sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Marcos Augusto Gonçalves - Meia direita, mas não abandona a extrema

Folha de S. Paulo

Governador tenta se deslocar para outra faixa, mas letalidade policial, entre outras situações, diz muito sobre seu jogo

O governador de São PauloTarcísio de Freitas, tem se projetado como nome da direita no cenário político-eleitoral. À frente do estado mais pesado da União, está bem amparado pelo escolado Gilberto Kassab, secretário de Governo e vitorioso das eleições municipais. O ex-ministro de Bolsonaro, que teve passagem pelo governo Dilma, tem se deslocado simbolicamente para a meia direita, mas não deixa de jogar pela extrema. Conhece a posição.

Um dos sinais, entre outros, de que continua a trafegar sem embaraço por esse corredor é o desempenho da segurança pública.

Levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz para esta Folha traduz a atuação policial em números. Para dar uma panorâmica, basta dizer que, nos primeiros oito meses deste ano, 441 pessoas foram mortas no estado por agentes das forças de segurança em serviço, contra 247 no ano passado no mesmo intervalo. Isso representa uma alta de 78%.

O governador estreou no ano passado com a Operação Escudo, encerrada com 28 mortos. Uma outra investida, a Operação Verão, terminou em abril deste ano com saldo de 36 vítimas fatais. Não se trata aqui de minimizar os ataques do crime organizado contra policiais e a necessidade de resposta firme do estado –que, aliás, como todos os demais no Brasil, juntamente com o governo federal, não consegue deter as facções que dominam presídios e se infiltram cada vez mais nas instituições.

A matança é cercada de justificadas suspeitas de abusos e pisoteamento da lei. Mas o que importa? Numa sociedade cindida pela desigualdade socioeconômica e racial, matar suspeitos que poderiam ser presos é considerado por muitos normal, se não desejável.

O Sou da Paz fez um recorte racial das vítimas que apontou seu viés antinegros. Nada de novo, na verdade. Não será surpresa se, nessa tragédia histórica, gatilhos da polícia também tiverem sido apertados por pretos e pardos. É dramático.

Inimigo das câmeras corporais, adepto de escolas cívico-militares, martelador enérgico de leilões de privatização, Tarcísio é padrinho da candidatura do prefeito Ricardo Nunes, que alistou, por indicação do ex-capitão, um ex-policial da Rota para vice. Mello Araújo já disse que a abordagem em bairros de classe média branca da capital tem de ser diferente daquela nas periferias.

Assisti faz pouco à série Cidade Deus, mais um spin off do grande filme. Por mais que se saiba e por mais que se trate de uma ficção, é instrutiva a reconstituição da estupidez e da completa falta de racionalidade no modo como as pessoas negras e pobres são tratadas pela polícia, pelas assim chamadas autoridades de segurança, pelo poder instituído, pelo Estado. A herança escravocrata está aí, viva, sem disfarces, sem nem sequer tentativa de disfarce.

Sim, isso não é apenas uma questão de governos de esquerda ou direita. São Paulo, contudo, ao longo de alguns períodos, foi capaz de implantar políticas públicas para tentar reduzir o padrão de barbárie, tornar a polícia mais técnica e, ao menos, levantar uma discussão sobre a segurança como serviço público universal prestado à sociedade. Algum resultado foi obtido, como mostraram indicadores. A escalada sob Tarcísio revela o abandono dessas questões e a adoção da letalidade como método.

3 comentários:

  1. Já li essa mesma coluna alguma centenas de vezes aqui mesmo no blog, só muda o nome do personagem, o candidato que no momento faz frente ao Lula em 2026, esse pessoal realmente não se tocam o quanto são repetitivos???? Nenhuma linha de qual o plano da esquerda, de Lewandowski, STF, essa galera toda está fazendo pra tentar acabar com o crime organizado, mas os candidatos da "extrema direita" só querem matar preto e não saem dessa linha.....

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  2. Excelente! "Inimigo das câmeras corporais, adepto de escolas cívico-militares, martelador enérgico de leilões de privatização, Tarcísio tem a letalidade como método"!

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  3. Chega ser artístico a criatividade da esquerda Produzir narrativas destrutivas pra quem elas acham que merece
    Enquanto isso escondem quem foi responsável direto pela maior corrupção pública do planeta calcula-se com desvio do dinheiro público brasileiro na casa de 1 trilhão de reais , a esquerda e o jornalismo passa pano no grande líder ex condenado Lula
    Foi arrancado da cadeia pelo STF Cumprindo 20 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro

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