O Estado de S. Paulo
Nunes ganhou vida própria sem Bolsonaro, mas Boulos depende muito de Lula para vencer
Com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) crescendo
nas pesquisas e o “outsider” Pablo Marçal (PRTB) perdendo fôlego, a eleição na
principal capital do País vai embicando para um segundo turno entre Nunes, à
direita, em ascensão, e Guilherme Boulos (PSOL), à esquerda, com sinais de
estar batendo no teto. O resultado prático é que o ex-presidente Jair Bolsonaro
finalmente desceu do muro a favor de Nunes, enquanto o presidente Lula já mexe
na agenda para entrar com força na campanha de Boulos em São Paulo.
Candidato à reeleição, Nunes já seria o eixo natural da campanha paulistana, mas tem de enfrentar não dois, mas três turnos. O primeiro é contra Marçal, que parece deslizar da condição de “fenômeno” para a de “meteoro” – sobe muito, mas dura pouco. Essa tendência descarta a hipótese que chegou a ser cogitada de uma disputa final entre dois nomes da direita, Nunes e Marçal. O previsível volta a ser direita versus esquerda.
O segundo turno de Nunes é contra todos os
outros, como sempre acontece com o candidato que disputa a reeleição, tem os
privilégios do cargo e, ainda por cima, lidera as pesquisas. Logo, Boulos,
Tabata Amaral (PSB) e Luiz Datena (PSDB), além do próprio Marçal, devem centrar
a artilharia contra ele. Um contra todos, todos contra um – o favorito.
No terceiro turno de Nunes (oficialmente, o
segundo), provavelmente contra Boulos, o fator decisivo tende a ser a rejeição.
O eleitor não vota necessariamente no seu preferido, mas naquele com melhores
condições para derrotar o que ele mais rejeita.
Nessa corrida de obstáculos, Nunes deixa um
rastro de desmistificações. O governador Tarcísio Gomes de Freitas é um puxador
de votos mais eficaz do que Bolsonaro e o rádio e a TV ainda pesam, e muito.
Nunes subiu empurrado por um tempo enorme de “propaganda tradicional” e Marçal
não conseguiu compensar com a internet.
Quanto mais Marçal fica conhecido, mais sua
rejeição cresce e chega a 44% no Datafolha, suficiente para Nunes fisgar
Bolsonaro e bolsonaristas. Mas tem mais: as projeções de segundo turno (ou
terceiro...). Pela Quaest, Nunes venceria Boulos por 48% a 33% e, no Datafolha,
por 53% a 38%. Logo, o prefeito dá “mais segurança” à direita.
Lula estava distante da campanha, mas não tem
alternativa: é mergulhar ou mergulhar na campanha de Boulos, para atrair o
eleitorado de baixa renda e, desde já, jogar a rede nos votos de Tabata e
Datena, que não têm chance, pelo quadro de hoje, de ir ao segundo turno. Nunes
ganhou vida própria sem Bolsonaro, mas Boulos depende muito de Lula para
vencer.
Eu acho que Nunes será reeleito.
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