quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Mariliz Pereira Jorge - Machulências do Marçal

Folha de S. Paulo

Agressivo, misógino, autocentrado... Não há nada de inofensivo no que ele faz

Não me surpreenderia se os eleitores em São Paulo começassem a partir para as vias de fato. É isso o que Pablo Marçal tem oferecido a quem acompanha os debates: incentivo à violência. Apesar do comportamento típico de adolescente com hormônios demais e cérebro de menos, o candidato do PRTB proporciona mais do que um festival de machulência explícita, é uma amostra do que é festejado em comunidades online que radicalizam homens em tenra idade.

Marçal poderia ser lido só como um baderneiro, mas é o típico "Red Pill’, termo usado para descrever coaches e influenciadores do que há de mais vil na masculinidade. Agressivo, misógino e autocentrado, reforça em rede nacional o estereótipo do homem que ainda resiste à mudança dos tempos. Provoca brigas corporais com adversários, aposta no discurso do homem provedor, na mulher submissa e parideira.

Não há nada de inofensivo no que Marçal faz. A inspiração para suas táticas bem-sucedidas, com conteúdo que ganha notoriedade e engajamento no meio digital, não poderia ser pior: o ex-lutador de kickboxing Andrew Tate, enrolado até o pescoço em denúncias de tráfico de mulheres, estupro, formação de quadrilha.

Tate foi alvo de uma investigação que mostrou como os algoritmos o tiraram da obscuridade e o transformaram numa celebridade, com cortes de vídeos com discurso violento contra mulheres, tageados com seu nome, e distribuídos nas redes. Exatamente o que Marçal faz agora na política. Se é que podemos chamar isso de política.

Gostaria de poder simplificar o problema desse tipo de gente, como fez a ativista ambiental Greta Thunberg. Ao ser provocada por Tate, que pediu seu email para que enviasse a relação de seus 33 carros e a emissão de poluentes, a adolescente respondeu: energiadepintopequeno@tenhaumavida.com.

O problema é que essas machulências de Marçal, menos graves do que estupro e tráfico, ganham relevância entre um público com baixa autoestima, sentimento de fracasso social e de falta de perspectiva profissional, alvos fáceis para comunidades com conteúdo violento como o de Tate.

 

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