Correio Braziliense
Um estudo técnico do Ministério da
Agricultura concluiu que 31,8% das exportações brasileiras para a Europa
poderão ser afetados por causa do desmatamento
O governo brasileiro estuda recorrer à
Organização Mundial de Comércio (OMC) contra as medidas da European Union
Deforestation Act (EUDR), a lei antidesmatamento da União Europeia (UE), que
considera abusivas e entrarão em vigor a partir de janeiro do próximo ano. O
principal objetivo da nova lei é impedir a importação de produtos originários
de áreas que foram desmatadas, legalmente ou não, a partir de 2020. Entretanto,
com a onda de incêndios florestais no Brasil, o governo terá muitas
dificuldades para sustentar o pleito. As circunstâncias políticas na Europa
também impedem qualquer possibilidade de abrandamento da nova legislação pela
UE.
Na terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), recebeu a presidente do Conselho Federal da Alemanha, Manuela Schwesig, para tratar do assunto. Afirmou que o Senado continuará esse trabalho junto às delegações que virão ao Brasil para a Cúpula de Líderes do G20. O evento está agendado para 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro.
"Eu quero registrar a importância da
intervenção do chanceler, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do
ministro Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária, justamente para que esse
esclarecimento seja feito e que se possa, então, estabelecer regras que sejam
claras às tradings, às grandes produtoras, aos pequenos produtores e aos médios
produtores, para evitar prejuízos à produção brasileira, que é motivo de
orgulho nacional", declarou Pacheco.
Na semana passada, o governo enviou uma carta
à cúpula da UE pedindo que a legislação não seja aplicada, sob risco de
impactar as exportações para os países da região. A nova lei tem como foco sete
setores: gado bovino, café, cacau, produtos florestais (que abrange papel,
celulose, bem como madeira), soja, óleo de palma e borracha. A lista inclui
derivados, como couro, móveis e chocolate.
Um estudo técnico do Ministério da
Agricultura concluiu que 31,8% das exportações brasileiras para a Europa
poderão ser afetados. No ano passado, o Brasil vendeu US$ 46,3 bilhões ao bloco
europeu. Com a lei, há impacto potencial de US$ 14,7 bilhões, valor
equivalente, por exemplo, ao que o país embarcou para o Oriente Médio (cerca de
US$ 15 bilhões) em 2023.
A narrativa brasileira é de que a lei punirá
países que preservaram florestas. Entretanto, a falta de controle sobre as
queimadas põe tudo a perder. Não dá para responsabilizar o governo do ex-presidente
Jair Bolsonaro por tudo o que está acontecendo. Mesmo que haja
suspeita de que existe uma ação orquestrada de criminosos por trás de muitos
incêndios.
Sem comprovação, apesar das investigações da
Polícia Federal (PF), essa tese será tratada como teoria conspiratória e
desculpa esfarrapada nos fóruns internacionais. O problema é do governo Lula,
que terá que tomar medidas mais robustas de prevenção e pronta resposta contra
o desmatamento e catástrofes naturais, como a que estamos vivendo agora. E do
Congresso, que na atual legislatura trabalhou para mitigar a legislação
ambiental, ao menos até o fogo alcançar o agronegócio de exportação.
Frente parlamentar
A Câmara dos Deputados tem debatido os
impactos do regulamento da UE contra o desmatamento em cadeias produtivas e as
exportações brasileiras, mas o faz com o olhar unilateral dos representantes do
agronegócio. Para manter a unidade, os líderes do setor fogem como o diabo foge
da cruz de qualquer discussão sobre a contenção do desmatamento e outras
medidas voltadas para a proteção ambiental.
Há, sim, um setor moderno e progressista no
agronegócio brasileiro, mas sua liderança é exercida apenas no terreno da
produção e do comércio exterior, não se apresenta como uma força política
moderna no Congresso. Fica a reboque do atraso. De fato, há problemas políticos
que precisam ser levados em conta nessa matéria, porque a pressão dos
agricultores europeus, principalmente da França, vem acompanhada também do
fortalecimento da extrema direita nos principais países daquele continente,
mais recentemente na Alemanha.
Essa é uma das razões, inclusive, para que o
acordo comercial entre o Mercosul e a UE não saia do papel. A nova regulação
europeia sobre o desmatamento envolve fatores complexos, que apresentam
prejuízos diretos ao comércio agrícola e, principalmente, aos pequenos e médios
produtores, nas condições atuais.
Do ponto de vista do direito internacional, o
Itamaraty argumenta que a regulamentação extrapola os limites de legislar sobre
seu próprio território e mercado, além de não observar os princípios
internacionais. E incentiva o aumento das desigualdades nas relações
comerciais.
Aprovada em 19 de abril pelo Parlamento Europeu, a lei determina a proibição da importação de produtos provenientes de áreas com qualquer nível de desmatamento identificado até dezembro de 2020 — seja legal ou ilegal. Entre as principais punições, estão a suspensão do comércio importador, a apreensão ou completa destruição de produtos, além de multas em dinheiro correspondentes a até 4% do valor anual arrecadado pela operadora responsável. Para entrar em território europeu, as commodities precisarão passar por rigorosa verificação.
Muito bom. Não apenas a atual legislatura do congresso trabalhou pra enfraquecer a legislação ambiental, mas também a anterior, submissa aos interesses do criminoso ambiental Ricardo Salles, hoje deputado federal por SP, que foi ministro do MMA no DESgoverno Bolsonaro e propunha a passagem da BOIADA (enfraquecimento das legislações) no congresso e nos ministérios bolsonaristas ENQUANTO A POPULAÇÃO E A IMPRENSA SE PREOCUPAVAM COM A PANDEMIA...
ResponderExcluir''Destruição dos produtos'' é demais.
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