O mundo hoje é o da renovação das fontes de energia: o petróleo do futuro é a indústria eólica ou solar, por exemplo. E ainda há a questão das plataformas digitais. Um dos caminhos pode ser uma proposta de controle coletivo dessas plataformas. Se o movimento anarquista foi a face política da primeira fase da Revolução Industrial, de corte ainda artesanal, o comunismo da Terceira Internacional foi a face política de um período em que predominava a indústria pesada, o chamado “chão da fábrica”. Hoje, com a automação, a robotização e a inteligência artificial (que por enquanto ainda repete o que está armazenado nos bancos de dados) há uma profunda alteração no exercício do trabalho. A própria geração de valor vai mudando e esse é um ponto ainda pouco estudado. Algumas das empresas mais fortes hoje se encontram no setor de informação, com seus trabalhadores do conhecimento. A base material tem sempre o que dizer e acredito que a própria Democracia irá se reformar muito em função dessas alterações.
Urge começar a construir uma política para
esse mundo novo justamente. Uma realidade que muda a cada dia, com a tecnologia
modificando a nossa maneira de viver e produzir em sociedade. Aí estão a
nanotecnologia, as experiências com carne a partir de células animais
cultivadas em laboratórios, a revolução da bionutrição, com base nos compostos
com organismos vivos ou derivados, aplicados ao solo e às plantas. Se o sonho
da sociedade sem classes continua – e era o sonho dos anarquistas e marxistas
da I Internacional, dos marxistas em determinado período da II Internacional e
dos comunistas da III Internacional –, as formas (ou os meios e os métodos)
para concretizá-lo não são mais as mesmas. Mas eu arriscaria a dizer que as
bases técnicas para uma sociedade sem exploração do homem pelo homem estão
lançadas. Precisamos criar, aí sim, as bases políticas, uma vez que as forças
produtivas não caminham sozinhas.
Os comunistas da antiga Tchecoslováquia foram
os que mais avançaram nessa linha, quando organizaram um colóquio para discutir
os impactos da revolução técnico-científica sobre o aparato produtivo, em 1965.
Radovan Richta publicaria pouco depois o riquíssimo material desse colóquio,
com mais de 40 intervenções. No campo capitalista, saiu primeiramente na
Itália, acredito eu, para em seguida ser publicado no Brasil. Para Radovan
Richta, o trabalho físico diminuía à medida que aumentava o trabalho intelectual.
Essa é uma contribuição teórica que enriquece os últimos escritos de Karl Marx,
a respeito da mecanização do trabalho. O pensador tcheco percebeu com muita
acuidade que a automação era a base
material para a edificação da sociedade sem
classes. Creio ser o caso de retomarmos o fio da meada, ou seja, o exame da
tecnologia - essa ciência das forças produtivas - e suas repercussões sobre a
sociedade atual.
O retrocesso verificado após o esmagamento da
Primavera de Praga impediu que essa questão fosse aprofundada no antigo campo
socialista. Mauro Santayana e Roberto Morena, que viviam em Praga nesse
momento, me fizeram relatos dramáticos sobre aquela situação, fazendo com que
eu a entendesse um pouco melhor.
Hoje, transcorridos exatos 56 anos da invasão
de Praga, devemos nos debruçar novamente sobre os avanços da tecnologia,
examinando as profundas transformações materiais que se verificam diante de
nós, se almejamos de fato mudar o mundo.
Com a palavra, os partidos políticos que se
reivindicam do Campo Democrático e Progressista entre nós. Afinal, eles têm um
papel importante na organização das lutas sociais, ocupando o espaço de um
intelectual coletivo.
*Ivan Alves Filho, historiador
🙄🙄🙄
ResponderExcluirTecnologia, o ópio dos tecnocratas e ideólogos.
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