Folha de S. Paulo
No quadro geral, perdeu Lula, perdeu
Bolsonaro, perdeu a polarização
A eleição de 2024 ficará marcada pelo caixa 2
cobrado a empresários em troca de oferta de contratos (apesar da derrama de
verbas públicas destinada aos candidatos), pela compra de votos que faz o
Brasil retornar aos tempos da República Velha e pela modernidade que representa
a infiltração de organizações criminosas.
Para ficar apenas em São Paulo: órgãos de inteligência noticiaram ao TRE-SP que 70 candidatos são suspeitos de ligação com o crime. Dez foram eleitos vereadores e dois levaram prefeituras.
Com bandidos na disputa, é natural que a bala
comesse solta no país inteiro. Um levantamento do Grupo de Investigação
Eleitoral da Unirio apontou que, de janeiro a outubro, houve 525 casos de
violência política (76 assassinatos), número que, em comparação com 2020, é
mais que o triplo. Em Natal, a PF investiga uma ameaça de morte contra Natália
Bonavides, a candidata da esquerda que não se elegeu.
Na campanha a prefeito de São Paulo não houve
tiros, mas quase. Uma lasca de civilidade limitou as agressões a cadeirada e
soco. Por sorte não se registrou deputados federais correndo de arma em punho
nas ruas, como na véspera da votação para presidente em 2022. Mas não faltou um
golpe baixo do governador Tarcísio de Freitas, ao dizer, com as urnas ainda
abertas e sem apresentar provas, que o PCC orientou o voto em Guilherme
Boulos.
Entre os otimistas —ou mal-informados— havia
a esperança de que o segundo turno mostrasse uma discussão aprofundada das
prioridades da metrópole. Veio o inacreditável apagão e quase tudo nos debates
se resumiu a ele. O mais importante ficou de fora: discutir a crise climática e
apresentar soluções para um cenário que se tornará cada vez mais adverso.
Segundo o Datafolha, quase a metade dos brasileiros avalia que as prefeituras
não estão fazendo nada para enfrentar uma situação que desabriga e mata.
Nas urnas, deu Ricardo Nunes.
Com jeito de amigo da onça, ele fez valer uma confortável posição no centro do
espectro político, para a qual havia sido empurrado pelo cometa Pablo Marçal.
No mapa geral, perdeu Lula, perdeu Bolsonaro —e perdeu a polarização.
O Padilha acaba de entrar no ranking das discussões no Brasil.
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