segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Alex Ribeiro - Copom evita mudanças abruptas nos juros

Valor Econômico

Um movimento abrupto dos juros, não antecipado, teria deixado o mercado mais confuso sobre as intenções do BC, e no fim adicionaria mais prêmio de risco

A julgar pela reação dos mercados no dia seguinte à sua última reunião, na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) fez a sua mais bem-sucedida comunicação desde abril, quando adotou um tom mais cauteloso.

A cotação do dólar caiu, houve redução na inflação implícita em títulos públicos e diminuiu a inclinação da curva de juros futuros. Na sexta, o dólar subiu, mas o que pesou foi a piora no ambiente internacional.

Apesar da reação positiva, houve alguns comentários de especialistas sobre uma certa dissonância entre a descrição do cenário inflacionário feita pelo comitê, claramente desfavorável, e a ação tímida na alta de juros. Afinal, se o Copom está tão preocupado com a inflação, por que subiu os juros em apenas 0,25 ponto percentual, em vez de um aperto mais forte de 0,5 ponto?

O Copom está em período de silêncio, e é preciso esperar pela ata da sua reunião, que sai nesta terça, para obter mais explicações. Mas não parece haver relutância em apertar o juro. O comitê, aparentemente, evita mudanças abruptas na política monetária, que só causam incertezas e adicionam prêmios de risco desnecessários nos juros. Também procura seguir a sinalização de política monetária feita anteriormente - que não é uma camisa de força, mas não deveria ser desrespeitada sem que a evolução concreta da economia se desviasse do cenário previsto.

Na reunião de julho, o Copom estava diante de uma situação bem parecida com a atual. Sua projeção de inflação, então em 3,2%, estava acima da meta, de 3%. O balanço de riscos para a inflação se deslocou para o lado mais negativo, numa zona dúbia em que não se podia mais afirmar categoricamente que os perigos altistas para a inflação se equiparavam com os baixistas. Havia, portanto, argumentos para iniciar já naquele encontro o ciclo de aperto monetário. A pergunta que surge agora foi feita em julho: por que não subiu a Selic?

Alguns acharam que o BC não agiu logo de cara porque queria esperar pela decisão do Fed (Federal Reserve, o BC americano). Outros, que precisava formar um consenso no comitê pelo aperto.

As declarações feitas depois pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, eliminaram essas duas explicações. Ele minimizou o efeito que o Fed poderia ter em dispensar a necessidade de alta dos juros no Brasil. Também passou uma mensagem de unidade.

A explicação mais plausível é que o Copom queria preparar os espíritos para uma alta de juros, evitando um movimento abrupto. A aposta majoritária do mercado nas opções do Copom na B3 era pela manutenção de juros. A maioria esmagadora dos analistas econômicos não apenas previa, mas também recomendava que o Copom mantivesse os juros em 10,5% ao ano. Nada disso deveria dar muito conforto ao BC, já que as apostas na manutenção vinham combinadas com aumentos nas projeções de inflação, que iam se distanciando das metas. Mas, de qualquer forma, o mercado ainda não precificava o aperto.

A decisão do Copom foi não dar nenhuma sinalização firme para a taxa de juros. Apenas passou os dois caminhos possíveis de sua estratégia, a alta de juros ou sua manutenção. No dia seguinte ao comunicado, o mercado reagiu mal. Mas depois se recuperou, quando Galípolo explicou que o cenário precisava melhorar para que fosse dispensado um aperto.

Na semana passada, o comunicado do Copom foi bem parecido com o de julho. Embora a descrição do cenário parecesse justificar uma alta de 0,5 ponto, o movimento ficou circunscrito ao 0,25 ponto. Esse percentual já estava sinalizado como possível desde julho, e foi sacramentado quando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o ciclo seria gradual.

Agora, o Copom, a rigor, não se compromete com nada para as próximas reuniões. Mas passou sua avaliação de que o ciclo de aperto precisa ser maior do que esperado pelo mercado, por meio de suas projeções de inflação, balanço de riscos e reconhecimento de que a economia está sobreaquecida. Como o ciclo é maior, o mercado cogita um ritmo mais forte de alta da Selic.

Essa comunicação, que ainda precisa ser ratificada na ata do Copom, teve efeitos no mercado. Os juros futuros de curto prazo subiram, e esse é um dos canais mais importantes de transmissão da política monetária. As condições financeiras estão mais apertadas porque os participantes reviram a trajetória esperada da Selic.

Um movimento abrupto dos juros, não antecipado, teria deixado o mercado mais confuso sobre as intenções do BC, e no fim adicionaria mais prêmio de risco. Sempre que possível, o BC deve ser coerente com o que sinalizou.

Isso não quer dizer que o BC não deva surpreender nunca. Alguns analistas advogam o tratamento de choque. Um argumento a favor dessa abordagem é que os custos nos prêmios de riscos seriam mais do que compensados pelos ganhos de credibilidade, sobretudo quando o BC precisa muito reconstruir a sua reputação.

Mas, no fim das contas, a reputação só é ganha com a consistência da ação do Banco Central para cumprir as metas.

 

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