Folha de S. Paulo
Disputa entre Moraes e Musk por acesso a X
lembra querela entre Trump e Kim Jong-un em torno de bombas atômicas
A refrega entre Alexandre de
Moraes e Elon Musk em
torno do acesso ao X lembra-me o embate entre Donald Trump e Kim Jong-un em
2018 para estabelecer quem detinha o maior botão nuclear –uma disputa de egos
que produziu muito ruído sem alterar substancialmente o statu quo.
Moraes até começa com mais razão do que Musk. Se uma empresa estrangeira que atua no Brasil se recusa a cumprir decisões judiciais, é perfeitamente razoável que as autoridades locais lhe imponham multas e eventualmente determinem o fechamento de seus escritórios no país.
Em condições normais, esta última sanção
torna mais difícil para a firma monetizar suas operações, algo que empresários
racionais tentarão evitar a todo custo. É claro que, se quem estiver no comando
da companhia for um bilionário abrutalhado disposto a perder dinheiro para
satisfazer seus caprichos ideológicos, as coisas ficam mais difíceis para os
juízes. É do jogo. Quem atua em nome do Estado precisa sujeitar-se a regras
rígidas que limitam seu poder de fogo.
Em situações extremas –imagine o X
impulsionando desinformações sobre a pandemia--, penso que o STF poderia
determinar o bloqueio da rede em território nacional, mas não acho que posts de
figuras secundárias do bolsonarismo estejam nesse nível de perigo. Trata-se,
como observou a OAB, de uma questão de proporcionalidade.
E fica pior. Moraes não se limitou a tomar medidas contra o X, mas indicou que
pretende punir também residentes no Brasil que encontrem caminhos alternativos
e não ilegais de acessar a rede. O X, vale lembrar, é mais do que os posts de
bolsonaristas.
"Mutatis mutandis", é como se o magistrado proibisse brasileiros de
entrar numa biblioteca (sediada no exterior) porque ela mantém em suas estantes
algumas obras que violam direitos autorais e o bibliotecário-chefe se recusa a
excluí-las.
O jurista é Moraes e não eu, mas ninguém me
tira da cabeça que as decisões do magistrado violam o espírito e a letra dos
dispositivos constitucionais que tratam da liberdade de informação.
Será?
ResponderExcluir'O Brasil está vivendo um golpe em câmera lenta com as ações do
ResponderExcluirSTF', diz cientista político“
Reportagem do Estadao