quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Há boas notícias no resultado das eleições – Zeina Latif

O Globo

A vitória do centro poderá influenciar o pleito em 2026. Há boas chance de haver candidatos competitivos de perfil moderado

A melhor notícia das eleições municipais é o sinal de redução da polarização (entre extremos), tema já discutido aqui. Somados, os partidos de centro — PSD, MDB, PP, União Brasil, Republicanos e Podemos — conquistaram 19 capitais e 3.365 municípios.

Não que os partidos de centro sejam garantia de gestão eficiente e probidade administrativa. Trata-se, na verdade, de ter um ambiente mais propício ao diálogo, ingrediente fundamental para o avanço de reformas.

Mesmo nos municípios, há importantes agendas estruturantes a serem abraçadas, como nas políticas de uso e ocupação do solo, na agenda ambiental, na educação infantil e nos marcos regulatórios para o empreendedorismo. A missão de prefeitos vai muito além da zeladoria.

Lula e Bolsonaro ficaram em segundo plano nas campanhas.

Lula, que defende a necessidade de renovação do PT desde a gestão Dilma, evitou maior exposição. Para alguns analistas, pesam também as lições do grande empenho na eleição da ex-presidente.

O PT conquistou apenas uma capital, e com margem muito estreita — Fortaleza, com grande empenho do ministro e ex-governador do Ceará, Camilo Santana —, e 252 municípios.

Já Bolsonaro, bastante atuante, produziu mais ruído do que casos de sucesso, ainda que o seu partido, o PL, tenha elegido prefeitos em 4 capitais e 517 municípios.

O ex-presidente rivalizou com antigos aliados que buscam posicionamento mais moderado. Em São Paulo, ensaiou apoio a Pablo Marçal, em contraposição ao governador Tarcísio, que apoiou Ricardo Nunes. Em Goiânia, confrontou o governador Caiado, cujo candidato, Sandro Mabel, saiu vitorioso.

Em Curitiba, em oposição ao governador Ratinho Jr, chegou a apoiar a candidata antissistema, Cristina Graeml, em vez do vencedor Eduardo Pimentel, cujo vice era do seu partido.

Merecem comentários o baixo teto de candidatos antissistema e o desconforto de eleitores com as estridências e incoerências dos candidatos, como visto em São Paulo. Acrescente-se as dificuldades enfrentadas por Guilherme Boulos para convencer os paulistanos de sua moderação após um histórico extremista.

Os entrantes ou mesmo outsiders da política tradicional contribuem para chacoalhar o status quo, o que é positivo. Mas há limites. Os eleitores demonstram rejeitar excessos, inclusive os do passado, guardados na memória. Os sinais de amadurecimento dos eleitores são recados para as novas gerações de políticos.

Quanto à elevada abstenção (29,3%), ela pode decorrer de fatores variados, não se resumindo ao desânimo de eleitores. Em Fortaleza, com as pesquisas de intenção devoto indicando um placar bem apertado, justamente entre PT e PL, a abstenção foi baixa (15,8%). Já em Porto Alegre, com maior folga do líder, ela até aumentou (34,8%).

Não se descarta uma mudança de costumes após a pandemia, quando a abstenção saltou bastante. Vale citar que ela costuma ser mais alta no Sul e no Sudeste, regiões mais ricas, onde o custo de perda de lazer por conta do voto pode ser considerado elevado pelos indivíduos.

Mais preocupante foi a baixa renovação política, com índice de reeleição recorde (cerca de 80%). A explicação pode estar no maior uso da máquina pública. Com caixa reforçado pelo aumento das transferências federais nos últimos anos, houve aceleração de investimentos.

Além disso, houve crescimento dos fundos eleitorais e das emendas parlamentares, particularmente importantes em municípios menores, o que precisa ser atenuado.

Bons prefeitos podem e devem ser reeleitos, mas em condições mais equilibradas de concorrência. Cabe maior atenção das instituições democráticas, como o TSE, a essas distorções.

Ainda que sejam lógicas diferentes, a vitória do centro poderá influenciar o pleito em 2026. Há boas chances de haver candidatos competitivos de perfil moderado, demandando um reposicionamento do PT.

Isso sem contar que a fórmula do partido de estimular a economia para ganhar as eleições tem perdido eficácia. Especialistas apontam que as classes médias, cada vez mais, atribuem o seu sucesso profissional ao esforço próprio, e não às políticas governamentais. Já a inflação mais alta é motivo de insatisfação com o governo.

O crescimento de partidos de centro poderá influenciar a dinâmica no Congresso, inclusive na eleição na Câmara. Uma oportunidade para uma eventual agenda reformista de Lula.

 

2 comentários:

  1. Ôôôô, Zeina! Que tal de "Centro" é esse, que só vota em proposta da Direita?

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  2. Concordo com o Laurindo Junqueira,o Brasil precisa de um ''Centro'' de verdade.

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