quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Carlos Pereira - Voto de pobre na direita não é fruto de alienação

O Estado de S. Paulo

Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda

Tem sido propagada uma interpretação de que o voto de eleitores pobres em candidatos e partidos de direita seria decorrência de um problema informacional. O sociólogo Jessé Souza, por exemplo, argumenta que a esquerda perdeu as eleições municipais porque o eleitor “pobre e branco do Sul e do Sudeste do Brasil” e “negro evangélico” é desinformado e alienado.

Para Jessé, esses eleitores não saberiam os “reais motivos” de sua pobreza. Ninguém jamais teria explicado para eles por que se tornaram pobres e por que teriam menos oportunidades. A pobreza e as injustiças sociais adviriam, para essa interpretação, de problemas estruturais... de um longo processo de exploração e de dominação de uma elite econômica e política egoísta e predatória e que agora estaria querendo manipulá-los. A conclusão que se tira dessa linha de argumentação é a de que, uma vez informados dos seus “reais inimigos” e dos “verdadeiros motivos” que os teriam levado e mantido na pobreza, esses eleitores necessariamente votariam em candidatos de esquerda.

Essa abordagem é muito parecida com a linha argumentativa daqueles que acreditavam que eleitores votam em políticos corruptos porque não sabem diferenciá-los dos não corruptos (Ferraz e Finan, 2008). Acreditava-se que, uma vez informados, eleitores sempre prefeririam votar em políticos não corruptos. Sabe-se hoje que o problema não é apenas informacional. Mesmo eleitores informados votam em políticos corruptos, seja por ganhos privados (Manzetti e Wilson, 2007), pelo provimento de políticas públicas (Pereira, Melo e Figueiredo, 2009), por alinhamento político e ideológico ou mesmo por relativizações cognitivas (Barros, Goldszmidt e Pereira, 2020).

Eleições municipais não são garantia nem bons preditores do que ocorrerá nas eleições gerais subsequentes. Portanto, partidos que tiveram desempenho ruim/bom nas eleições municipais de 2024 não necessariamente irão reproduzir a mesma atuação em 2026 e vice-versa.

Mas, a partir da fraca performance da esquerda nestas eleições municipais, é possível inferir que ela parece ter perdido a capacidade de falar para o eleitorado de baixa renda que costumava votar no PT no passado recente.

O eleitor pobre não deve ser entendido de maneira unidimensional, como um miserável faminto que apenas se contenta com políticas de transferência de renda. Ele é complexo. Tende a ser um frequentador de uma igreja, talvez evangélica, que lhe expõe a perspectiva e o sonho de melhoria de vida via trabalho, esforço, mérito e aperfeiçoamento individual.

A esses eleitores pobres a esquerda tem ofertado um projeto de inclusão via combinação de emprego CLT e de programas de proteção social e de transferência de renda. Há uma espécie de esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda que é ancorada em aumento do gasto público em um contexto de restrição fiscal e de intolerância à elevação da carga tributária. Os eleitores pobres de certa forma perceberam que mais carga tributária não trará um futuro melhor para eles nem para seus filhos.

Essa agenda, portanto, não mais satisfaz o eleitorado pobre, que mudou e a esquerda não viu… Enquanto a esquerda demoniza empreendedores, a direita chama o eleitor pobre para se tornar um deles. Enquanto a esquerda oferece políticas públicas inclusivas, mas de qualidade duvidosa, a direita oferta o sonho de melhora das condições de vida por meio de esforço e iniciativas individuais. Enquanto a esquerda promete proteção e segurança, a direita oferta o prêmio do risco, o direito de querer mais, de melhorar e de mudar seu status social e financeiro.

Está claro, portanto, que as soluções ofertadas pela esquerda têm sido insuficientes para esses eleitores pobres, que parecem estar cansados e descrentes de suas políticas e experiências de governo. Se quiser se mostrar competitiva em 2026, a esquerda terá de se renovar e incorporar as demandas, os sonhos e os desafios dessa parte da população que, em vez de alienada ou desinformada, é ambiciosa e quer mais aqui e agora.

 

3 comentários:

  1. A imprensa de esquerda é muito preocupada com a derrocada Eleitoral
    Só que tem considerar Que as experiências são horríveis PT no Brasil a quase 20 anos só miséria Educação péssima saúde péssima segurança nem se fala o povo está cansado e agora mais que a esquerda resolveu Com apoio do ST F implantar uma ditadura censurando perseguindo todas as pessoas conservadoras e de oposição
    No mundo todo povo cansou está dizendo não

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  2. Há portanto um "esgotamento da saída social-democrata oferecida pela esquerda". Quer dizer que as saídas oferecidas pela direita são bem-sucedidas e, pior, inesgotáveis? :-) Era só o que faltava.

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  3. A saída oferecida pela direita brasileira em 8/1/2023 ainda não teve o julgamento dos principais envolvidos...

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