Folha de S. Paulo
Defeito do financiamento de campanhas está
nos abusos e na falta de punições
Nada contra o anseio de congressistas e
supremos magistrados de rever os
atuais termos de financiamento das campanhas eleitorais. Está ruim
mesmo. A correção pretendida em 2015, quando foram proibidas as doações de
empresas, não teve o efeito saneador esperado.
A coisa continuou errática e, sobretudo, desigual em relação à paridade de condições entre partidos e respectivos candidatos. Algo há, realmente, a ser revisto. Nesses nove anos, a situação piorou: concentraram-se recursos nas direções partidárias, que os distribuem como querem, dentre outras distorções.
Mas isso não ocorreu pelas razões ora
alegadas: a rejeição da sociedade ao fundo eleitoral e a continuidade do uso de
caixa 2. De fato, isso aconteceu, mas faltou apontar as responsabilidades. E
elas são daqueles que agora propõem a revisão.
O galho nasceu torto, continua assim e, como
de praxe, promete morrer torto. O rechaço ao fundo se dá em função do volume
absurdo de dinheiro carreado por decisão dos parlamentares, cujo apetite
aumenta a cada eleição.
O primeiro foi de R$ 1,7 bilhão, aprovado em
2017. Quatro eleições depois,
de R$ 4,96 bilhões. O maior do mundo, considerando as democracias adeptas da
prática. Nem por isso o custo se refletiu em melhoria na qualidade da política.
Já o uso do caixa 2 segue em cena por culpa
dos partidos que recorrem a ele e da Justiça e demais instâncias que falham na
fiscalização e são inoperantes nas punições. Portanto, se defeito há, o
problema não é todo da regra, mas dos abusadores e daqueles que os deixam
exorbitar.
O debate é legítimo até porque a decisão
original foi tomada no calor da urgência de se colocar um freio na farra das
ilicitudes do método "por fora". Mas os primeiros acordes da sinfonia
não indicam melhoria: uns propõem a simples retomada das doações empresariais,
outros sugerem a junção delas ao derrame da dinheirama pública.
Adotada, a fórmula seria a união da fome com
a vontade de comer. Uma aliança do assalto ao cofre da União aos interesses de
gente que depois cobra a conta do jeito que a Lava Jato nos
contou.
Se correr o bicho pega...
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