quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Fernando Exman - Na eleição municipal, todos de olho em Tarcísio

Valor Econômico

Reforço do governador na campanha à reeleição de Ricardo Nunes é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política

Aliados interessados em futuras parcerias e adversários acompanham com atenção as movimentações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no pleito municipal. Seu reforço na campanha à reeleição do prefeito da capital do Estado, Ricardo Nunes (MDB), é visto como um ponto de inflexão na sua trajetória política.

Há dois aspectos em jogo. O primeiro é uma demonstração de como o amplo arco de alianças que ele, filiado ao Republicanos, ajudou Nunes a construir. Onze partidos asseguram ao prefeito um grande tempo de propaganda em rádio e televisão, um instrumento que, na visão de aliados do emedebista, tem sido eficaz na neutralização de ataques feitos nas redes sociais. Na opinião de uma fonte ligada à campanha, esta disputa pode ser vista como uma espécie de “laboratório” para 2026.

O segundo aspecto é a possibilidade de Tarcísio, do Republicanos, consolidar-se como a liderança à direita com o maior potencial de aglutinar os partidos de centro e de centro-direita em uma eventual disputa contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na próxima eleição nacional.

Carioca e com carreira profissional conduzida principalmente em Brasília, Tarcísio venceu a eleição para governador de São Paulo em 2022 sob o condão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O antipetismo que vigora em parte considerável do Estado, com o qual nunca teve grandes conexões durante a vida, foi também determinante.

No início do mandato, foi chamado de “tecnocrata” por alguns que hoje se surpreendem positivamente com a sua desenvoltura na campanha de Nunes. A classificação, feita de forma crítica, vinha de quem o considerava um engenheiro mais preocupado com assuntos administrativos do que um gestor que reconhecia a necessidade de colocar a política em sua agenda diária.

É fato que Tarcísio delegou parte considerável da articulação política a auxiliares. Conseguiu, dessa forma, construir uma rede de aliados ampla. No entanto, alguns aliados nunca esconderam a insatisfação com o que consideravam uma falta de envolvimento do governador com temas de interesse do seu próprio partido e de siglas da base no Estado.

A disputa pela prefeitura da capital tem alterado essa imagem. Nas palavras de um interlocutor, o engajamento do governador está “movendo o ponteiro” das pesquisas de intenção de voto e tem tudo para ajudar a decidir a eleição de São Paulo em favor de Nunes.

Isso se deve ao cálculo pragmático, segundo o qual a administração estadual e a prefeitura precisam muito uma da outra para destravar iniciativas estratégicas.

Um exemplo é a questão da segurança pública: não há operação policial na capital bem-sucedida sem uma articulação institucional e das forças policiais locais. É um tema fundamental para o eleitor.

A revitalização do centro da cidade, a qual depende da presença do poder público em áreas hoje degradadas, é outro exemplo. Assim como o fim das cracolândias. Além disso, a privatização da Sabesp não ocorreria sem apoio de Nunes.

Ter um oposicionista na Prefeitura de São Paulo seria, do ponto de vista administrativo, muito ruim para o governador. Sob a ótica política também.

Uma vitória do deputado federal Guilherme Boulos (Psol) seria um inegável triunfo do presidente Lula, que bancou a candidatura do aliado, a despeito das resistências do PT, e também construiu o retorno de Marta Suplicy ao partido para ocupar a vice. Já uma eventual eleição do influenciador Pablo Marçal (PRTB) representaria uma grande incógnita do ponto de vista da gestão e uma fonte de instabilidade política. O ex-coach tem lançado frequentes críticas a Tarcísio durante a campanha.

Quanto a Nunes, Tarcísio teria a garantia da manutenção de uma boa relação pessoal e prosseguimento da parceria administrativa. Isso não quer dizer que o MDB como um todo fará parte do projeto do governador em 2026. Lideranças de peso da sigla defendem uma aliança com Lula, em um movimento que poderia assegurar a vaga de vice-presidente ao partido.

A postura de Tarcísio, contudo, tem chamado a atenção de líderes das outras siglas que integram a chapa anabolizada de Ricardo Nunes. Um assunto que está presente em conversas além das fronteiras do Estado de São Paulo.

Essas lideranças, que mantêm influência no Congresso e na Esplanada dos Ministérios, reconhecem que o governador enfrentou muitas pressões para abandonar Nunes no meio do caminho, mas, mesmo assim, manteve a palavra e mergulhou na campanha para impulsionar a candidatura do aliado. É algo relevante para quem cogita afastar-se do PT para robustecer uma candidatura rival em 2026.

Adversários de Tarcísio relativizam. Dizem que ele não tinha opção e precisou mergulhar de cabeça na campanha por “uma questão de sobrevivência”. Em outras palavras, para evitar que uma vitória de Pablo Marçal interdite o resto do seu mandato.

Interlocutores de Bolsonaro, por sua vez, dizem que Tarcísio dificilmente será alçado candidato a presidente do grupo que deixou o Planalto em 2022. Asseguram que hoje a escolha seria o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-mandatário, ou a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mas o que parece haver consenso é que a eleição municipal tende a ser um divisor de águas na trajetória política de Tarcísio de Freitas.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário