sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Vinicius Torres Freire – A política do horário de verão

Folha de S. Paulo

Não há urgência para 2024, diz gente no Planalto; se adotado, começa só em novembro

Assessores políticos de Luiz Inácio Lula da Silva não estão animados com a ideia de decretar horário de verão para este ano. Para eles, o assunto subiu no telhado, tem inconveniências políticas e técnicas e não seria tão urgente, embora digam não ter ideia do que o presidente pretende decidir, até o fim do mês.

ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) recomendou oficialmente que se adiante o relógio em uma hora, ainda neste ano, em reunião da cúpula da gestão do setor elétrico, nesta quinta-feira (19). O ONS é uma espécie de diretor nacional de tráfego da eletricidade: diz de onde sai a energia e para onde vai.

Na estimativa dos técnicos, a economia seria de R$ 400 milhões durante um horário de verão inteiro (outubro a fevereiro). Mas a poupança maior se dá em outubro (2,9% do consumo bruto total), caindo em novembro (2,5%), dezembro (1,4%) etc.

É quase impossível que a medida vigore em outubro. Haveria problema no planejamento das eleições e com as urnas eletrônicas. Bancos e empresas aéreas, por exemplo, precisariam fazer ajustes técnicos.

Isto posto, o horário de verão poderia começar no domingo 3 de novembro. Nos últimos 20 anos, o período começava entre 14 e 21 de outubro, afora em 2004, 2006 e 2018, quando começou em novembro. Quase em geral, terminava na terceira semana de fevereiro.

O objetivo do horário de verão é aumentar a folga do sistema. Isto é, aumentar a diferença entre oferta possível de eletricidade e o consumo no horário de pico do início da noite. Em decorrência, baixa-se um pouco o custo da eletricidade.

Atualmente, é preciso recorrer à energia bem mais cara e poluente das usinas termelétricas a fim de fornecer eletricidade com folga, com segurança bastante para não haver apagão acidental.

A folga possível tem diminuído por causa de mudanças no consumo, que cresceu, pela dependência cada vez maior de energia solar ou eólica e por restrições do uso de hidrelétricas.

Essa folga pode vir a ser mínima em anos secos, mais frequentes desde 2010. Já assistimos ao desastre climático ao vivo.

país passa por uma seca, mas neste 2024 os lagos das usinas estão em níveis razoáveis. No início de setembro, a quantidade de água para se produzir energia nas hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste era a maior desde 2011, com exceção de 2023, o melhor deste século. Na reunião desta quinta, se disse que há perspectiva de chuva em breve para a amazônia, onde os rios e hidrelétricas estão desidratados.

Se houver seca de novo em 2025, porém, pode haver estresse, como em 2021, quando estivemos à beira do racionamento. É imprudência já não prever horário de verão para 2025. Melhor mesmo teria sido planejá-lo para este 2024, assunto que zanzava na cúpula do setor elétrico e no governo faz mais de dois meses.

Horário de verão causa transtornos físicos ou psicológicos para várias pessoas; outras ficam mais inseguras de sair para o trabalho ainda no escuro. Bares e restaurantes gostam da medida, pois tendem a faturar mais. É o sabido.

No entanto, pelo menos enquanto não se revisar o planejamento e o funcionamento do setor elétrico, inclusive com a adoção de baterias, vamos precisar de horários de verão. A questão de fundo é que planos de aumento de oferta de energia estão atrasados, é necessário reformar o sistema e a crise climática chegou.

 

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