Folha de S. Paulo
É preciso combater a infiltração do poder
político pelo crime organizado, mas essa deveria ser tarefa de partidos, não da
Justiça
Vote em Arnaldinho do PCC. Não sei se
algum dos milhares de candidatos a prefeito ou vereador usou um slogan parecido
na campanha deste ano, mas não me surpreenderia se tivesse. São crescentes
os sinais de
infiltração do crime organizado em estruturas do Estado
brasileiro, notadamente em nível local.
Precisamos fazer algo a respeito, mas não penso que a resposta dada pela Justiça Eleitoral fluminense seja a solução. Este ano, contrariando entendimento do próprio TSE, desembargadores do Rio vetaram candidaturas de suspeitos de ligação com organizações criminosas, mesmo que não tenham sofrido condenação por isso.
A Justiça, isto é, o Estado, precisa operar
com um nível maior de formalidade. Quem não foi condenado não pode ter o
registro de candidatura negado. Controles prévios sem limites objetivamente
definidos podem ser profundamente autoritários.
O Irã é uma
ditadura, mas faz eleições competitivas.
Como? O TSE deles, o Conselho de Guardiães, um órgão composto por 12 clérigos e
juristas nomeados pelo aiatolá, se encarrega de excluir candidatos que o chefe
considere indesejáveis. Neste ano, 80 pessoas se apresentaram para o pleito
presidencial. Só seis foram autorizadas a concorrer.
Quem poderia fazer uma filtragem de modo
legítimo seriam os partidos políticos. Eles não precisam de justificativas
legais para explicar a quem dão legenda. É uma decisão baseada em conveniências
eleitorais e reputacionais. E é muito razoável que os partidos se valham de
critérios éticos para definir quem os representará nas urnas. Pega mal dar
legenda a bandidos.
Muito da atual crise da democracia pode ser
descrito como uma crise de curadoria. Até algum tempo atrás, partidos
selecionavam bem seus candidatos, veículos de comunicação tentavam garantir que
notícias publicadas tivessem base factual e a academia procurava dar
cientificidade às propostas e teses que lançava.
A internet e as redes sociais permitiram que
o público dispensasse essa curadoria. Pode ser mais democrático, mas também é
mais caótico e mais propenso a erro.
"Pega mal dar legenda a bandidos." Mas 10 partidos antes do PL deram legenda a Jair Bolsonaro. Que até tentou criar seu próprio partido antes de se filiar ao PL, mas foi absolutamente INCOMPETENTE até pra isto.
ResponderExcluirSimples assim.
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