Folha de S. Paulo
Governo ri do mercado, mas Moody's elogia
reformas e pede contenção de gasto social
Uma dessas firmas que dão nota para o crédito
de governos e empresas concedeu um
ponto positivo para a nota da dívida pública do Brasil, como se
sabe. Se ganhar mais um ponto dessa firma, da Moody’s, o empréstimo de dinheiro
para o governo federal deixa de ser "especulativo" para ser "investimento".
Parte de Lula 3
ficou contente com o mimo; alguns lulistas, petistas e esquerdistas também,
além de tripudiarem sobre "o mercado". Os donos do dinheiro, credores
do governo, obviamente discordam da Moody’s, pois as taxas de juros aumentaram
horrores desde abril deste ano.
A fim de ganhar outro ponto e ser promovido de categoria, o governo teria de melhorar a "credibilidade da situação fiscal", ainda "limitada". Isto é, seria preciso conter gastos obrigatórios, tais como os de Previdência, saúde e educação.
Diz ainda a Moody’s que a melhora do
desempenho econômico se deveu em parte a "difíceis reformas",
"aprovadas por sucessivos governos", entre elas a autonomia do Banco Central,
a trabalhista e restrições a intervenções em empresas estatais. Como se vê, não
parece um programa petista raiz. Logo, a comemoração tem algo de tristemente
cômico.
Ainda assim, foi também divertido ler, ouvir
ou ver sorrisos amarelos, constrangimentos, desprezos e raivas de comentaristas
ou porta-vozes de "o mercado". Crescimento
do PIB importa, relembra a Moody’s.
Empresas que dão nota de crédito não raro
aparecem para matar os feridos na batalha (rebaixam a nota de quem já está no
bico do corvo) ou cumprimentar quem já arrumou as contas e paga menos juros.
Além do mais, como diz o lugar-comum verdadeiro, tais empresas foram cúmplices
da lambança histórica do desastre financeiro de 2008.
Mas, goste-se ou não, a opinião delas tem
certa relevância. Enfim, não se vai reclamar de quem falou bem de você para o
endinheirado a quem se vai pedir empréstimo, né.
Nos últimos 12 meses, o custo real de emissão
de dívida federal pelo Tesouro (tomar novos empréstimos) ficou em 6,4% ao ano,
receita de crise no futuro. A taxa de juros implícita real da dívida inteira,
em 6,2%. A dívida
bruta do governo geral equivalia a 78,5% do PIB em agosto. Quando
começou Lula 3, estava em 71,7%. Foi uma alta de 6,87 pontos percentuais,
equivalente a R$ 778 bilhões, mais típica de momentos de desastre, que ora não
há.
As taxas de juros subiram ainda mais porque
quem empresta ao Tesouro Nacional não acredita que o governo vá tomar medidas a
fim de conter a alta da dívida, o que depende também da contenção do aumento de
gastos obrigatórios, em especial de INSS, educação e saúde (atenção: conter o
aumento, não cortar).
Sim, o déficit federal vai diminuir muito
mais do que o previsto por "o mercado", até porque também o crescimento
do PIB foi muito maior do que o previsto por "o mercado".
Mas há um aumento de despesa engatilhado, o que vai causar problemas mesmo se a
receita de impostos crescer.
Depois do tumulto crítico de meados do ano,
Lula 3 pareceu mais conformado em seguir o conselho da Fazenda e acertar as
contas. A dúvida é se vem reforma do gasto obrigatório em 2025.
A "possibilidade de crescimento firme e
regular" e "a implementação de medidas quanto ao gasto"
permitiriam a melhora da nota do governo do Brasil e reduziriam custos de
empréstimos. Não é preciso da Moody’s para saber disso.
Lendo e aprendendo.
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