Correio Braziliense
A anistia aos participantes do 8 de janeiro de 2023 e ao ex-presidente, que está inelegível, mobiliza partidários do ex-presidente e encontra espaço no Centrão
Vamos aos fatos. Deputados e senadores
aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro protocolaram, na segunda-feira, um
pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo
Tribunal Federal (STF). Alguns já começaram a retirar assinaturas por
orientação dos respectivos advogados.
O pedido acusa o ministro de forjar provas,
cercear a liberdade de expressão e abusar do poder à frente de investigações
sob o guarda-chuva do inquérito das fake News, para o qual Moraes foi designado
relator, de ofício, pelo então presidente do STF, ministro Dias Toffoli.
"Estamos aqui pedindo o impeachment de Alexandre de Moraes como último recurso para que possamos resgatar a normalidade", disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente.
O pedido ocorre depois dos ataques de
Bolsonaro ao ministro, no ato que realizou no último 7 de setembro, na Avenida
Paulista, em São Paulo. O ex-presidente também pediu anistia para todos os
envolvidos na tentativa de
golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes
invadiram e depredaram os palácios da Praça dos Três Poderes.
Ontem, na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara, a oposição tentou pôr em discussão uma proposta de anistia dos
envolvidos com os atos golpistas. Houve tumulto. Uma manobra dos governistas
impediu que a proposta de inclusão do projeto na pauta fosse aprovada.
O Supremo condenou 227 pessoas pelos crimes
de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de
Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de
patrimônio tombado. Ao todo, 1.644 pessoas envolvidas naqueles episódios foram
denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF).
A anistia aos processados do 8 de janeiro e a
Bolsonaro, que está inelegível, é uma bandeira da oposição que não têm maioria
no Congresso, mas mobiliza os partidários do ex-presidente e encontra espaço
junto ao Centrão. O pedido de impeachment de Moraes, que está sendo demonizado
pela oposição, enfrenta mais dificuldade, porém, repercute muito devido à sua
hiperexposição nas redes sociais. Principalmente depois dos episódios que
levaram Moraes à proibição do X (antigo Twitter) e ao confronto direto com o bilionário
Elon Musk, dono da plataforma e da empresa Starlink — que fornece sinal de
internet em regiões remotas do país e teve os ativos financeiros bloqueados
pelo ministro.
Muita indefinição
Vamos aos bastidores. A anistia de Bolsonaro
e o impeachment de Moraes viraram moeda de troca nas articulações para a
sucessão dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL). A antecipação do debate sobre a sucessão de ambos, em
plena campanha das eleições municipais, permite que a discussão da anistia e do
impeachment prospere nos bastidores das duas Casas.
Candidato à sucessão de Pacheco, o senador
Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da CCJ do Senado — que pretende voltar
ao comando da Casa —, aprova em votações-relâmpago matérias de interesse da
oposição. Até agora, o governo não sinalizou apoio a qualquer nome no Senado.
Seu líder na Casa, senador Jaques Wagner (PT-BA), quando questionado sobre
assunto, diz que "o candidato do governo será aquele que vai ganhar".
Somente a senadora Eliziane Gama (PSD-MA)
ensaia uma candidatura de oposição, mas seu partido está mais interessado numa
aliança com o União Brasil na eleição da Câmara. Em dificuldades eleitorais no
seu estado, Alcolumbre corre contra o relógio. Seu principal adversário no
Amapá, o prefeito Dr. Furlan (MDB), que concorre à reeleição, lidera a disputa
em Macapá, com 91% das intenções de voto, segundo pesquisa Quaest/TV Globo.
Aline Gurgel (Republicanos), Patrícia Ferraz (PSDB) e Gilvam Borges (Avante) aparecem
empatados em segundo lugar, com 2% das intenções de voto cada.
Na Câmara, o deputado Elmar Nascimento
(União-BA) era o candidato ungido pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL),
seu grande amigo. Buscava uma aproximação com a oposição, principalmente o
apoio do PL. Sua candidatura, porém, não empolgou e o Centrão implodiu. Os
deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antônio Brito (PSD-BA) eram seus
principais concorrentes e, também, alternativas para Lira.
Pereira retirou sua candidatura em prol de
Hugo Motta (Republicanos-PB), que, supostamente, teria o apoio do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e de Bolsonaro, numa articulação conduzida
pessoalmente por Lira, para deslocar da disputa os demais candidatos do
Centrão. Deu ruim: Elmar e Brito fizeram uma aliança contra Mota, que passa
também pela eleição de Alcolumbre no Senado.
O Centrão rachou. Nada indica que a
candidatura de Motta seja uma barbada. Nesse cenário pantanoso, as articulações
pela anistia de Bolsonaro e seus partidários, e a favor do impeachment de
Moraes, prosperaram.
Cruzes!
ResponderExcluirAnistia de Bolsonaro?? Cadeia pro canalha!
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