sábado, 28 de setembro de 2024

O menor desemprego

O Globo / Mayra Castro e Marcos Furtado

Taxa caiu para 6,6%, e ocupação atinge recorde de 102 milhões. Renda cresce

A taxa de desemprego foi de 6,6% no trimestre encerrado em agosto, a menor para o período desde 2012, quando começou a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que foi divulgada ontem pelo IBGE. O mercado de trabalho aquecido fez a população ocupada atingir novo pico de 102,5 milhões, aumentando em mais de 1 milhão em um trimestre. O rendimento médio subiu para R$ 3.228, numa alta de 0,5% frente a trimestre anterior.

Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/ Ibre), diz que o resultado veio levemente abaixo do esperado, com a redução do número dos desempregos (menos 502 mil) acompanhado de um aumento na força de trabalho:

— Mercado de trabalho aquecido e renda subindo estimulam as pessoas a voltarem ao mercado. E essas pessoas têm conseguido emprego. Houve alta em todas as atividades econômicas, com destaque para construção e comércio, mas disseminada pelos setores. É um resultado bastante positivo.

O índice caiu frente ao trimestre anterior que fora de 7,1%.

Emprego formal

O comércio se destacou, com aumento de 1,9% no trimestre. Foram mais 368 mil trabalhadores no setor. De acordo com Adriana Beringuy, coordenadora da pesquisa, o baixo desemprego é resultado da expansão da demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas, o que faz com que a taxa de desocupação chegue a valores próximos aos de 2013, quando o indicador estava em seu menor patamar.

— Essa redução é fruto de um efeito acumulado de aumento da população ocupada que vemos assistindo há vários trimestres. Embora o comércio tenha sido o grande destaque, nenhuma atividade econômica recusou trabalhador. Elas estão, em sua maioria, retendo os trabalhadores, com recordes de ocupação — explica.

E, mais uma vez, houve recorde de empregados com carteira de trabalho assinada, 38,6 milhões, e dos ocupados sem carteira, 13,2 milhões. Rafael Perez, economista da Suno Research, chamou a atenção para esse resultado, por aumentar a renda média dos trabalhadores, já que os empregos formais pagam mais em média, mesmo que não sejam aos mais altos já registrados, com mais contratações em setores nos quais o salário é menor:

— As vagas com carteira assinada estão nas máximas históricas, só que esse emprego não é exatamente aquele que paga altíssimos salários. São mais vagas no setor de serviços, no varejo, em construção civil.

Após mais de cinco anos desempregado, Luiz Cláudio Rodrigues começou a trabalhar na última quinta-feira, como auxiliar de serviços gerais em um hospital, no Rio de Janeiro:

— Consegui esse emprego por meio de uma amiga que encaminhou meu currículo aos profissionais do hospital. Agora, estou no período de experiência de três meses.

Para pagar as contas, ele passou a realizar trabalhos pontuais como jardineiro. O carioca atribui a dificuldade de se recolocar no mercado de trabalho formal à sua idade, 57 anos, e ao fato de não ter concluído o ensino fundamental:

— Fiquei muito tempo sem contribuir para o INSS, e com as mudanças na lei, eu já tive dois pedidos de aposentadoria negados. A gente começa a sentir o cansaço e as dores no corpo, mas atualmente as oportunidades de trabalho são voltadas aos mais jovens.

O salário de R$ 3.228 representou uma alta de 5,1% frente ao mesmo período do ano passado. Com isso, a massa de rendimentos mensal, que é a soma das remunerações de todos os trabalhadores, chegou a R$ 326,2 bilhões, mostrando altas de 1,7% no trimestre e de 8,3% na comparação anual.

Tobler afirma que o rendimento acompanha a melhora do mercado de trabalho. Porém, ele considera que uma das consequências dessa alta é a escassez de mão de obra, principalmente qualificada, e a dificuldade de contratação em alguns setores, como o de construção. Outro ponto de atenção, em sua opinião, é a qualidade dos empregos gerados, que muitas vezes são temporários.

— A gente tem tido muito aumento de contratação via emprego sem carteira nesse mês, no setor público e privado. Isso tem uma relação forte com empregos temporários. É um ponto de alerta, porque possivelmente essas pessoas vão voltar a procurar emprego nos próximos meses — explica.

Pressão na inflação

Analistas afirmam que o mercado de trabalho aquecido aumenta a renda das famílias e o consumo, principalmente de serviços, o que pode gerar pressão na inflação.

— Não à toa, o Banco Central tem citado bastante essa questão do mercado de trabalho aquecido como um risco para a inflação. É algo bom para a economia real, mas é um risco para o Banco Central — explica Perez, que projeta taxa de desemprego ficando próxima de 6,5% no ano.

Já Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores, projeta queda maior. Para ele, o desemprego deve chegar a 6% no fim do ano.

— No fim do ano, temos a incorporação de temporários para suprir demandas de Black Friday, Natal, ano-novo. Por isso, a taxa de desemprego pode ir ainda mais para baixo, chegando próxima de 6%.

O que seria a menor taxa de desemprego desde 2012, em qualquer comparação temporal. A menor até agora é de 6,3% em dezembro de 2013.

 

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