Valor Econômico
Polarização, presença de redes e desconfiança de eleitor transformar mercado de pesquisas
Acabou o mistério. Apuradas as urnas, a
disputa que mobilizou as atenções de todo o país nos últimos meses está
parcialmente decidida: Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (Psol) estão no
segundo turno das eleições paulistanas, com Pablo Marçal (PRTB) ficando de fora
por muito pouco.
Enquanto as atenções de todo o país se
concentraram em Boulos, Marçal, Nunes, Tabata e Datena, porém, uma das
competições mais acirradas destas eleições municipais não foi travada entre
candidatos ou partidos.
O ambiente político mudou muito nos últimos
anos. A polarização da sociedade afeta hábitos e comportamentos dos eleitores.
O medo de violência e a desconfiança nas instituições deixam muitos cidadãos
mais ariscos e avessos a declarações públicas de apoio a candidatos. Para
complicar, o avanço da tecnologia também transformou campanhas - e a forma de
apurar as intenções de votos.
É nesse cenário repleto de incertezas que se digladiam os principais institutos de pesquisa eleitoral em atuação no país atualmente - uma das grandes brigas deste ano. Com diferentes metodologias, investindo pesadamente em pessoas e em tecnologia, dezenas de empresas buscam a liderança de um mercado de centenas de milhões de reais.
Como pode ser visto no gráfico, até a
sexta-feira haviam sido protocoladas no Tribunal Superior Eleitoral 14.229
pesquisas, quantidade que já é 29,7% superior à do pleito de 2020. Do ponto de
vista do valor movimentado, por enquanto elas movimentaram R$ 155 milhões, uma
elevação de 39,6% também em relação às eleições municipais anteriores.
É importante destacar que o movimento está
diretamente atrelado à criação e à ampliação do fundo eleitoral. Desde que o
Supremo Tribunal Federal decidiu proibir as doações de empresas, em 2015, o
fundo partidário foi ampliado e, a partir de 2017, o fundão eleitoral tem sido
catapultado a cada eleição - até chegarem a um total de mais de R$ 6 bilhões
neste ano.
Com tanto dinheiro em caixa, partidos e
candidatos têm contratado mais pesquisas para guiar suas ações, além do
interesse natural que órgãos de imprensa têm para monitorar a evolução das
intenções de votos da população.
Na disputa por esse bolo, que por muitos anos
foi dominado por Ibope e Datafolha, novos entrantes despontaram nos últimos
anos. Até o momento, a liderança cabe à Quaest, com R$ 11,5 milhões em
contratos declarados ao TSE, seguida de perto pelo Instituto Verità (R$ 10,3
milhões). Num patamar abaixo, vêm Ranking Brasil (R$ 6,2 milhões), Paraná
Pesquisas (R$ 4,8 milhões), 100 Cidades (R$ 3,8 milhões), AtlasIntel (R$ 3,7
milhões), Datafolha (R$ 3,4 milhões), Ipec (R$ 3,1 milhões) e Real Time (R$ 2,8
milhões). Há ainda um montante de mais de R$ 105 milhões pulverizado em mais de
uma centena de institutos pequenos.
Pelas diferenças marcantes de método, nas
últimas semanas as atenções se voltaram para a distância entre institutos com
técnicas tradicionais, com entrevistas telefônicas ou na rua, e outros mais
inovadores, que se valem da busca ativa de respondentes nas redes sociais. E
essas discrepâncias metodológicas se refletem na distância nas medições em
algumas capitais.
Entre os institutos com maior penetração na
mídia, Quaest e Datafolha, de um lado, e AtlasIntel, no outro extremo,
representam o que está em jogo no mercado de pesquisas eleitorais atualmente no
Brasil.
E para verificar quem se deu melhor na
medição dos humores do eleitorado, vale conferir o desempenho entre elas na
reta final da campanha, comparando os resultados divulgados na véspera da
eleição por Quaest (um instituto de metodologia tradicional, embora com
técnicas mais modernas de amostragem) e a AtlasIntel, que inova com entrevistas
ativas nas redes sociais.
Num panorama mais amplo, ambos os institutos
captaram bem o resultado final das capitais, mas é bom ressaltar acertos e
erros de cada parte.
Em linhas gerais, a AtlasIntel se destacou
por captar melhor o crescimento na reta final de campanha de candidatos ligado
às figuras de Lula e Bolsonaro: foi assim ao rastrear o crescimento de Abílio
Brunini (PL) e de Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá (MT), a arrancada do bolsonarista
Marcelo Queiroga (PL) em João Pessoa (PB), e o sprint da petista Natália
Bonavides em Natal (RN).
Mas o resultado da AtlasIntel ficou longe do
apurado pela Quaest em alguns dos principais distritos eleitorais do país. A
AtlasIntel subestimou a posição de Ricardo Nunes em favor de Guilherme Boulos e
Pablo Marçal em São Paulo (SP) e chegou a colocar a vitória de Eduardo Paes em
xeque frente a uma subida de Alexandre Ramagem que não se concretizou no Rio de
Janeiro.
A Atlas também superestimou a performance de
Gabriel Azevedo (MDB), jovem político com forte engajamento nas redes, mas que
teve um desempenho (pouco acima de 10%) bem abaixo do medido pela empresa
(18,3%), que o apontava como forte candidato ao segundo turno. Em todos esses
casos (São Paulo, Rio e BH), a metodologia da Quaest se mostrou mais assertiva.
Noves fora os acertos e erros de cada
instituto, vê-se que o multimilionário mercado das pesquisas eleitorais tende a
permanecer sem um vencedor definido, num contexto de mudanças de hábitos e de
desconfiança dos eleitores com seus prognósticos.
O imprevisível tomou conta da política com as redes sociais e a mentira passou a ser aceita como fato da vida. Como resultado, está cada vez mais difícil a vida dos institutos de pesquisa.
ResponderExcluirAs pesquisas não erraram,sei lá.
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