O Globo
Equipe econômica formula saídas técnicas para a isenção até R$ 5 mil e a cobrança da alta renda
O projeto do Ministério da Fazenda é
apresentar este ano um pacote de corte de gastos. Várias propostas já estão
sobre a mesa do presidente Lula. Em relação à isenção do Imposto de Renda até
R$ 5 mil, a fórmula desenvolvida representará um custo de R$ 35 bilhões, que
será facilmente coberto pelo imposto mínimo para a alta renda. Só que isso ficará
para o ano que vem, para ser apresentado junto com toda a proposta de reforma
da renda. Foi o que eu apurei com fontes do governo.
Há muitos ruídos sobre todos esses assuntos, em parte porque ideias foram divulgadas antes de serem fechadas e, principalmente, aprovadas pelo presidente. São várias formas de cumprir essa promessa da isenção até R$ 5 mil. Uma delas custaria R$ 100 bilhões de perda de arrecadação. Seria subir todas as faixas da tabela do Imposto de Renda para acima desse valor. Outra alternativa seria manter as faixas atuais, mas conceder isenção para todos até o limite de R$ 5 mil. “Isso também custa caro, está na ordem de R$ 70 bilhões”, disse uma fonte. Por isso, a maneira de fazer conta muito. A escolha recaiu sobre a forma mais barata de cumprir essa promessa de campanha.
Será feito através de crédito. A pessoa que
ganha até R$ 5 mil recebe um crédito para descontar do que ele teria que pagar.
Depois disso, para não haver um salto para quem ganha um pouco acima desse
valor, haverá uma diminuição do crédito até uma faixa, que ainda não foi
escolhida, mas pode ser de R$ 7.500. A partir daí, o crédito desaparece. A
fórmula é a mesma do programa de redução de pobreza dos Estados Unidos, o
Earned Income Tax Credit. Isso reduz o custo para R$ 35 bilhões em números de
2026.
A forma mais cara de fazer isso, como
expliquei, é subir todas as faixas da tabela do imposto de renda começando a
tributar a partir da renda acima de R$ 5 mil. Assim todas as faixas de renda
seriam beneficiadas, mas o custo seria aqueles R$ 100 bilhões. A outra maneira
que chegou a ser estudada seria dar isenção para todas as rendas até essa
faixa. Ou seja, quem ganha R$ 10 mil ou R$ 100 mil não pagaria imposto até o
valor de R$ 5 mil. Mas isso aí, pelos cálculos da Fazenda implicaria numa
renúncia fiscal de R$ 70 bilhões. Por isso optou-se pelo crédito e uma redução
do valor desse crédito nos salários que forem um pouco maiores, para não dar um
salto na tributação.
E como cobrar dos mais ricos para fechar a
conta? As rendas mais altas acabam pagando muito menos do que a alíquota
nominal, através de planejamento tributário, ou aproveitando as muitas isenções
e deduções. Por exemplo, os milionários do Brasil ganham R$ 1 trilhão de renda
isenta através de dividendos ou participação em lucros e renda de aplicação
financeira isenta. Mas há muitas diferenças. Na empresa que recolhe pelo lucro
real, o dividendo já foi tributado em grande medida. Mas quem paga pelo lucro presumido
ou pelo Simples tem alíquotas efetivas muito menores do que a nominal. No
Simples, a alíquota de fato fica em 4% ou 6%. No presumido fica em torno de
11%. O que será feito é estabelecer uma alíquota mínima. Se o contribuinte tem
uma alíquota efetiva abaixo daquele mínimo, ele recolhe o imposto necessário
para chegar naquele percentual.
Essa fórmula de elevar a tributação de quem
recebe mais não conflita com outras propostas da reforma da renda. Normalmente
se diz que mudar o Simples é uma forma de taxar o pequeno empresário. Não é bem
assim, mas neste caso o que está sendo pensado nesse imposto mínimo não altera
o Simples. O regime será preservado e o que será tributado é a transferência da
empresa para o sócio.
Nas aplicações incentivadas, é a mesma coisa.
Hoje existem R$ 1 trilhão investidos em LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures
incentivadas. Esses papéis, hoje isentos, continuarão isentos, mas o que será
taxado é a transferência do ganho com eles. Se a pessoa ganha acima de R$ 1
milhão com essas aplicações, entrará no imposto mínimo. A pessoa pode investir
no título, só não poderá é ter R$ 1 milhão de renda isenta, me explicou a
fonte.
Mas nesse momento o que me disseram é que
estão focados em corte de despesas para apresentar um projeto que permita o
cumprimento da meta no ano que vem sem propostas de aumento de arrecadação. A
reforma do Imposto de Renda, com mais cobrança dos mais ricos, mais isenção nos
salários menores, e outras mudanças, será apresentada no ano que vem, para
valer em 2026, último ano do mandato.
Quem dera eu ganhasse 5.000 reais mensais!
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