Folha de S. Paulo
Não há urgência para 2024, diz gente no
Planalto; se adotado, começa só em novembro
Assessores políticos de Luiz Inácio Lula da
Silva não estão animados com a ideia de decretar horário de verão para este
ano. Para eles, o assunto subiu no telhado, tem inconveniências políticas e
técnicas e não seria tão urgente, embora digam não ter ideia do que o
presidente pretende decidir, até o fim do mês.
O ONS (Operador
Nacional do Sistema Elétrico) recomendou oficialmente que se adiante o relógio
em uma hora, ainda neste ano, em reunião da cúpula da gestão do
setor elétrico, nesta quinta-feira (19). O ONS é uma espécie de diretor
nacional de tráfego da eletricidade: diz de onde sai a energia e para onde vai.
Na estimativa dos técnicos, a economia seria de R$ 400 milhões durante um horário de verão inteiro (outubro a fevereiro). Mas a poupança maior se dá em outubro (2,9% do consumo bruto total), caindo em novembro (2,5%), dezembro (1,4%) etc.
É quase
impossível que a medida vigore em outubro. Haveria problema no
planejamento das eleições e com as urnas eletrônicas. Bancos e empresas aéreas,
por exemplo, precisariam fazer ajustes técnicos.
Isto posto, o horário de verão poderia
começar no domingo 3 de novembro. Nos últimos 20 anos, o período começava entre
14 e 21 de outubro, afora em 2004, 2006 e 2018, quando começou em novembro.
Quase em geral, terminava na terceira semana de fevereiro.
O objetivo do horário de verão é aumentar a
folga do sistema. Isto é, aumentar a
diferença entre oferta possível de eletricidade e o consumo no horário de pico do
início da noite. Em decorrência, baixa-se um pouco o custo da eletricidade.
Atualmente, é preciso recorrer à energia bem
mais cara e poluente das usinas termelétricas a fim de fornecer eletricidade
com folga, com segurança bastante para não haver apagão acidental.
A folga possível tem diminuído por causa de
mudanças no consumo, que cresceu, pela dependência cada vez maior de energia
solar ou eólica e por restrições do uso de hidrelétricas.
Essa folga pode vir a ser mínima em anos
secos, mais frequentes desde 2010. Já assistimos ao desastre climático ao vivo.
O país passa
por uma seca, mas neste 2024 os lagos das
usinas estão em níveis razoáveis. No início de setembro, a
quantidade de água para se produzir energia nas hidrelétricas do
Sudeste/Centro-Oeste era a maior desde 2011, com exceção de 2023, o melhor
deste século. Na reunião desta quinta, se disse que há perspectiva
de chuva em breve para a amazônia, onde os rios e hidrelétricas
estão desidratados.
Se houver seca de novo em 2025, porém, pode
haver estresse, como em 2021, quando estivemos à beira do racionamento. É
imprudência já não prever horário de verão para 2025. Melhor mesmo teria sido
planejá-lo para este 2024, assunto que zanzava na cúpula do setor elétrico e no
governo faz mais de dois meses.
Horário de verão causa transtornos físicos ou
psicológicos para várias pessoas; outras ficam mais inseguras de sair para o
trabalho ainda no escuro. Bares e
restaurantes gostam da medida, pois tendem a faturar mais. É o
sabido.
No entanto, pelo menos enquanto não se
revisar o planejamento e o funcionamento do setor elétrico, inclusive com a
adoção de baterias, vamos precisar de horários de verão. A questão de fundo é
que planos de aumento de oferta de energia estão atrasados, é necessário
reformar o sistema e a crise climática chegou.
Pois é.
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