O Globo
A vitória do centro poderá influenciar o
pleito em 2026. Há boas chance de haver candidatos competitivos de perfil
moderado
A melhor notícia das eleições municipais é o
sinal de redução da polarização (entre extremos), tema já discutido aqui.
Somados, os partidos de centro — PSD, MDB, PP, União Brasil, Republicanos e
Podemos — conquistaram 19 capitais e 3.365 municípios.
Não que os partidos de centro sejam garantia
de gestão eficiente e probidade administrativa. Trata-se, na verdade, de ter um
ambiente mais propício ao diálogo, ingrediente fundamental para o avanço de
reformas.
Mesmo nos municípios, há importantes agendas
estruturantes a serem abraçadas, como nas políticas de uso e ocupação do solo,
na agenda ambiental, na educação infantil e nos marcos regulatórios para o
empreendedorismo. A missão de prefeitos vai muito além da zeladoria.
Lula e Bolsonaro ficaram em segundo plano nas campanhas.
Lula, que defende a necessidade de renovação
do PT desde a gestão Dilma, evitou maior exposição. Para alguns analistas,
pesam também as lições do grande empenho na eleição da ex-presidente.
O PT conquistou apenas uma capital, e com
margem muito estreita — Fortaleza, com grande empenho do ministro e
ex-governador do Ceará, Camilo Santana —, e 252 municípios.
Já Bolsonaro, bastante atuante, produziu mais
ruído do que casos de sucesso, ainda que o seu partido, o PL, tenha elegido
prefeitos em 4 capitais e 517 municípios.
O ex-presidente rivalizou com antigos aliados
que buscam posicionamento mais moderado. Em São Paulo, ensaiou apoio a Pablo
Marçal, em contraposição ao governador Tarcísio, que apoiou Ricardo Nunes. Em
Goiânia, confrontou o governador Caiado, cujo candidato, Sandro Mabel, saiu
vitorioso.
Em Curitiba, em oposição ao governador
Ratinho Jr, chegou a apoiar a candidata antissistema, Cristina Graeml, em vez
do vencedor Eduardo Pimentel, cujo vice era do seu partido.
Merecem comentários o baixo teto de
candidatos antissistema e o desconforto de eleitores com as estridências e
incoerências dos candidatos, como visto em São Paulo. Acrescente-se as
dificuldades enfrentadas por Guilherme Boulos para convencer os paulistanos de
sua moderação após um histórico extremista.
Os entrantes ou mesmo outsiders da política
tradicional contribuem para chacoalhar o status quo, o que é positivo. Mas há
limites. Os eleitores demonstram rejeitar excessos, inclusive os do passado,
guardados na memória. Os sinais de amadurecimento dos eleitores são recados
para as novas gerações de políticos.
Quanto à elevada abstenção (29,3%), ela pode
decorrer de fatores variados, não se resumindo ao desânimo de eleitores. Em
Fortaleza, com as pesquisas de intenção devoto indicando um placar bem
apertado, justamente entre PT e PL, a abstenção foi baixa (15,8%). Já em Porto
Alegre, com maior folga do líder, ela até aumentou (34,8%).
Não se descarta uma mudança de costumes após
a pandemia, quando a abstenção saltou bastante. Vale citar que ela costuma ser
mais alta no Sul e no Sudeste, regiões mais ricas, onde o custo de perda de
lazer por conta do voto pode ser considerado elevado pelos indivíduos.
Mais preocupante foi a baixa renovação
política, com índice de reeleição recorde (cerca de 80%). A explicação pode
estar no maior uso da máquina pública. Com caixa reforçado pelo aumento das
transferências federais nos últimos anos, houve aceleração de investimentos.
Além disso, houve crescimento dos fundos
eleitorais e das emendas parlamentares, particularmente importantes em
municípios menores, o que precisa ser atenuado.
Bons prefeitos podem e devem ser reeleitos,
mas em condições mais equilibradas de concorrência. Cabe maior atenção das
instituições democráticas, como o TSE, a essas distorções.
Ainda que sejam lógicas diferentes, a vitória
do centro poderá influenciar o pleito em 2026. Há boas chances de haver
candidatos competitivos de perfil moderado, demandando um reposicionamento do
PT.
Isso sem contar que a fórmula do partido de
estimular a economia para ganhar as eleições tem perdido eficácia.
Especialistas apontam que as classes médias, cada vez mais, atribuem o seu
sucesso profissional ao esforço próprio, e não às políticas governamentais. Já
a inflação mais alta é motivo de insatisfação com o governo.
O crescimento de partidos de centro poderá
influenciar a dinâmica no Congresso, inclusive na eleição na Câmara. Uma
oportunidade para uma eventual agenda reformista de Lula.
Ôôôô, Zeina! Que tal de "Centro" é esse, que só vota em proposta da Direita?
ResponderExcluirConcordo com o Laurindo Junqueira,o Brasil precisa de um ''Centro'' de verdade.
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