O Globo
Meios tradicionais da política e avaliação
entre regular e boa ainda impulsionam prefeitos em capitais importantes
Depois de representar uma das maiores
rupturas em pleitos municipais nos últimos anos, com o incêndio Pablo Marçal
tendo virado assunto e modelo para candidatos em todo o país, a eleição vai
chegando à reta final com a onda aparentemente contida e os incumbentes,
prefeitos que disputam a reeleição, demonstrando a força do cargo e dos meios
tradicionais da política.
Quando se faz um sobrevoo nas capitais do
país, mesmo mandatários que enfrentaram problemas graves e não se saíram tão
bem, como Sebastião Melo (MDB), da devastada Porto Alegre, se mostram
competitivos a menos de 20 dias do primeiro turno.
O tira-teima da eleição de 2022, que, se imaginava, seria uma das tônicas da campanha, vai se mostrando um pouco mais complexo. Nem Lula nem Bolsonaro brilham como indutores de votos, com seus candidatos mais próximos tendo dificuldade de herdar a maioria do eleitorado que ambos reuniram há menos de dois anos.
Não que as questões ideológicas estejam fora
dos palanques, muito pelo contrário. Nas principais cidades, como a capital
paulista, a divisão que tem pautado a política nacional está presente nos
debates e nas sabatinas, muitas vezes deixando em segundo plano a discussão
mais urgente dos temas que dizem respeito ao dia a dia dos cidadãos.
Mas nuances inesperadas apareceram para
mostrar que nem Lula nem Bolsonaro têm assegurada a primazia de ditar os rumos
do eleitorado de esquerda e de direita e que circunstâncias específicas da
disputa em cada cidade e as características pessoais de seus ungidos também
pesam, afinal.
O caso de Ricardo Nunes é um exemplo tanto da
força do instituto da reeleição, conjugado a ferramentas da velha política como
a grande coalizão capaz de levar ao domínio da propaganda de rádio e TV, quanto
da relativização do peso de Bolsonaro. A hesitação do ex-presidente levou o
apadrinhamento a mudar de mãos para Tarcísio de Freitas.
Daí por que seja lamentável que, quando já se
recupera da debandada de apoios e de votos a que foi submetido justamente pela
hesitação de Bolsonaro, Nunes tenha resolvido se curvar no altar da
radicalização e renegar a condução correta da pandemia que seu antecessor Bruno
Covas fez, com uma declaração negacionista a um extremista bolsonarista
investigado pelo STF. Faz isso no momento em que o favoritismo dos incumbentes
cujas gestões têm avaliação regular ou positiva começa a ficar claro em todo o
país. Um contrassenso.
É um tipo de erro que o prefeito do Rio,
Eduardo Paes, tem conseguido evitar de forma inteligente. O candidato do PSD
apresenta rejeição surpreendentemente baixa depois de três mandatos e tantas
eleições, inclusive algumas derrotas duras, como a que sofreu ao governo, em
2018, ou a da própria sucessão na Prefeitura, em 2016.
Um desavisado que não saiba que Lula apoia
Paes não ficará sabendo. O presidente aparece apenas em leves pinceladas na
campanha de um prefeito que faz questão de se apresentar como “síndico”, como
diria Tim Maia. Com isso, e a bordo de uma coligação ampla, Paes se mostra à
vontade como receptor de boa parcela dos votos de Bolsonaro em 2022, sem
precisar pagar o tipo de pedágio vexaminoso a que Nunes se dispôs, justamente
por entender a vantagem enorme que representa ser candidato no cargo, tendo o
que mostrar.
O mesmo caminho de hackear a polarização a
partir do foco na gestão é seguido pelo prefeito do Recife, João Campos (PSB),
que emerge como principal nova liderança do país com potencial de representar,
enfim, uma alternativa de centro para a política nacional num futuro não tão
distante.
Viva o centro!
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