quinta-feira, 3 de outubro de 2024

William Waack - 2026 será diferente

O Estado de S. Paulo

A eleição municipal paulistana indica desgaste das bolhas

O primeiro turno da eleição municipal paulistana traz um problema para Lula e Bolsonaro, os donos das duas grandes bolhas. Eles parecem menos influentes do que se supunha.

O cenário mais provável de um segundo turno continua sendo o da polarização “normal” da política brasileira (é considerada pequena a probabilidade de que o candidato da esquerda não chegue lá). Ainda assim, permanecerá a sensação de desgaste das duas figuras.

O de Lula é mais evidente até mesmo na sua disposição física de encarar campanhas domésticas, diante de um mundo lá fora a ser salvo por ele. A questão central para o petista, porém, é o notável enfado que causam suas ideias antigas e seu apego a um passado que existiu sobretudo na sua própria cabeça.

O desgaste de Bolsonaro é produzido não só pela perspectiva de longas batalhas jurídicas morro acima sem chances de se tornar elegível (talvez escape da cadeia). Ele deixou de ser “novidade” na vitrine das surpresas políticas e sua notória dificuldade de se concentrar em eixos claros de atuação política diminuiu consideravelmente sua capacidade de ungir candidatos.

É bastante óbvio que políticos disputando eleições têm de se referir de uma forma ou outra aos donos das grandes bolhas. Mas é muito mais pelo “constrangimento” que tanto Lula quanto Bolsonaro ainda têm capacidade de criar.

Reza a doutrina que “toda política é local”, o que parece ter menos validade quando é imenso o número de eleitores e são muito complexos os fatores econômicos e sociais, que refletem e influenciam condições “nacionais”. Nesse sentido, a eleição municipal paulistana é preocupante para Lula e Bolsonaro.

Ela sugere algum grau de dissolução da calcificação das bolhas descritas por analistas e acadêmicos, e calçadas em convincente material empírico. O mais explícito foi o racha na bolha da “direita”, onde ficou claro que Bolsonaro não foi capaz de consagrar um sucessor inconteste. Mas também na esquerda, com o candidato em São Paulo se esforçando para atingir um eleitorado além do tradicional reduto petista, no que Lula tem se mostrado incapaz.

Há padrões “novos” incorporados na luta política que nem Lula ou Bolsonaro estão sendo capazes de “conduzir”. Em parte são valores como empreendedorismo ou religião que as estratégias de esquerda têm dificuldades de entender e atingir.

Em parte são uma busca por direção, no campo de centro-direita, que não se enxerga no bolsonarismo. É difícil prever como esses padrões impactarão as eleições de 2026, mas o que acontece em São Paulo indica que serão diferentes do que se pensava ainda no ano passado.

 

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