Folha de S. Paulo
Subestima-se efeito de certo gasto público,
por exemplo, diz secretário da Fazenda
Desde fins de 2020, as previsões de
crescimento da economia têm
subestimado a variação que viria a ocorrer de fato no PIB. A previsão
era de alta de 0,36% do PIB em 2022; o crescimento
foi de 3% (consideradas as previsões de economistas do setor
privado, feitas na última semana do ano anterior e compiladas no Boletim Focus,
do Banco Central).
Para 2023, previsão de 0,8%, alta de 2,9%.
Para este 2024, previsão de 1,5% —o PIB deve crescer mais de 2,5%.
Muito importante é saber se, ou em quanto, o erro de previsão está relacionado a erros de diagnóstico sobre o funcionamento da economia e do efeito de políticas econômicas ou sobre problemas e potencial produtivo do país. Por que o erro tem sido notável? Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do ministério da Fazenda, tem o que ele mesmo chama, por ora, de "hipóteses".
Mello observa que o crescimento
de 2018 e 2019 foi superestimado; de 2021 em diante, subestimado.
Modelos comumente usados por economistas dariam ênfase excessiva a efeitos
monetários (juros,
por exemplo) e menor a efeitos fiscais (gasto). Por exemplo, uma contenção de
gasto, como o "teto" em 2018 e 2019, levaria a baixas de taxas de
juros que estimulariam o investimento privado e o crescimento —não aconteceu.
O efeito do gasto público seria mal medido e
compreendido. Primeiro, porque o "multiplicador" da despesa estatal
seria maior do que se imagina. "Multiplicador": o efeito em cascata,
na atividade econômica, do gasto extra do governo (direto ou indireto).
Segundo, porque gastos diversos têm multiplicadores diferentes. Aumentos de
benefícios sociais para pobres, por exemplo, vão quase todos para o consumo
(ricos poupam mais da renda extra); investimentos como o Minha Casa,
Minha Vida, por exemplo, causariam efeitos diferentes e maiores na
economia.
Além do mais, modelos superestimariam o
efeito de juros ou não conseguem captar o fato de que, baixando a certos
níveis, ainda que relativamente altos, as taxas tornariam viáveis certos
investimentos. Demanda maior e confiança maior, "estados de espírito",
contribuiriam também para tal efeito, o que modelos têm dificuldade de captar.
Em certo ponto, o ritmo do PIB e a redução da
taxa de desemprego provocam inflação, com o que as taxas de
juros tendem a subir. A estimativa dessas medidas nos modelos seria ora muito
"dura". Isto é, o PIB potencial estimado seria baixo (até
recentemente, era comum a estimativa de 1,5%); o desemprego "natural"
seria alto (abaixo de 8% poderia ser inflacionário). Uma economia mais aquecida
e com desemprego menor, pois, logo viria a ser travada por juros altos e/ou
deterioração de expectativas.
Haveria subestimação do efeito de reformas na
produtividade? Desde 2017 e ainda no governo Lula
3, tem havido muitas delas. É possível, diz Mello, mas vai levar
tempo, pesquisa e mais dados para medir tal efeito. Mesmo o aumento da renda
do agro e
do petróleo podem provocar encadeamentos e mudanças produtivas de medição ainda
difícil.
Esta conversa é bem mais comprida e
complicada. Mello diz que a Fazenda procura
refinar hipóteses e testes. Fatores do erro de previsão podem ser vários, diz o
secretário. Por ora, com os dados mais à mão, gostaria de chamar a atenção para
certa incompreensão do efeito do gasto público.
Lendo e tentando entender.
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