O Globo
Lula se vê diante de um cenário em que o PT disputa quatro segundos turnos em capitais, mas vai enfrentar uma pedreira em todos eles
A força mostrada pelo bolsonarismo-raiz e
pelas siglas do Centrão nas urnas neste domingo coloca diante de Lula e da
esquerda a necessidade urgente de renovar suas lideranças, repensar suas
prioridades e reavaliar a forma com que se comunica com o conjunto da
sociedade, sob pena de uma disputa muito dura em 2026.
Se é verdade que pleitos municipais não são
termômetros exatos nem da avaliação de governos centrais nem das chances de
partidos e lideranças políticas para dali a dois anos, ignorar os sinais também
não é inteligente.
Jair Bolsonaro, dois anos depois de perder a Presidência, um ano depois de ser declarado inelegível e prestes a enfrentar um acerto de contas com a Justiça pelas tentativas de golpe quando ainda no poder e, depois, no 8 de Janeiro, foi um padrinho mais eficiente do que as pesquisas permitiam antever.
Mostrou força na reta final em cidades
importantes, como Belo Horizonte e Goiânia e, mesmo tendo estado ausente o
tempo todo em São Paulo, vai dar um jeito de dizer que Ricardo Nunes (MDB) só
foi ao segundo turno graças à live de má vontade que fez na noite da última
sexta-feira.
Lula se vê diante de um cenário em que o PT
disputa quatro segundos turnos em capitais, mas vai enfrentar uma pedreira em
todos eles. Em dois, terá embates diretos com o PL. E, em São Paulo, se a
inflamação Pablo Marçal desviou um pouco o foco da polarização stricto sensu,
no segundo turno ela está posta e será a atração principal das disputas no
país.
Independentemente desses resultados, ficou
evidente a desconexão da esquerda com segmentos inteiros da população, dos
evangélicos ao empresariado, passando pelo enorme contingente de empreendedores
individuais dos grandes centros urbanos que já tinham deixado claro que não
querem saber do blablablá sindicalista dos anos 1980 que o PT tem a oferecer,
mas agora berraram isso nas urnas eletrônicas.
O que Lula vai fazer? Dar de ombros para esse
clamor e deixar que marçais ainda mais ruidosos e dispostos a subverter a
política conquistem o monopólio de interlocução com esse eleitorado,
eminentemente jovem?
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, fez uma
análise realista da encruzilhada vivida pela esquerda em entrevista ainda na
tarde de domingo, quando atestou o desastre, por exemplo, da dificuldade de
Lula e do PT de chamar a Venezuela do que ela é, uma ditadura acabada.
A evidência de que muitos partidos que estão
aboletados no governo inundaram campanhas por meio das emendas Pix e, agora, se
preparam para aumentar sua representação na Câmara e, talvez, para dar adeus a
Lula na disputa à reeleição também deveria ser um motivo de alerta máximo na
condução da articulação política de agora em diante.
No Rio,berço eleitoral de Bolsonaro,o bolsonarismo ruiu,São Paulo,onde Lula e Haddad venceram,foi o lulismo que derreteu... Nada disso,a maioria vota sem pensar em ideologia conceitual,vota em tal candidato porque vai com a ''cara da pessoa''.
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