domingo, 6 de outubro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Democracia é a melhor resposta para mediar conflitos

O Globo

Eleitorado que vai às urnas reúne demandas diversas, mas é possível — e necessária — convivência entre visões opostas

Neste domingo, quase 156 milhões de brasileiros estão aptos a exercer seu direito de cidadania, cumprindo o ritual democrático de comparecer às urnas para escolher os prefeitos que governarão sua cidade pelos próximos quatro anos, seguindo à risca o plano de governo apresentado durante as campanhas e chancelado pelo voto. Elegerão também os vereadores responsáveis por formular as leis que nortearão o dia a dia das cidades e de seus moradores. O voto é o momento que o cidadão tem para se fazer ouvir.

Desse eleitorado, 52% são mulheres, a maior parte está na faixa de 45 a 59 anos (25%) e quase metade (43%) vive na Região Sudeste. Trata-se de contingente diverso, que desafia o discurso polarizado, por vezes agressivo, que anima embates nas redes sociais, a propaganda eleitoral ou mesmo debates em que nem sempre prevalecem a civilidade, a sensatez e o tom propositivo.

Um retrato dessa diversidade e da convivência entre diferentes perfis e posições políticas no país está na série de reportagens da GloboNews “A cara do Brasil”, exibida também no Jornal Nacional nos dias que antecederam a eleição. Repórteres conversaram com moradores nas cinco regiões do país para conhecer suas expectativas, posições políticas e entender como convivem com quem pensa diferente. Fica claro que, longe do ambiente conflagrado das redes sociais, o entendimento é possível.

Em Manaus (AM), a família do ex-goleiro Edmilson Brabo, que se define como de direita, vive numa mesma vila. Foi a maneira encontrada para compartilhar as despesas, como explica o filho Abrahão Nicolas Brabo. “A gente precisa pagar conta de luz, conta de água, se alimentar todos os dias. O almoço às vezes é feito lá [na casa do pai], às vezes é feito aqui. A gente se une para ser família”, diz Abrahão. “A gente tem diferentes convicções políticas, mas convive de forma harmoniosa, como deveria ser a sociedade.” À pergunta sobre o que une o Brasil, Abrahão responde: “Todos nós temos um sonho de vencer, de ter um emprego, uma boa casa, um carro, poder trabalhar de forma digna”.

Também no Amazonas, a líder comunitária Raimunda Ferreira Viana, moradora da comunidade do Catalão, localizada no município de Iranduba, a cerca de 40 quilômetros de Manaus, conta que o agrupamento, que reúne 400 moradores em casas flutuantes no Rio Negro, mantém um grupo de WhatsApp em que as diferenças políticas não importam: “Tem de tudo: esquerda, direita, direita, esquerda. Todo mundo sabe quem é quem. Tu é esquerda, tu é direita. Na eleição presidencial, começavam com brincadeiras. [Eu dizia] Não, vamos deixar para lá. A gente nunca se desentendeu”.

Em São Paulo, os motofretistas Luiz Ricardo Lira da Silva Souza e Eliel da Silva Estêvão Bezerra têm posições políticas distintas, mas isso não afeta a convivência dos dois. “É filho brigando com o pai, pai com o sobrinho que não fala com o tio por causa de questões ideológicas que não vão mudar em nada nossa vida. Independentemente se ele é de direita, se eu sou de esquerda, se ele tem uma visão A e eu uma visão B, no final estamos no mesmo barco”, diz Eliel. Luiz Ricardo afirma que sua única bandeira é a do Brasil: “Só tem uma pauta que eu defendo, a do ser humano. Que se criem leis para todos nós, não se crie uma lei para uma classe, uma minoria”.

Em São Luiz (MA), a sensação de insegurança é queixa comum da síndica profissional Nara Nunes e do coreógrafo e dançarino Egnaldo Gomes, mas os caminhos apontados como solução são diferentes. “Quanto menos crianças nas ruas, quanto menos jovens nas drogas, quanto menos pessoas em vulnerabilidade social, menos pessoas nós teremos na criminalidade”, diz Egnaldo. Nara defende mais rigor no policiamento: “Eu já tive situações em que o ladrão entrou três vezes no meu apartamento. Levou notebook, celular. Tive de botar grade”.

Esse eleitorado diverso, complexo, repleto de nuances, é cortejado por 15.573 candidatos a prefeito em 5.569 municípios brasileiros e por mais de 431 mil postulantes às 58 mil cadeiras nas câmaras municipais. O desafio desses políticos é oferecer respostas satisfatórias às demandas de diferentes naturezas que afligem os eleitores. Elas não são iguais — e nem poderiam ser, diante de um país com tantos contrastes. A despeito de problemas comuns, as prioridades de Raimunda na comunidade flutuante do Catalão não são as mesmas dos motofretistas Eliel e Luiz Ricardo em São Paulo.

O pavimento esburacado, a rua que alaga toda vez que chove, a iluminação precária que traz insegurança, o ônibus que demora a passar, o posto de saúde que não funciona, a creche prometida que não veio, a escola sem professor ou o lixo acumulado nos logradouros não são questões de direita, de esquerda ou de centro. São problemas concretos que precisam ser resolvidos, independentemente de ideologias. Os serviços têm de funcionar, mesmo com orçamentos apertados. Por isso mesmo, exigem gestões eficientes.

Não há uma fórmula pronta para lidar com a miríade de demandas de eleitorado tão plural e multifacetado. Mas inegavelmente os candidatos deveriam se mirar no exemplo de convivência que vem dos eleitores comuns. Não foi sempre isso o que se viu na campanha de algumas cidades. A reportagem da GloboNews e do JN mostrou que os candidatos têm muito a aprender. Divergir e propor ideias, sim. Estimular o ódio, jamais.

SP tem disputa agressiva entre 3 candidatos vulneráveis

Folha de S. Paulo

Boulos e Marçal têm mais rejeição que intenções de votos, segundo o Datafolha; Nunes não alavanca aprovação a sua gestão

Por simbolismo, mas também por motivos concretos, a eleição para prefeito da maior cidade brasileira tende a ganhar dimensões nacionais. Nela costumam se envolver as principais forças políticas do país —como ocorre agora. Seus vencedores, e mesmo alguns dos derrotados, são tidos como candidatos naturais a voos mais altos.

A disputa deste ano em São Paulo, que terá sua primeira rodada decisiva neste domingo (6), mostrou-se particularmente árdua, agressiva e, ainda neste momento, imprevisível. Os três candidatos que a encabeçam tiveram suas fragilidades, até mais do que suas forças, expostas à exaustão durante a campanha.

Na véspera da abertura das urnas, o Datafolha aponta, mais uma vez, a liderança compartilhada entre o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), com 27% das intenções de voto, o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), com 24%, e o neófito Pablo Marçal (PRTB), que também marca 24%. Em votos válidos, são 29%, 26% e 26%, respectivamente.

Do trio, só Nunes não conta com menos eleitores dispostos a endossar sua candidatura do que avessos a ela —na margem de erro. Sua taxa de rejeição de 25% o torna favorito num segundo turno. Mas chegar lá será difícil.

Mesmo contando com a máquina pública e dinheiro em caixa, com quase dois terços do tempo de propaganda em rádio e TV, com o apoio decidido do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e nem tão decidido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o prefeito não consegue mais do que modestos índices de aprovação à gestão da cidade.

Boulos, derrotado no segundo turno há quatro anos, ampara-se na aliança com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Numa cidade onde é expressiva a rejeição a teses de esquerda, o psolista tem feito esforços pouco frutíferos para reduzir o contingente de 38% que dizem não votar nele em nenhuma hipótese.

Embora mantenha o ataque ao bolsonarismo, procurou se afastar de bandeiras de seu partido, da defesa da ditadura venezuelana até o direito ao aborto. Suas críticas à atual administração municipal têm mais teor gerencial do que ideológico.

Grande surpresa da campanha, Marçal atraiu votantes bolsonaristas, evangélicos e antissistema com uma combinação de conservadorismo religioso e provocações não raro caluniosas dirigidas aos adversários. Sem acesso à propaganda oficial, valeu-se das redes sociais e do número recorde de debates.

Seu comportamento arruaceiro também lhe rendeu a repulsa por parte de mais da metade (53%) do eleitorado paulistano —e o ex-coach não parece reunir ideias para mudar esse quadro.

Vislumbram-se, pois, três cenários possíveis de segundo turno, cada qual com implicações políticas muito diferentes. Em qualquer hipótese, o cidadão paulistano merece um escrutínio mais aprofundado dos planos efetivos dos candidatos para a cidade.

Estado precisa assegurar direitos no cárcere

Folha de S. Paulo

Relatório revela situação degradante nas prisões de SP; urge ação integrada entre secretarias para enfrentar problema

A situação no cárcere paulista se assemelha a um roteiro de filme de terror, e não apenas devido à superlotação das unidades prisionais. É o que mostra o relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT), órgão federal independente previsto na legislação brasileira.

Divulgado na última terça-feira (1º), o documento é resultado de vistorias realizadas por 11 peritos em seis presídios, duas unidades socioeducativas e três instituições de saúde mental no estado em outubro de 2023.

Foi encontrada uma miríade de problemas. Alguns deles, estruturais, são recorrentes e conhecidos, mas não menos impactantes: mofo nas celas, falta de ventilação ou luz, calor extremo e superlotação a ponto de detentos sentirem falta de ar, além de exposição a ratos e baratas.

Outros, de ordem correcional, revelam abuso de força para disciplinar os presos, como uso de canos de ferro, bombas de gás e spray de pimenta por agentes penitenciários —e até mesmo um local chamado "masmorra", onde adolescentes internos na Casa São Paulo seriam algemados e submetidos a agressões.

Também é preocupante o descaso com a saúde nas unidades prisionais, que vai desde o fornecimento de comida estragada até a ausência de medicamentos e de atendimento médico. São casos de presos com membro necrosados, fratura exposta à espera de cirurgia por três anos, em inanição por causa de maxilar quebrado e presidiárias grávidas sem acesso ao pré-natal.

O relatório aponta, ainda, o encaminhamento de pessoas com transtornos mentais para presídios comuns e recomenda o fim da Unidade Experimental de Saúde, que nem sequer seria credenciada no SUS, segundo o MNPCT.

O órgão estipulou 341 recomendações ao governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para enfrentar problemas nas áreas de saúde, assistência social e jurídica e de direitos humanos. Entre elas, está a criação de um sistema estadual de prevenção e combate à tortura que possa realizar vistorias periódicas sem aviso.

Tal dispositivo em unidades federativas, que pode se dar na forma de comitês, está previsto na lei de 2013 que instituiu o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura —estados como Rio de Janeiro, Pernambuco e Roraima já têm iniciativas do tipo.

De todo modo, seja por meio de órgão específico ou de ações integradas, urge melhorar as condições de vida nos presídios para garantir os direitos básicos dos detentos. É o que a lei exige e cabe ao governo paulista cumprir.

Voto não é ‘curtida’

O Estado de S. Paulo

Quando a esbórnia da campanha acabar, o vencedor terá de administrar uma cidade gigantesca com milhões de moradores, não um perfil irresponsável de rede com milhões de seguidores

Ao irem às urnas hoje, os eleitores devem ter em conta que governar São Paulo não é um “experimento” tampouco um “laboratório” para coisa alguma. Idoneidade moral, capacidade administrativa, habilidade política, prudência e espírito público são atributos indispensáveis para uma boa gestão de qualquer cidade. Em uma megalópole como São Paulo, a falta de uma dessas competências pessoais em seu prefeito – apenas uma – já imporia custos severos aos munícipes que mais dependem do poder público para ter acesso ao básico para uma vida digna.

O alerta é necessário porque a campanha do primeiro turno foi marcada não só pela indigência dos debates, mas principalmente pela desmoralização do próprio eleitor, reduzido à condição de seguidor de rede social cuja “curtida” foi disputada literalmente a tapa por alguns candidatos absolutamente desqualificados, sobretudo o sr. Pablo Marçal.

Tal comportamento contraria muitos dos valores que este jornal defende. Para o Estadão, a política é essencialmente a persuasão pela palavra, num confronto de ideias regulado por leis e por padrões mínimos de civilidade. É dever dos que disputam cargos eletivos preservar a sanidade do espaço público, em que todos se submetem aos mesmos limites, em nome do bem comum. O exercício do poder por parte de quem não conhece esses limites carece de legitimidade.

São Paulo não admite despreparo, muito menos o exercício de uma vaidade desmedida e irresponsável. Basta sair às ruas e, para onde quer que se olhe, lá estarão os inúmeros desafios e potencialidades desta grande cidade a reclamarem a dedicação exclusiva e a competência de quem se dispõe a administrá-la. Hoje, milhões de eleitores vão às urnas para escolher prefeitos e vereadores, não influenciadores ou coaches. Escolhas políticas devem decorrer de uma detida análise da experiência dos candidatos, suas propostas e suas associações, haja vista que geram consequências por, no mínimo, quatro anos.

Aqui vivem cerca de 11,5 milhões de habitantes, uma população maior que a de alguns países. Para 2025, prevê-se um orçamento de quase R$ 120 bilhões, montante recorde na história da cidade de São Paulo. O cuidado com essas pessoas e o bom manejo dos recursos públicos exigem dos candidatos à Prefeitura um plano de governo digno do nome, vale dizer, um diagnóstico preciso dos problemas urbanos e a formulação das políticas públicas mais indicadas para resolvê-los.

Isso soa óbvio, mas é algo que o Estadão se vê compelido a relembrar neste dia crucial para o futuro da capital paulista porque esta, afinal, é a eleição que foi parar numa delegacia de polícia. É possível inferir que os paulistanos conheçam relativamente bem os candidatos à Prefeitura, mas quase nada foi dito sobre ideias para governar a cidade mais rica do País. Como é notório, ofensas pessoais e violência física deram o tom de uma campanha absolutamente estéril.

A despeito de sua pujança econômica, São Paulo ainda é uma cidade com problemas muito sérios na oferta de serviços públicos nas áreas de saúde, educação, transporte e zeladoria urbana – sem falar, claro, na segurança pública. É responsabilidade do governo do Estado prover a segurança aos cidadãos, mas é fundamental o papel que a Prefeitura exerce na redução dos indicadores de violência. Ou seja, São Paulo precisa de boa governança.

E a governança de São Paulo exige habilidade política, uma qualidade que obviamente falta aos aventureiros cuja única promessa de campanha é destruir o “sistema”, na base da ofensa, da violência e da desfaçatez. Certamente há eleitores para os quais a política é intrinsecamente corrupta e abjeta, razão pela qual se encantam com os que pretendem desmoralizá-la. Mas, quando a esbórnia da campanha acabar, o vencedor terá que administrar uma cidade gigantesca e complexa com milhões de moradores, e não um perfil irresponsável de rede social com milhões de seguidores.

Então, nesse momento, o voto dado de maneira inconsequente cobrará seu preço.

O autoritarismo custará caro ao México

O Estado de S. Paulo

Ambições autocráticas de Obrador e seus acólitos, incluindo a nova presidente, estão destruindo não só as liberdades políticas dos mexicanos, mas suas oportunidades econômicas

Por 70 anos o México viveu sob o regime de um partido único, sem os contrapesos do Legislativo e do Judiciário. Nos anos 90, as pressões de uma sociedade civil complexa, educada e sedenta de pluralismo forçaram o Partido Revolucionário Institucional (PRI) a fazer concessões e reformas estabelecendo instituições eleitorais e judiciais independentes. Agora, o país caminha a passos largos para hipertrofiar o Executivo e concentrar poder no partido incumbente, o Movimento Regeneração Nacional (Morena), fundado por Andrés Manuel López Obrador (AMLO), que no dia 1.º encerrou seu mandato presidencial de seis anos, passando a faixa para sua pupila, Claudia Sheinbaum. Um partido único está sendo reinstaurado – só que desta vez pode ser pior.

O PRI mutilou as liberdades políticas dos mexicanos e controlava as eleições, mas era disciplinado e construiu instituições e burocracias profissionais. A agenda do Morena vai na direção oposta.

AMLO sufocou o Instituto Nacional Eleitoral (INE) e manipulou as regras para favorecer seu partido. Nas eleições de junho, elegeu Sheinbaum com ampla margem. A coalizão de esquerda liderada pelo Morena obteve 54% das cadeiras na Câmara dos Deputados, mas um INE já aparelhado distorceu as regras de representação, concedendo-lhe 74% das cadeiras e uma supermaioria no Senado.

Em setembro, quando AMLO ainda era presidente e a nova legislatura assumiu, ele tentou aprovar 18 emendas constitucionais para, entre outras coisas, eliminar agências independentes, banir parcerias de estatais com a iniciativa privada, ampliar a ingerência das Forças Armadas na segurança pública, erguer barreiras a investimentos e ao comércio internacional e reduzir prerrogativas de partidos minoritários. O tempo não foi suficiente para aprovar o pacote, mas Sheinbaum promete encaminhá-lo, e a mais perniciosa das reformas, a do Judiciário, foi aprovada.

Em três anos, todos os magistrados e ministros da Suprema Corte serão removidos, e passarão a ser eleitos por voto popular. Os candidatos serão pré-selecionados pelo Executivo e o Legislativo, as exigências profissionais serão mínimas e um “tribunal disciplinar” terá poderes para punir os indóceis. Além do poder oficial, o poder paralelo do narcotráfico terá amplas oportunidades de influenciar as escolhas através do dinheiro e da violência.

AMLO e seus acólitos replicam o manual de outros candidatos a déspotas, como Viktor Orbán, na Hungria. Nesses casos, a democracia não é derrubada à força de golpes e tanques na rua, mas por erosão intestina. O México mostra que essa destruição da democracia por meios democráticos não é prerrogativa de alguma região ou ideologia. Pode acontecer na Europa ou América Latina, à esquerda ou à direita. Mas nenhum país é uma ilha, muito menos um país grande, mas em desenvolvimento, como o México, ou um país desenvolvido, mas pequeno, como a Hungria. O autoritarismo tem custos, e já se fazem sentir.

A União Europeia tem encontrado meios de neutralizar e isolar Orbán. As políticas de AMLO estão sangrando a economia mexicana. Seu governo teve as piores taxas de crescimento neste século: o Banco Central prevê 1,5% neste ano e 1,2% no próximo. O peso está em queda e o déficit está acima de 5%, o maior desde os anos 80. Agências de risco advertem para um aumento do prêmio, e a mídia e o governo dos EUA, país que tem US$ 144 bilhões investidos no México e recebe 80% de suas exportações, alertam que a reforma judicial não só mina a proteção de direitos humanos e o acesso imparcial à justiça, como inviabiliza os negócios. Outras reformas no pacote do Morena violam o acordo de livre comércio com EUA e Canadá, que expira em 2026 e precisa ser renegociado.

Uma parcela da população mexicana está revoltada. Se não for capaz de mobilizar seus conterrâneos e reverter a destruição do Estado Democrático de Direito em curso, seu país provará uma das mais amargas lições da História: que a combinação da concentração do poder político com a penúria econômica leva inexoravelmente ao recrudescimento da tirania ou à ruptura pela anarquia.

EAD carece de regras

O Estado de S. Paulo

Única opção de ensino para milhares, modalidade deve ser aperfeiçoada, não demonizada

O mais recente censo da educação superior revela que o número de matrículas universitárias no Ensino a Distância (EAD) praticamente equivalia ao do ensino presencial em 2023 – dos 9,9 milhões de estudantes do ensino superior, 4,9 milhões estavam no EAD, ante 5,06 milhões no presencial, de acordo com levantamento recém-divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Os dados demonstram que é questão de tempo para que o EAD ultrapasse o presencial, razão pela qual demonizar a modalidade, que para muitos brasileiros é a única opção de avançar nos estudos, é contraproducente. Uma devida regulação e inspeção dos cursos, contudo, é mais do que necessária.

É verdade que o contato pessoal, essencial em diversas esferas da vida, é ainda mais relevante quando se está aprendendo; a proximidade entre professor e aluno, entre os próprios estudantes e o debate de ideias e conceitos são amplamente mais ricos no modelo presencial. Mas também é verdade, e a pandemia de covid-19 é prova disso, que as ferramentas online evoluíram imensamente, sendo possível oferecer conteúdo sólido e de qualidade via EAD. Some-se a isso o contexto brasileiro, de inexistência de estabelecimentos de ensino em regiões onde há demanda ou de alunos que têm de escolher entre se locomover ou estudar.

Daí a necessidade de que o MEC atue de modo a garantir um EAD sólido e de qualidade, e não apenas buscar limitar a opção. Não parece ser o que vem ocorrendo. O ministro da Educação, Camilo Santana, não participou da divulgação do censo, pois estava ocupado com a campanha para as eleições municipais em seu Estado, o Ceará. Já o secretário executivo do MEC, Leonardo Barchini, afirmou que a pasta é contra o EAD, e que as matrículas na modalidade estão explodindo “por conta dessa regulação que estamos revendo hoje”.

A regulação, de fato, não vem avançando muito. “A gente tinha um documento de 2007 e precisava rever toda essa situação”, disse a secretária de regulação do MEC, Marta Abramo, alegando que a pasta está reavaliando parâmetros de qualidade do segmento EAD, sem detalhar quando esses padrões serão divulgados.

O ministro, agora ocupado com compromissos outros, havia dito no ano passado que o MEC criaria uma agência para regular o ensino superior. Em janeiro deste ano, em entrevista ao Broadcast/Estadão, Santana declarou que o governo pretendia “criar um marco regulatório para a educação a distância”; proposta que nunca saiu do papel. A pasta afirma que está “finalizando um projeto de lei” a ser enviado ao Congresso até o fim do ano, talvez sem atentar que já estamos no último trimestre de 2024.

De concreto, apenas uma resolução de maio do Conselho Nacional de Educação (CNE) determinando que cursos de licenciatura EAD devem oferecer 50% das aulas de forma presencial. Há uma preocupação especial, e legítima, com a formação de professores, já que o curso de Pedagogia lidera em matrículas EAD. Mas, a julgar pelas prioridades do ministro e pela demora no envio de propostas ao Congresso, o avanço desse modelo seguirá desregulado.

Eleições municipais são alicerce da nossa democracia

Correio Braziliense

Se olharmos para a maioria dos nossos vizinhos e outros países, sobretudo para a Venezuela, essa é uma prova admirável de que a democracia brasileira é robusta

Hoje, 155,9 milhões de eleitores estão aptos a comparecer às urnas e eleger seus prefeitos e vereadores. Cerca de 400 mil candidatos, sendo 13.997 a prefeito, e 379.320 a vereador disputam as eleições.  Eventualmente, cidades com mais de 200 mil eleitores, entre as quais as capitais, realizarão um segundo turno, caso o candidato mais votado neste domingo não tenha alcançado 50% mais 1 dos votos.

Não é trivial realizar num só dia eleições em 5.569 municípios espalhados pelo país. São 500.183 seções eleitorais que precisam ser instaladas com segurança e mesários acima de qualquer suspeita, cada qual com sua eletrônica, que garante o sigilo do voto e apuração à prova de fraudes, com a divulgação dos resultados no mesmo dia. Se olharmos para a maioria dos nossos vizinhos e outros países, sobretudo para a Venezuela, essa é uma prova admirável de que a democracia brasileira é robusta.

A propósito, sua resiliência vem sendo posta à prova, seja pelo questionamento da urna eletrônica, seja pelas tentativas de tumultuar ou desrespeitar a vontade das urnas. Entretanto, a vontade popular vem sendo vitoriosa. Essa segurança no processo eleitoral é um fator de inclusão da sociedade no processo político, com destaque para as mulheres. Hoje, elas representam 52% do total de eleitores.

A região Sudeste é a que concentra o maior eleitorado do país: 66.906.335 (quase 43% do total). Em seguida, vêm a região Nordeste, com 43.302.692 (27,7%); a Sul, com 22.969.108 (14,7%); e a Norte, com 12.987.166 (8,3%). A região Centro-Oeste, com 9.747.379, representa pouco mais de 6% do total do eleitorado. São Paulo continua a ser o maior colégio eleitoral do Brasil, com 34.403.609 eleitores (22%).

O voto é obrigatório para 135,3 milhões de eleitores. A maior parte está na faixa etária de 45 a 59 anos, que somam 3,8 milhões de pessoas. Além das mulheres, como destacamos acima, nota-se o crescimento do eleitorado jovem, na faixa etária de 18 a 24 anos, que soma 18, 3 milhões de pessoas (quase 12%). Entretanto, o voto é facultativo para 20,5 milhões, no caso, pessoas analfabetas, jovens de 16 e 17 anos e maiores de 70 anos.

Esses números, de forma inequívoca, tornam muito forte a nossa democracia, bem como a existência de partidos enraizados na sociedade e um sistema eleitoral dos mais modernos do mundo. Mesmo que eventualmente, aqui ou ali, não haja tranquilidade no pleito. A violência política ainda é uma realidade em muitos lugares, existe manipulação e propagação de mentiras nas redes sociais e ainda há no país locais onde a liberdade dos eleitores está ameaçada pela existência de grupos armados e criminosos, que ameaçam candidatos concorrentes, eleitores e mesários, mas ninguém vai às urnas puxado pelo nariz.

A propósito, a ministra Cármen Lúcia, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), manifestou sua preocupação com a "manipulação da informação" e uma espécie de "cabresto digital" nas redes sociais. Apesar de a tecnologia ter permitido o aperfeiçoamento e a segurança do processo eleitoral brasileiro, segundo a ministra, existe também o lado do mal: "O algoritmo tem interesses e não liga para a vida dos outros. A não ser para aquele que o domina. Temos de lembrar, somos seres humanos, não somos máquinas, mas com ela, introduziu-se a desinformação e o abuso de algoritmos", disse a ministra. Nada disso, porém, desfaz o fato de que as eleições no Brasil são a grande festa da democracia. Vote consciente.

 


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