com mais de 200 mil eleitores (sendo 20% do total só em Boulos).

A estratégia de prestigiar os grandes centros também é enfatizada por Rede (62,3% do total enviado para municípios com chance de segundo turno), PCdoB (61,6%), PDT (60,8%), PT (58,2%) e PSB (56,6%).

Os partidos de esquerda também se notabilizam pelo destaque dado às candidaturas femininas. Entre as agremiações mais relevantes, Psol, PCdoB, Rede e PT estão até o momento aplicando as maiores proporções em candidatas, com percentuais entre 43,1% e 47,7%, respectivamente. A média geral dos recursos devotados a mulheres está elevada (38,2%), mas Cidadania (16,9%), PP (25,1%) e PSDB (25,2%) estão entre os que menos têm prestigiado candidaturas femininas até o momento.

No que se refere a cor e raça, as siglas pequenas estão entre as que mais têm prestigiado candidaturas de pardos e pretos - a liderança até agora cabe ao Mobiliza (antigo PMN), com 70,8% da sua cota do fundo eleitoral destinada afiliados que se autodeclaram negros. A nota decepcionante fica com PDT (com 29,6%), Novo (32,4%) e PL (32,9%), as legendas que menos têm prestigiado a diversidade racial em sua estratégia eleitoral neste ano.

Como dizem os informes de bancos, rentabilidade passada não é garantia de ganhos no futuro. A ver como a aplicação de quase R$ 5 bilhões do fundão vai render para cada partido no ciclo 2024-2026.

 

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